Lutas e conflitos no Nordeste foram fundamentais no processo de Independência do Brasil

Conferência da 74.ª Reunião Anual da SBPC aborda a participação regional no processo que tornou o País independente

Um príncipe, um grito, e um país declarado independente. A historiografia tradicional brasileira costuma remeter o episódio da independência tão somente à proclamação de Dom Pedro I às margens do Ipiranga em 7 de setembro de 1822. Porém, ao contrário da narrativa oficial que predomina nos livros e nas aulas de história, a Independência do Brasil não foi um processo homogêneo, definitivo e pacífico. O tema foi discutido na conferência “A Batalha do Jenipapo e a Consolidação da Independência do Brasil no Piauí”, realizado durante a 74ª Reunião Anual da SBPC, na sexta-feira (29), às 9h, de modo híbrido.

As lutas pela Independência do Brasil foram marcadas por revoltas locais, motins e guerras separatistas. E a batalha do Jenipapo é considera um dos conflitos mais sangrentos na história da Independência brasileira. “Meu grande projeto, minha grande tensão é alocar essa história na história nacional. Porque ela tem um protagonismo. Ela é muito importante”, apontou Johny Santana de Araújo, professor do Departamento de História da Universidade Federal do Piauí (UFPI), durante a conferência.

No Piauí, enquanto as autoridades se opunham ao novo governo, vários grupos apoiavam o projeto de D. Pedro. A província era controlada pelo governador e major português João José da Cunha Fidié, que tinha a missão de manter o norte da ex-colônia fiel à Coroa Portuguesa. No entanto, pouco mais de um mês após o Grito do Ipiranga, as cidades de Parnaíba e Oeiras declaram sua adesão ao projeto da independência. Fidié parte para reprimir o movimento rebelde, quando é surpreendido por uma coluna de piauienses, maranhenses e cearenses às margens do Rio Jenipapo, em Campo Maior. É aí que se trava, no dia 13 de março de 1823, a Batalha do Jenipapo. Armados com espingardas, facões, machados, foices, e até paus e pedras, os rebeldes enfrentam os bem armados soldados de Fidié. Em poucas horas de embate, entre 200 e 400 brasileiros foram mortos. Apesar da grande baixa, os rebeldes conseguem debandar, levando os suprimentos portugueses. As tropas lusitanas são obrigadas a recuar para o Maranhão e os rebeldes conseguem dominar a província. Fidié acaba preso, enviado ao Rio de Janeiro e deportado para Lisboa.

Para Araújo, é importante revisitar nosso passado, considerando essas histórias que ficaram “de fora” da historiografia nacional. “Quando eu era aluno, eu me lembro que não via meus professores tratando dessas coisas. Cadê as pessoas estudando a história daqui? Por que essa ‘marginalização’ da história do Nordeste?”, pontuou.

Ildeu de Castro Moreira, professor do Instituto de Física e do programa de pós-graduação em História das Ciências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e presidente de honra da SBPC, coordenou a conferência e apontou que o Bicentenário da Independência é uma oportunidade para olharmos para o passado, compreendermos o presente e pensarmos o futuro. “Esquece-se que grande parte do processo de independência se fez também através da luta e da morte de piauienses, baianos, mineiros, paraenses, etc. Tem uma história por trás disso”, afirmou. “A história centraliza o processo da independência no Sul e Sudeste. Mas é fundamental mostrar que a participação de grupos locais foram fundamentais para esse processo”.

Assista a conferência na íntegra

https://youtu.be/HA2y8EiIFes

Chris Bueno – Jornal da Ciência