Para vários campos de pós-graduação do estudo do Museu Nacional, a pandemia foi um “segundo desastre”, após o incêndio de 2018. Na área de linguística, a coordenadora da pós-graduação, Marília Lopes Facó Soares, tenta encontrar uma solução para levar o curso aos alunos indígenas, que formam 70% do curso. Na frente de antropologia social, a preocupação, além da ausência de trabalho em campo, é o bloqueio a acervos. “Como sobreviver à ausência de acesso a bibliotecas? Não tem download de PDF que possa suprir”, diz a docente Bruna Franchetto. A pandemia acentuou as dificuldades para trabalhar com ciência no Brasil, na avaliação do físico e presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso de Ciência (SBPC), Ildeu Moreira. “A gente já vinha num cenário que muitos jovens pesquisadores brasileiros estavam desestimulados para seguir suas carreiras no país. Tivemos uma redução extrema de recursos do CNPq e Capes, por exemplo, nos últimos sete anos”.
As bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ligada ao Ministério da Educação (MEC) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ligado ao Ministério de Ciência, Tecnologia Inovações e Comunicações (MCTIC) não têm reajuste desde de 2013. Um pesquisador contemplado por elas ganha no mestrado R$ 1,5 mil por mês e, no doutorado, R$ 2,2 mil.
Levantamento realizado pela Novelo, a pedido do Valor, indica que o valor médio do total de bolsas concedidas em todas as linhas de pesquisa financiadas pelo CNPq diminuiu de R$ 19.663,88 em 2014 para R$ 11.789,03 em 2019.
“Com a pandemia, dificuldades de outra ordem surgiram: grande parte dos laboratórios e universidade estão fechados. Muitos jovens pesquisadores estão perdidos sem saber como continuar a pesquisa ou se terão bolsa quando puderem fazê-lo”, diz Ildeu. A Capes prorrogou em três meses as bolsas vigentes, medida que contemplou, até o fim de maio, 12 mil pesquisadores. O CNPq informou medidas como possível prorrogação da bolsa por 60 dias para quem está no exterior ou teve com atividade acadêmica paralisada. Treze cientistas jovens brasileiros, de até 35 anos, ouvidos pelo Valor confirmam que vivem em um clima de incertezas sobre sua pesquisa e carreira.
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