Jovens cientistas recebem Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher

SBPC premiou meninas e mulheres que realizaram trabalhos científicos inovadores, em busca de soluções para uma sociedade mais justa; cerimônia aconteceu no Centro MariAntonia da USP

A cerimônia de entrega da 6ª edição do Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher, promovido pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), contemplou seis meninas e jovens mulheres cientistas por realizarem pesquisas inovadoras e de interesse social. A premiação aconteceu nesta terça-feira (11), marcando o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência. Segundo Fernanda Sobral, diretora da SBPC e parte da Comissão Julgadora, o prêmio “é a esperança do futuro, que são as meninas e, quanto mais a gente reconhecer e dar incentivo a elas, mais a ciência se desenvolverá e progredirá”.

Criada em 2019, a premiação é realizada em homenagem a Carolina Bori, cientista da USP e primeira pessoa a ser registrada como psicóloga no Brasil, com o Cadastro Nacional de Profissionais de Psicologia número 1. Bori incentivou o desenvolvimento científico no País e o acesso ao conhecimento para além das universidades. “A gente chama essas meninas que ganham os prêmios, entre nós, de ‘as Carolinas’,” disse Fernanda Sobral em entrevista ao Jornal da USP.

Nesta edição do prêmio, houve um aumento de mais de 70% no número de inscrições. As pesquisas foram divididas em exatas, humanidades e biológicas. A cerimônia ocorreu no Salão Nobre do Centro MariAntonia da USP. As vencedoras receberam um troféu e uma quantia em dinheiro: R$ 10 mil para as graduandas, R$ 7 mil para as alunas do ensino médio e R$ 5 mil para a menção honrosa.

As cientistas universitárias premiadas

Entre as vencedoras da graduação, está Beatriz Oliveira Santos, que realizou o curso de Nutrição na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP e, agora, está iniciando o doutorado. O prêmio na área de biológicas foi pela pesquisa de TCC Disputas e Arranjos em Torno da Alimentação no Contexto Prisional. Beatriz fez uma etnografia em Manaus, onde acompanhou familiares de presos do Complexo Penitenciário Anísio Jobim, o Compaj. A cientista concluiu que a proibição da entrega de cestas de alimentos aos penitenciários gera “adoecimento e insegurança alimentar para os presos e para os familiares, que veem aquelas pessoas adoecendo, porque a alimentação que eles recebem da administração carcerária é completamente questionável”, disse Beatriz Santos no evento.

Em humanidades, Angélica Azevedo e Silva foi premiada pelo projeto de extensão Diagnóstico das Dimensões da Sustentabilidade Urbana no Município de Cavalcante-GO e Urbanismo Kalunga: sustentabilidade, ancestralidade e identidade, em que propõe um projeto de revitalização de uma avenida que valoriza as necessidades e a ancestralidade dos quilombolas da região. Angélica é arquiteta formada pela Universidade de Brasília (UnB).

Na área de exatas, quem recebeu o prêmio foi Narayane Ribeiro Medeiros, do curso de Engenharia Aeroespacial do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), pelo trabalho Modelagem Preditiva e Visualização Interativa de Dados Geoespaciais de Emissões de Gases de Efeito Estufa. Narayane é parte do Itacube, grupo de pesquisa para propósitos acadêmicos, onde construiu a plataforma Geopredict, que torna acessíveis dados de satélite sobre a emissão de gases de efeito estufa por humanos no mundo todo, com previsões para 2027. “Ela está inspirando jovens a disputarem espaços que são estereotipados para o gênero masculino”, disse Francilene Garcia, vice-presidente da SBPC e coordenadora da premiação.

As jovens cientistas do ensino médio

Ana Elisa Brechane da Silva é estudante da Escola Estadual Prof.ª Maria das Dores Ferreira da Rocha, de Santa Rita d’Oeste, cidade do interior de São Paulo próxima à fronteira com o Mato Grosso do Sul. Ana Elisa foi premiada na área de biológicas pelo desenvolvimento do ConnectBreathe, um aparelho que ajuda no diagnóstico e tratamento de doenças respiratórias, com o uso de jogos on-line para incentivar a realização de exercícios de fortalecimento pulmonar. “A ciência pode transformar vidas”, disse a estudante.

Em humanidades, a vencedora foi Isadora Abreu Leite, aluna do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA). Isadora realizou uma pesquisa de campo em Raposinha, comunidade quilombola do Maranhão, que resultou no trabalho Sementes da Maré: saberes e fazeres de marisqueiras da costa de manguezais de macromaré da Amazônia. A pesquisadora pretende valorizar os saberes das marisqueiras para a sustentabilidade e, com o reconhecimento, melhorar as condições de vida dessas mulheres que, apesar de sustentarem famílias, são invisibilizadas.

Milena Xavier Martins recebeu a premiação em exatas pelo projeto Autinosis: Inteligência Artificial na Triagem do Diagnóstico de Autismo. Estudante do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa (UFV), ela desenvolveu uma plataforma que usa inteligência artificial para conectar pessoas autistas, informar sobre a condição e auxiliar no diagnóstico de forma acessível e para todas as idades.

Menção honrosa: nunca é tarde para fazer ciência

Lucia Ferreira da Silva, graduanda em Engenharia Agronômica no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amapá (Ifap) aos 44 anos, recebeu menção honrosa pela pesquisa Associativismo e o Fortalecimento das Lideranças Femininas da Associação dos Artesãos de Porto Grande – Amapá.

Lucia realizou encontros com as quilombolas da região para apoiar o desenvolvimento do empreendedorismo das mulheres na Associação dos Artesãos, combatendo a invisibilidade e o isolamento dessas artesãs. “Não há idade que vá nos limitar a compartilhar conhecimento”, discursou Lucia da Silva.

Ao final do evento, também ocorreu o lançamento do livro Carolina Bori: Psicologia, Educação e Política Científica, de Gabriel Vieira Cândido, sobre a vida e contribuições de Carolina Bori para a ciência. Francilene Garcia reiterou a importância da homenagem do prêmio: “Carolina é uma daquelas pessoas que transborda por todas as dimensões (…). O sonho que ela nos coloca e de que todos somos participantes é o de um país em que a ciência possa ajudar a avançar para uma sociedade mais justa”.

Isabela Nahas – Jornal da USP