Manter o legado de um dos mais reconhecidos cientistas brasileiros. Esta é a intenção do livro digital “Fritz Müller 200 anos: legado que ultrapassa fronteiras”, que teve sua segunda edição lançada nesta terça-feira (29) em evento virtual com transmissão pelo canal da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (SBPC) no YouTube.
A obra é resultado de sete webinários organizados pelo Grupo Desterro em 2020 para os professores da Rede Estadual de Ensino de Santa Catarina, que contou com a participação de cerca de 700 professores. As discussões desses eventos serviram de base para elaboração do e-book que traz conteúdos diversos que podem ser adaptados para diferentes níveis de ensino e são acompanhados de ilustrações de apoio. Agora, para celebrar o bicentenário de nascimento de Fritz Müller, a obra ganhou uma segunda edição ampliada, contando com 13 capítulos: foram adicionados um capítulo sobre os caminhos percorridos a pé pelo cientista em Santa Catarina e um relato detalhado de suas expedições. “Nós queremos manter o legado deste importante naturalista que tanto contribuiu para a ciência universal”, pontuou Mário Steindel, professor do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenador científico do Grupo Desterro Fritz Müller — Charles Darwin 200 anos, durante o evento.
O cientista
Johann Friedrich Theodor Müller, conhecido simplesmente como Fritz Müller, nasceu na Alemanha no dia 31 de março de 1822 e chegou ao Brasil em 1852. Foi um grande naturalista e o primeiro cientista a apresentar modelos matemáticos para elucidar a seleção natural e fornecer provas contundentes da mesma. Suas obras contribuíram para fundamentar e enriquecer a teoria da evolução das espécies por seleção natural de Darwin, com quem manteve intensa amizade e correspondência. “Fritz Müller é um personagem do século 19, mas que puxa o século para frente, na educação, na ciência, em vários aspectos”, destacou Ildeu de Castro Moreira, professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente de honra da SBPC. “É importante lembrar as inúmeras citações que Darwin faz de Müller. Quase todos os livros dele citam Müller. Ele é o cientista mais citado nos livros de Darwin, um dos cientistas mais importantes de todos os tempos. Isso mostra o status científico que Fritz Müller alcançou, além de ter sido também um pioneiro na divulgação da teoria da seleção natural no Brasil”, enfatizou.
Sua obstinação em fazer e divulgar ciência também foi apontada pelos participantes como uma característica marcante, que se reflete até hoje no modo brasileiro de fazer ciência. “Fritz Müller é um cientista que representa o Brasil e o que é a realidade da ciência no Brasil, em sua obstinação em fazer ciência. Isso é um recado também: nós temos que nos esforçar, temos que nos apaixonar pela ciência”, afirmou Carlos Rogerio Tonussi, professor associado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ele ainda lembrou que isso é especialmente importante nos tempos atuais, em que o cenário se mostra tão adverso à ciência.
Legado na educação
Professor de matemática e ciências naturais na educação básica, seu papel fundamental na educação não foi esquecido. “Fritz Müller nos proporciona uma riqueza não só no campo da ciência, mas também no campo da educação”, pontua Maria da Gloria Weissheimer, membro do Grupo Desterro Fritz Müller-Charles Darwin 200 anos.
Alberto Lindner, professordo Centro de Ciências Biológicas (CCB) da UFSC, afirmou que as discussões sobre Fritz Müller ressaltam a importância de investir na educação e nos alunos, fornecendo oportunidades para que eles também se tornem cientistas renomados. “Nós temos vários Fritz Müller saindo de nossas universidades, de nossos programas de pós-graduação e, se dermos as oportunidades para essas pessoas, teremos grandes cientistas nos próximos anos”.
Personalidade e identidade
Colono e lavrador no Vale do Itajaí (atual Blumenau), Fritz Müller teve também um papel fundamental na construção da identidade de Santa Catarina. “Ele é um grande cientista nacional, e também um personagem da história de Santa Catarina como um dos formadores da identidade catarinense”, afirmou Marcondes Marchetti, do Grupo Desterro Fritz Müller-Charles Darwin 200 anos.
Para Dolores Carolina Tomaselli representante da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), também é interessante olhar para a figura de Fritz Müller como um imigrante. “Ele é um imigrante e, se formos fazer uma analogia, também é uma espécie de refugiado, que vem para Santa Catarina da década de 1800. Então é olhar para Fritz Müller como de fato um representante dessa imigração que faz frente às necessidades do meio e desenvolve e transforma Santa Catarina no que ela é hoje”, disse.
Para Luis Roberto Fontes, médico legista do Instituto Médico-Legal de São Paulo (IML-SP), Müller é um cientista que serve de exemplo tanto para jovens como para adultos já cientistas. Portanto, é importante que seus 200 anos não caiam no esquecimento. Lauro Eduardo Bacca, professor do da Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB), concorda: “é importante que tudo isso que estamos fazendo hoje resulte em alguma perenidade da memória de Fritz Müller”.
Sandra Rebok, pesquisadora do Departamento de História da Universidade de San Diego e responsável pela tradução de obras de Fritz Müller para o espanhol, enfatizou a importância da tradução e divulgação do livro para outros países. “Seria ótimo fazer Fritz Müller mais conhecido fora do Brasil, como Espanha e os Estados Unidos. Precisamos de mais material sobre ele nesses lugares”, afirmou.
Coordenado por Mário Steindel, professor do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da UFSC e coordenador científico do Grupo Desterro Fritz Müller – Charles Darwin 200 anos, o evento contou com a participação de Alberto Lindner, professor da UFSC; Ana Maria Ludwig Moraes, membro do Instituto Histórico de Blumenau; Carlos Rogerio Tonussi, professor da UFSC; Dolores Carolina Tomaselli, presidente da Fundação Catarinense de Cultura (FCC); Ildeu de Castro Moreira, professor do Instituto de Física da UFRJ e presidente de honra da SBPC; Klaus Hartmann Hartfelder, professor titular da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP); Lauro Eduardo Bacca, professor da Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB); Luis Roberto Fontes, médico legista do IML-SP; Marcondes Marchetti, do Grupo Desterro Fritz Müller — Charles Darwin 200 anos; Maria Cristina Tonussi, ilustradora botânica e de fauna e estudante da UFSC; Maria da Gloria Weissheimer, membro do Grupo Desterro Fritz Müller — Charles Darwin 200 anos, e teve a participação especial de Sandra Rebok, pesquisadora visitante na University of California San Diego.
Jornal da Ciência