IFPI-SRN cria curso de extensão sobre Inclusão e Acessibilidade com apoio da comunidade científica local

Articulação foi feita pela SBPC-PI junto às associações de pessoas com deficiência da região para comemorar os 10 anos da Lei Brasileira de Inclusão

O campus de São Raimundo Nonato do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI) oficializou as diretrizes para a criação de um curso de extensão sobre inclusão e acessibilidade. A iniciativa nasceu por meio da mobilização da comunidade local, incluindo a participação da Secretaria Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência no Piauí (SBPC-PI), como parte das comemorações de 10 anos da Lei Brasileira de Inclusão

A ideia nasceu quando a secretária regional da SBPC-PI, a professora Rute Maria Gonçalves de Andrade, começou a atuar com a Associação Sul-Piauiense de Deficiência Visual, a ASPIDEV. No primeiro momento, Andrade organizou as iniciativas que a associação pensava em executar para conscientização das pessoas. Foi assim que descobriu o projeto de um Selo de Acessibilidade que seria desenvolvido com outras duas entidades regionais voltadas às pessoas com deficiência.

“Elas estavam organizando esse selo de acessibilidade em homenagem a uma mulher com deficiência que teve um protagonismo bastante significativo aqui na região e que já faleceu, porque ela tinha uma doença degenerativa, o nome dela era Odete Castro. E esse selo seria para as empresas que se adequassem em relação à questão da acessibilidade e inclusão. Só que, ao organizar a ideia, começamos a nos questionar: ‘como é que a gente vai dar um selo para uma empresa, que vai ter que se organizar, sendo que ela tem pouco conhecimento em relação a esse tema?’”, comenta.

Assim, Andrade e as associações perceberam que tinham que dar um passo para trás: antes de certificar as pessoas, era importante conscientizá-las. Em conjunto, começaram a atuar em duas frentes. A primeira foi utilizar um espaço que já possuíam em uma rádio local para intensificar o letramento sobre o tema, e a segunda frente foi buscar uma instituição que pudesse auxiliar nesse projeto de conscientização.

“O Instituto Federal do Piauí – Campus São Raimundo Nonato (IFPI-SRN), com a atual gestão, tem atuado de forma bastante positiva na relação com o município. Então, pensamos em conversar com o diretor da instituição, o professor Francisco Nogueira Lima, para propor um curso de extensão. Tivemos uma primeira conversa, logo depois das festas de fim de ano, e o professor Francisco, muito empolgado, já articulou a primeira movimentação por meio de um decreto, que instituiu uma comissão para a estruturação do curso”, conta Andrade.

Com a normativa publicada pelo IFPI-SRN, uma comissão formada por profissionais do Instituto Federal e membros da sociedade civil foi criada para tirar o curso de extensão em acessibilidade e inclusão do papel. Essa comissão trabalhará no desenho de como será esse curso – e se será um ou mais cursos –, decidindo também questões como o modelo de ensino e tipo de periodicidade, se será oferecido anualmente ou semestralmente. Após a estruturação educacional, a ideia é que o projeto chegue ainda neste ano à população.

“É uma grande satisfação anunciar que o IFPI Campus São Raimundo Nonato dá um passo inédito e estratégico com a publicação da Portaria 46 de 2025, que instituiu essa comissão para a criação de cursos de extensão voltados à inclusão e acessibilidade. É uma iniciativa pioneira na história da nossa instituição e que visa, dentre outros aspectos, a incentivar outras unidades do Instituto Federal do Piauí a procederem de igual maneira”, comenta Nogueira Lima.

Inclusive, na estruturação dessa ação coletiva, aquela ideia inicial do selo de acessibilidade não se perdeu. “Criamos algumas diretrizes do que chamamos de selo de acessibilidade em níveis bronze, prata e ouro. Essa é uma forma de estimular, por meio da educação, a adoção de medidas concretas de acessibilidade em espaços públicos e privados de uso coletivo. Com isso, pretendemos não apenas formar pessoas, mas estimular transformações estruturais e permanentes na forma como instituições e empresas pensam esse tema”, complementou o diretor do IFPI-SRN.

