Inovação na floresta: novas tecnologias para o futuro da Amazônia

Especialistas discutem como avanços tecnológicos podem impulsionar o desenvolvimento sustentável, a preservação ambiental e a inclusão social na maior floresta tropical do mundo em mesa-redonda da 76a Reunião Anual da SBPC

A Amazônia, com sua vasta biodiversidade e riqueza cultural, enfrenta desafios únicos que requerem soluções inovadoras. Nesse cenário, novas tecnologias emergem como ferramentas essenciais para promover o desenvolvimento sustentável na região. Isso é o que afirmaram os especialistas na mesa-redonda “Novas tecnologias para o desenvolvimento da Amazônia”, realizada na sexta-feira (12/07), durante a 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontece de 7 a 13 de julho na Universidade Federal do Pará (UFPA).

A mesa-redonda foi coordenada por Ândrea Ribeiro dos Santos, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Oncologia e Ciências Médicas (PPOCM) e professora do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA, e contou com a participação de Luciano Fogaça de Assis Montag, professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA, Igor Guerreiro Hamoy, professor do Instituto Socioambiental e dos Recursos Hídricos da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), e Pedro Walfir Martins e Souza Filho, professor do Instituto de Geociências e Laboratório de Análise de Imagens do Trópico Úmido da UFPA.

Ândrea dos Santos abriu o debate destacando que a intenção da mesa-redonda era apresentar ao público as tecnologias utilizadas em diversas áreas do conhecimento para contribuir com o desenvolvimento da Amazônia. Ela ressaltou a importância da interdisciplinaridade nesses projetos, incentivando o diálogo não apenas entre cientistas, mas também com a sociedade e as populações locais. “Para mim, quando quero falar de vida, preciso compreender física, química e a área ambiental. Para entender essa biodiversidade complexa que nos cerca, essa conexão é evidente e necessária.”

Luciano Montag discutiu o comércio de peixes ornamentais amazônicos e a importância de uma fiscalização adequada. Segundo o pesquisador, esse comércio movimenta entre US$ 200 e US$ 300 milhões por ano. Entre 2017 e 2020, foram registradas 6.938 transações comerciais de peixes nativos no aeroporto de Belém do Pará, com cerca de 3,5 milhões de exemplares de 400 espécies exportados. Montag destacou as dificuldades não apenas no conhecimento estatístico da comercialização, mas também na fiscalização. “Tínhamos uma lista de espécies com exportação permitida de peixes ornamentais. Hoje, essa lista não existe mais. Então, qualquer espécie pode ser exportada, inclusive espécies ameaçadas”, alertou.

Ele mencionou a iniciativa do Laboratório de Educação Continuada Offshore (LabECO), no Rio de Janeiro, do Laboratório de Genética Humana e Médica (LGHM) da UFPA e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) para construir uma biblioteca genômica das bacias dos rios Murucupi e Potiritá. Esse banco de dados, com identificação genética das espécies, visa a reduzir fraudes na exportação. “Muitas vezes, a exportação dessas espécies ocorre sem a devida identificação, então nem sabemos se aquela espécie está ameaçada ou não.”

Os peixes também foram tema da apresentação de Igor Hamoy, mas dessa vez como parte de uma dieta saudável e de uma economia sustentável. O pesquisador apontou que a produção global de aquicultura e pesca atingiu um novo recorde em 2022, com 223,2 milhões de toneladas, um aumento de 4,4% em relação a 2020. E pela primeira vez, a aquicultura superou a captura pesqueira, que respondeu por 92,3 milhões de toneladas em 2022, segundo relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). Porém, ele apontou um problema na produção nacional: “Se pensarmos em bioeconomia, falta estimular a produção de peixes nacionais — especialmente considerando que o peixe mais produzido no País é a tilápia, que nem é originária do Brasil, mas sim uma espécie exótica oriunda da África. Está faltando investimento nos peixes nativos”.

Igor Hamoy explicou que o tambaqui é o peixe nativo mais produzido comercialmente no Brasil, e destacou iniciativas que visam a gerar tecnologias que propiciem o desenvolvimento do seu cultivo, pois se trata de um peixe nativo com demanda de mercado nacional e internacional favoráveis, com capacidade de absorção de produção. “A piscicultura familiar de espécies nativas proporciona segurança alimentar através da produção de proteína saudável, gerando renda, empregos diretos e indiretos, desenvolvimento social e econômico, elevando a renda das comunidades rurais da Amazônia”, defendeu.

Por fim, Pedro Wafir apresentou um projeto de rede de monitoramento da atmosfera, litosfera, biosfera e hidrosfera na região da Bacia do Rio Itacaiúnas, localizada no sudeste do Pará. A área, de cerca de 41.350 km², compreende algumas das mais importantes minas brasileiras, incluindo uma das maiores produtoras de minério de ferro do País.

“O projeto é uma coleta de dados sobre os sistemas físicos, químicos e biológicos do planeta, utilizando ferramentas de detecção remota que geralmente envolvem dispositivos para captação de imagens”, explicou.

Para tanto, o ITV instalou estações hidrometeorológicas telemétricas em pontos estratégicos da Bacia do Itacaiúnas, formando uma rede de monitoramento com transmissão via satélite. Isso melhorou a coleta de dados e informações sobre os principais cursos d’água. “A vantagem de trabalhar na Amazônia é que podemos estudar a degradação ou conservação da região em tempo real, seja remota ou presencialmente”.

Cada uma das estações pode obter parâmetros de velocidade do vento, temperatura, umidade do ar, pressão atmosférica, pluviosidade, radiação solar, além de mensurar a umidade, temperatura e salinidade do solo ao longo da bacia. “Hoje, o grande desafio é conectar esse monte de informações ambientais que temos para gerar cada vez mais conhecimento”, finalizou.

Assista à mesa-redonda na íntegra:

https://www.youtube.com/watch?v=Vtja42YVK3E

Chris Bueno – Jornal da Ciência