Laila Salmen Espindola recebe o Prêmio Prof. Fernando de Oliveira

Reconhecimento destaca o papel da professora da UnB e diretora da SBPC no desenvolvimento da farmacognosia brasileira
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Fotos: Arquivo pessoal.

A professora titular da Universidade de Brasília (UnB) e diretora da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Laila Salmen Espindola, foi uma das agraciadas com o Prêmio Prof. Fernando de Oliveira, concedido pela Sociedade Brasileira de Farmacognosia (SBFgnosia). A premiação, que reconhece contribuições notáveis à área da farmacognosia no Brasil, foi entregue no dia 20 de maio, durante o XV Simpósio Brasileiro de Farmacognosia, em São Paulo. Também recebeu a honraria o professor José Angelo Silveira Zuanazzi, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Espindola descreveu o momento como profundamente emocionante. “Foi ainda mais especial por receber a homenagem das mãos da professora Suzana Leitão, da UFRJ, e ao lado do professor Zuanazzi, ambos membros da minha banca de defesa para titular na UnB”, afirmou.

Ela dedicou o prêmio aos mestres que contribuíram para sua formação e aos estudantes que, ao longo dos anos, alimentaram sua paixão pela ciência e pelo ensino. Compartilho este prêmio com os professores que me entregaram seus conhecimentos e a paixão pela natureza, pela ciência e ensino que são pilares sobre os quais construí minha carreira na UnB e mundo afora. Dedico também aos inúmeros estudantes que encontrei pelo caminho, que, com afeto, troca e paixão por aprender, alimentam minha sorte de exercer a vocação da alma e do coração”, declarou.

A professora relembrou com carinho o início de sua jornada, mencionando o professor José Badini, seu primeiro mestre na Universidade Federal de Ouro Preto. “Foi ele quem me ensinou sobre a Mata Atlântica e acreditou em mim, investindo na minha formação. Graças ao que aprendi com ele, fui aprovada no mestrado (apesar do francês ainda não suficiente) e, um ano depois, no doutorado na Université Pierre et Marie Curie, em Paris.”

Sob orientação do professor Henri Puig, ela participou de uma expedição à Guiana Francesa, onde trabalhou em um acampamento de pesquisa na Piste de Saint Elie. “Aquela sala de aula foi uma oportunidade, pois o professor Puig, observando meus conhecimentos em botânica, me indicou para trabalhar no Muséum National d’Histoire Naturelle – meu primeiro contra-cheque na França”, recordou.

Outra lembrança marcante foi sua experiência com o professor Jacques Barrau, que a ensinou sobre o conhecimento dos povos e comunidades tradicionais. “Com ele, colaborei na organização e digitalização do Herbário Histórico do Laboratoire de Ethnobotanique, manuseando exsicatas coletadas por nomes como Lineu, Saint-Hilaire, Martius, Jussieu e Humboldt, entre os séculos XVIII e XIX”, disse.

WhatsApp Image 2025-05-27 at 12.59.46Na UnB, Espindola destacou o papel do professor José Elias de Paula em sua formação sobre o Cerrado. “Com ele, construí minha trajetória acadêmica e científica. Juntos, criamos o Banco de Extratos e Substâncias do Cerrado, que viabilizou projetos nacionais e internacionais e capacitou estudantes e pesquisadores em diferentes níveis.”

Ela também expressou gratidão ao professor Raimundo Braz, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), a quem chama de “outro pai da Farmacognosia brasileira”. “Ele tinha a capacidade de desvendar qualquer mistério molecular. Sem ele, não teríamos elucidado tantas substâncias do Cerrado”, completou.

Por fim, lembrou-se do professor Marcelo Marinho, seu primeiro mestre de violino em Ouro Preto. “Com a música, ele me ofereceu um sopro de vida — meu remédio para ressurgir das cinzas e seguir em frente, guardando sempre o que há de positivo na vida.”

Além de professora titular, Espíndola coordena o Laboratório de Farmacognosia da UnB e, desde 2019, o Programa de Pós-graduação em Ciências Médicas da Faculdade de Medicina da instituição. Foi chefe do Departamento de Farmácia, também na UnB (2016–2018). Na SBPC, atuou como conselheira no quadriênio 2015–2019 e integra a Diretoria da entidade desde 2021.

Ela também faz parte do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGen), do Ministério do Meio Ambiente, desde 2018, e do Conselho da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), desde 2019.

Sua pesquisa foca na farmacognosia e na química de produtos naturais, com ênfase em extratos e substâncias da biodiversidade brasileira com potencial contra patógenos de doenças infecciosas, vetores de arboviroses e câncer. Em 2020, iniciou um estudo sobre o perfil clínico e metabolômico de pacientes com coinfecção por covid-19 e doenças endêmicas no Brasil.

José Angelo Silveira Zuanazzi, professor titular da UFRGS, é reconhecido por suas contribuições à farmacognosia, especialmente no estudo químico e biológico de espécies da família Leguminosae (Fabaceae). Ele atua no desenvolvimento de pesquisas inovadoras e na promoção da farmacognosia no Brasil.

O presidente da SBFgnosia, Douglas Siqueira de Almeida Chaves, destacou a importância de Espíndola para o desenvolvimento da farmacognosia no Brasil, ressaltando seu trabalho científico e sua luta pela área.

Em sua fala, ressaltou que o prêmio concedido a ela reconhece não apenas suas pesquisas inovadoras, mas também sua dedicação incansável à área. Chaves enfatizou que, ao se falar de farmacognosia no Brasil, é impossível não lembrar do nome da professora, cuja contribuição é reconhecida nacional e internacionalmente. “A professora Laila foi pioneira na internacionalização da sociedade brasileira, estabelecendo convênios com associações, como a American Society of Pharmacognosy, ampliando o alcance e a colaboração da farmacognosia brasileira no cenário global”.

Vivian Costa – Jornal da Ciência