Já para a professora Amaya de Oliveira Santos, que integra o Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas (NAPNE) do IFPI-SRN, a criação da comissão olha também para os alunos da entidade.

“É um compromisso com a educação pública que acolhe, respeita e também promove a diversidade. Para o NAPNE, esse momento representa não apenas o fortalecimento da sua atuação, mas também a possibilidade de aprofundar ações voltadas ao acesso à permanência e ao êxito de nossos estudantes com algumas necessidades educacionais específicas”, avalia Santos.

“Nós queremos garantir que a inclusão não seja apenas um conceito, mas sim uma prática efetiva em nossa sociedade”, complementa Eptácio Neco da Silva, diretor de ensino do

IFPI-SRN. “Por isso, além dos cursos de extensão, nós estamos estudando a viabilidade da implementação de outros modelos de cursos, que permitirão uma qualificação ainda mais aprofundada e alinhada às necessidades do mercado de trabalho e da comunidade local. É fundamental destacar que essas formações não apenas contribuem para a capacitação profissional, mas também incentivam a criação de ambientes mais acessíveis.”

Ativismo e Ciência

Para as entidades que se mobilizaram nesta conquista, se trata de um movimento de reconhecimento perante a sociedade local. Foi uma articulação intensificada para fazer com que as pessoas refletissem também sobre a Lei Brasileira de Inclusão, que completa 10 anos agora em 2025, mas que sua aplicação segue muito aquém do que é previsto na lei.

Presidente do Conselho Municipal de Defesa e Direitos da Pessoa com Deficiência de São Raimundo Nonato e da Associação Sul-Piauiense de Deficiência Visual (ASPIDEV), Leda Tanea Pereira fala da trajetória de luta até a parceria com o Instituto Federal. Para ela, um dos maiores desafios é a acessibilidade atitudinal, que é a forma como as pessoas percebem e tratam as pessoas com deficiência, numa cultura sem preconceitos, discriminações e estigmas.

“Há uns dois anos nós estamos tentando criar um selo de acessibilidade, que contemplaria as empresas que tivessem acessibilidade, tanto arquitetônica como atitudinal. A arquitetônica é muito fácil da gente observar, mas a atitudinal leva um tempo maior para a gente conseguir isso. E aí nós fomos nas empresas que poderiam ajudar. Fomos no Senac, que não nos deu resposta.  Aí fomos para o IFPI-SRN, que abraçou rapidamente nossa causa. Nós conseguimos e vamos continuar lutando.”

Presidente da Associação Sanraimundense de Deficiência Física (ASADEF), Valdenice Ribeiro Damasceno Alves ressalta a importância da ação para a população com deficiência.

“Esses cursos vão trazer conhecimento para as pessoas que não têm deficiência. Elas vão aprender como lidar com as situações e como acolher e implantar sensibilidade no seu dia a dia e nas empresas. E também as pessoas com deficiência vão saber cobrar das empresas os seus direitos quando estiverem nelas”, afirma.

Para a secretária-regional da SBPC no Piauí, Rute Maria Gonçalves de Andrade, essa conquista também é uma forma de mostrar o papel da academia na estruturação de um Brasil mais plural.

“A ciência traz soluções para a acessibilidade e inclusão a partir de estudos que são feitos, de tecnologias assistivas que são desenvolvidas e de pesquisas das Ciências Humanas que mostram como a situação em que a nossa sociedade vive afeta diretamente as pessoas que não estão nela incluída, por serem pessoas cuja diversidade é interpretada como incapacidade. Então, a ciência pode trazer, sim, elementos para combater o capacitismo, porque a inclusão passa pelo conhecimento científico”, conclui.

Rafael Revadam – Jornal da Ciência