Isaac Roitman, um defensor da Ciência como orientadora da Democracia e da Paz

Sócio ativo da entidade desde 1975, Roitman ajudou na implementação do primeiro curso de biologia molecular do País e foi um grande defensor da Ciência, da Educação e da Democracia. Professor emérito da UnB faleceu nesta sexta-feira, 7 de março, em Brasília
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Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência lamenta o falecimento do professor e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), Isaac Roitman, ocorrido na última quinta-feira (06/03). Dentista de formação e apaixonado por microbiologia, Roitman ajudou a criar o primeiro curso de biologia molecular do País. Na SBPC, era sócio ativo desde 1975 e lutava por uma Educação cada vez mais inovadora e inclusiva.

Isaac Roitman nasceu em 12 de janeiro de 1939, na cidade de Santos, litoral paulista. Foi na graduação em Odontologia, na PUC Campinas (Pontifícia Universidade Católica de Campinas), que descobriu a sua paixão: a área de microbiologia. Encantado por um professor da área, se mudou para a capital carioca e integrou o Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde obteve seu diploma de doutorado.

Com o título de doutor, iniciou sua carreira acadêmica. De 1964 a 1974 foi professor-assistente e professor adjunto da UFRJ. Mas a grande distância que havia entre sua casa e o trabalho, já que morava longe da universidade, começou a pesar e trouxe a Roitman uma nova necessidade de mudança.

Em paralelo à sua insatisfação, a Universidade de Brasília (UnB) tentava se reerguer após os impactos diretos da ditadura militar em sua gestão, em 1964. Professores da entidade queriam retomar os ideais de Darcy Ribeiro, criador da UnB, e precisavam de mais pessoas no processo de renovação de seu ensino. Foi assim que um convite chegou a Roitman, para a implementação de um laboratório de microbiologia na instituição. Com o desafio aceito, em 1972, o pesquisador encontrou também uma nova oportunidade de explorar a educação, ao ajudar na criação do primeiro curso de Biologia Molecular do País.

“Era isso que me movia. O espírito de inovar, fazer uma universidade diferente, recuperar o sonho de Darcy [Ribeiro]. Estávamos semeando esse ambiente”, contou em 2017, em uma entrevista para o jornal Correio Braziliense.

Não demorou muito para que a sua luta por uma Ciência mais acessível e difundida se encontrasse com os valores da SBPC. Sócio por mais de uma década, Roitman integrou a Diretoria da entidade entre 1989 e 1991, como segundo tesoureiro. Também foi membro do Conselho da SBPC em dois mandatos: 1993-1997 e 2007-2011. Grande nome da comunidade científica em Brasília, foi secretário regional da SBPC no Distrito Federal de 2002 a 2004 e participou do Conselho Consultivo da SBPC-DF de 2004 a 2008.

“O professor Isaac Roitman era incansável na sua defesa da Educação, da Ciência e da Democracia, além da preocupação com o futuro das crianças. Ele recentemente me chamou para falar na Tribuna pela Paz, que era um movimento que ele organizava sobre ciência e democracia. Aí eu tive esse contato muito afetuoso com ele. Ele foi muito ativo na SBPC, nos vários cargos que ocupou, até de secretário regional. Ultimamente, estava dando o maior apoio à Secretaria Regional do Distrito Federal”, pontua a diretora da SBPC e colega da UnB, Fernanda Sobral.

Professor emérito da UnB, Isaac Roitman seguiu lutando pela Ciência. Em um de seus últimos textos, publicado em fevereiro no jornal Monitor Mercantil, Roitman alertava para o novo governo de Donald Trump, iniciado agora em 2025, e como os outros países deveriam encabeçar movimentos contrários, que valorizassem a democracia e a paz.

“Quem sabe seja hora de tentarmos aperfeiçoar a democracia e construir um mundo de paz, produzindo ventos do sul que possam se espalhar pelo planeta. Para isso, precisamos aprimorar a legislação e os programas governamentais, buscando estratégias essenciais para proporcionar equidade e ambientes de alegria e felicidade para a espécie humana”, ponderou.

Membro do Conselho da SBPC, Samuel Goldenberg saudou a trajetória de Roitman. “A Ciência brasileira perde um de seus membros ilustres, o professor Isaac Roitman. Cientista e educador exemplar, fez contribuições importantes por todas as instituições em que passou, sejam universidade como UnB, UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro) ou UMC (Universidade de Mogi das Cruzes), ou agências de fomento como Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Com sua inteligência e capacidade de comunicação, trazia à discussão grandes temas de relevância para a educação e Ciência no Brasil, sempre destacando a relevância do papel social da ciência e a divulgação científica. Além de membro da ABC (Academia Brasileira de Ciências), militou ativamente na SBPC e na SBPz (Sociedade Brasileira de Protozoologia). Aqueles que conviveram com o Professor Isaac Roitman sentem muito esta perda, tanto pela inteligência, pensamento crítico, otimismo, humanismo e humor deste grande Mestre”.

O pesquisador da Fiocruz e ex-conselheiro da SBPC, Renato Balão Cordeiro complementa sobre o lado pessoal de Roitman. “Isaac era uma das pessoas mais sensíveis e brilhantes que conheci. Fomos colegas na UnB. Era um grande humanista, intelectualmente irrequieto, apaixonado pela SBPC e pela UnB. Defensor intransigente da educação e da ciência. Um ser inesquecível, um grande Mestre e amigo. Meu coração sangra, ele fará muita falta nesse mundo pobre de carinho e inteligência.”

Presidente de honra da SBPC, Ildeu de Castro Moreira também ressaltou o lado humano do pesquisador. “O Isaac era uma pessoa diferenciada e um grande brasileiro. Muito inteligente e bem-humorado, um grande pesquisador e professor entusiasmado. Batalhador incansável, durante décadas, pela educação e pela ciência no Brasil, grande cultivador da amizade e da alegria. Que seu exemplo frutifique e que surjam outros com a competência, o humor, a verve, o entusiasmo e a energia dele. Fica o reconhecimento, o muito obrigado e uma grande saudade de muitos de nós e da SBPC.”

O presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, ressalta que o legado de Roitman é a sua incansável luta pela melhora da nossa sociedade:

“Na quarta-feira (05/03), às 22h19, recebi um WhatsApp de nosso querido Isaac Roitman, com um comentário do único senador socialista no Congresso dos Estados Unidos, Bernie Sanders. Hoje bem cedo, soube que Isaac acabava de falecer. Ou seja, Isaac atuou, lutou até o último suspiro de sua vida. Nada atesta melhor o quanto Isaac viveu. Para ele, viver era lutar, era bater-se. As causas da ciência e do conhecimento científico eram essenciais para nosso amigo. Fui seu sucessor na diretoria de Avaliação da Capes. Lembro que me visitou no anexo II do MEC (Ministério da Educação) e me deu várias recomendações. Nos últimos anos, Isaac não esmoreceu. Em tempos negacionistas, também lutou em prol dos valores éticos, que são os da ciência e dos cientistas.”

O sepultamento de Isaac Roitman será neste domingo (9/3), às 11h30, no Cemitério Israelita de Brasília, no Campo da Esperança da Asa Sul.

Rafael Revadam – Jornal da Ciência