Primeiro “Guia de Centros e Museus de Ciência da América Latina e do Caribe” foi lançado ontem. Publicação pode ser acessada gratuitamente no site da SBPC
A 67ª Reunião Anual da SBPC celebrou nesta quarta-feira, 15/07, o lançamento de dois guias de museus e centros de ciências – o de toda a América Latina e Caribe, inédito, e a terceira edição do brasileiro. O evento foi prestigiado pela presidente da SBPC, Helena Nader, e reuniu divulgadores do Brasil, Chile e Argentina. Um dos pontos destacados no encontro foi a imensa desigualdade na distribuição desses centros no Brasil: 57% deles estão na região sudeste, enquanto a região Norte tem apenas 4% das instituições catalogadas.
O primeiro Guia de Centros e Museus de Ciência da América Latina e do Caribe foi apresentado no final de maio em Medelín, Colômbia, durante o 14º Congresso da Rede de Popularização da Ciência e da Tecnologia na América Latina e no Caribe (RedPOP). A reunião da SBPC foi escolhida para seu lançamento no Brasil.
A publicação é uma realização da RedPOP, juntamente com o Museu da Vida (COC/Fiocruz) e o Escritório Regional de Ciência da Unesco. A diretora da RedPOP e coordenadora geral do projeto, Luisa Massarani, conta que o Guia é o produto de um trabalho de colaboração em rede, com as principais organizações de divulgação científica da região, como a Asociación Argentina de Centros y Museos de Ciencia y Tecnologia, a Asociación Mexicana de Museos y Centros de Ciencia y Tecnologia, Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência, Liliput e a Universidad Don Bosco (El Salvador), entre outros.
“Esse projeto seria muito difícil de realizar se não houvesse o trabalho em rede. Concretamente, o financiamento é brasileiro, e os outros países, entraram com recursos humanos”, destacou. Massarani comenta que, em cada país, cada grupo participou da maneira que foi possível: “Na Universidade de El Salvador, por exemplo, o projeto virou uma pesquisa de iniciação científica. A nossa compreensão de rede é que cada um entra como o que pode e, assim, viabilizamos o projeto”.
O guia latinoamericano e caribenho, publicado em português e espanhol, contém uma relação de 464 centros e museus de ciências. A diretora da RedPOP, idealizadora do guia, conta que a ideia do projeto existe há dez anos. “A partir da nossa experiência do Brasil, propusemos uma versão para toda a região quando nos candidatamos à diretoria da RedPOP. Foi uma proposta nossa, com rápida adesão de várias associações. Quando assumimos, o projeto já estava encaminhado”, descreve Luisa Massarani.
A RedPOP foi criada pela Unesco e promove trabalhos em rede. “É uma oportunidade para pessoas com projetos e desafios semelhantes compartilharem ideias e ações, realizar trabalhos em conjunto, somar forças para conseguir recursos para desenvolver projetos como esse”, diz Massarani.
A rede também realiza pesquisas de percepção pública da ciência, e Massarani conta que os estudos demostraram que muitas pessoas não frequentam os museus científicos por falta de acesso. “Muitas vezes as pessoas não sabem que existe o museu, não sabem que são abertos a todos e, também, não sabem que muitas vezes são passeios gratuitos”, ressalta.
Uma das propostas da diretora da RedPOP é fortalecer o engajamento político da rede, de se manifestar contra fechamento de museus, por exemplo. “E quanto mais membros tivermos, mais força teremos aqui na América Latina”, destaca, convidando pesquisadores, estudantes e toda a sociedade para se associarem à rede (www.redpop.org).
Cultura latina
Contanza Pedersoli, da Universidade Nacional de La Plata, na Argentina, e membro da equipe de pesquisa do guia latinoamericano e caribenho, conta que o modelo de museu de ciência vem crescendo desde os anos 1990, mas replicando modelos europeus e americanos. “Precisamos buscar contribuir para criar uma cultura científica em que, além dos problemas globais, os problemas locais também sejam tratados, como forma de despertar um senso de pertencimento”, aponta.
Nessa perspectiva de se criar uma cultura que olhe para os desafios e desenvolvimento locais, uma das funções do guia, como aponta Luz Marina Lindeegard, coordenadora da região Sul da publicação, é alimentar a criação de um turismo científico em uma região que precisa mostrar que também faz ciência. “Esses museus cresceram por motivos muito pontuais, com iniciativas governamentais, mas hoje em dia há uma participação importante do setor cientifico, com políticas públicas que obrigam os seus centros científicos a divulgar a ciência que produzem”, comenta.
3ª Edição
Com sua terceira edição, o guia de museus e centro de ciências brasileiro já tem dez anos. Em 2005, o primeiro guia foi lançado com 112 instituições catalogadas, mas não incluía zoológicos. Em 2009, o segundo volume incluiu zoológicos e já contava com 190 instituições. Esse novo Guia, lançado agora, já soma 268 instituições catalogadas, um aumento de 41% com relação ao volume anterior.
“É uma radiografia do que temos no Brasil. Além do crescimento no número de centros catalogados, mostra também a desigualdade enorme entre as regiões brasileiras: 155 instituições na região Sudeste, 44 no Sul, 43 no Nordeste, 15 no Centro-Oeste e apenas 11 no Norte”, apontou Carlos Wagner Costa Araújo, em seu último dia como presidente da Associação Brasileira de Centros e Museus de Ciência (ABCMC).
Wagner aponta que a discrepância na distribuição é apenas um dos desafios da área. Outro desafio, bastante preocupante, é a manutenção desses museus e centros. Araújo lembrou que alguns centros importantes estão em crise, como a Estação Ciência, em São Paulo, e o Museu de Ciência e Tecnologia da Bahia, em Salvador, um dos mais antigos do país. “Mais do que catalogar e publicar o que está sendo feito, precisamos nos preocupar com a consolidação do museu de ciência. Não adianta só criar, é preciso manter”, diz.
Distribuição gratuita
Diego Vaz Bevilaqua, do Museu da Vida da Fiocruz, ressalta que um dos objetivos principais do mapeamento e do lançamento do guia é criar um instrumento público de disponibilização dos lugares onde estão esses museus e centros de ciência.
“Notamos que, pelo país, existem museus menores e maiores, mais abertos e mais restritos ao público. Mas, principalmente, o que nos preocupou é que observamos que existe um problema na distribuição para esse público”, disse. Bevilaqua comenta ainda que o Brasil, apesar de apresentar um crescimento no número de museus novos, esses centros de divulgação continuam mais acessíveis para as populações mais instruídas, nas grandes capitais brasileiras.
“Precisamos de estratégias para atrair todos os públicos, estratégias de melhor distribuição regional. Precisamos chegar ao público que não ainda conseguimos atingir”, observa. Segundo ele, o guia contribui, de certa forma, porque indica a localização desses centros, bem como o acesso a eles. “Além de disponibilizar gratuitamente esse material, impresso e eletronicamente, estamos buscando avançar nas tecnologias para que cada vez mais essa seja uma informação que o público possa acessar diretamente”.
Os dois guias podem ser acessados gratuitamente nos sites da RedPOP, do Museu da Vida, e também no da SBPC.
(Daniela Klebis/Jornal da Ciência)