As causas do imobilismo da sociedade frente à necessidade de superar os desafios impostos atualmente para a consolidação da democracia no País foi um dos eixos da conferência ministrada pelo professor emérito da Universidade de São Paulo, o sociólogo José de Souza Martins, durante o segundo dia de debates da 71ª Reunião Anual da SBPC, realizada em Campo Grande, no campus da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Nessa terça-feira, 23, mais de 200 participantes ouviram a fala do célebre sociólogo, lotando a sala de conferência e deixando outra centena de alunos sem conseguir entrar. Para atender a todos os interessados que não puderam assistir, a SBPC disponibiliza, abaixo, a íntegra da fala do professor Martins.
Tamanha procura a uma conferência batizada de “Polarização e radicalismo: a democracia inacabada” é demonstrativa do imenso desconforto dos tempos atuais em relação aos processos políticos em desenlace. Na investigação sobre as causas da fragilidade democrática brasileira, hoje ainda mais evidente, Martins parte do despreparo e desinteresse crônico, do conformismo, da crítica vazia e da busca de culpados como traços latentes na cultura nacional, que impedem a busca concreta por mudanças de impacto na vida dos brasileiros. “Somos conformistas porque fomos e temos sido historicamente educados para não ousar, não querer senão o que querem por nós, não correr riscos. Arriscar é um traço essencial da cultura da inovação, que sem negar o existente procura transformá-lo para nele multiplicar o que há de melhor e mais necessário e superá-lo”, diagnostica Martins.
Soma-se à falta de visão inovadora, o excesso de partidarização em confronto com uma reduzida politização do País. Na ausência da transformação concreta, a sociedade busca um “messias que nos levará ao caminho da salvação da pátria”. “Nesse quadro, resta-nos a pobreza de perspectiva da polarização ideológica, ou um lado ou o outro. Germe de nossa falta de saída que nos remete ao radicalismo de dois polos que são os mesmos. O verde-amarelo anti-brasileiro de uma pátria postiça e retrógrada. E o vermelho da pátria ausente, que em nome do socialismo é, sobretudo, antissocialista”, avalia o professor.
Para o sociólogo, é necessário romper esses egoísmos e radicalismos para que se abra espaço de criatividade e avanço das perspectivas sociais. E assim, concluir o trabalho de construção da nossa democracia.
Confira a íntegra da conferência do professor José de Souza Martins.
Mariana Mazza, especial para o Jornal da Ciência