Cerca de 90% das publicações científicas do País são produzidas em 86 instituições, dessas, e apenas 1,8% são originárias de universidades privadas. Mais de 73% provêm de universidades federais e estaduais. “A ciência no Brasil é, majoritariamente, realizada em estabelecimentos de ensino superior, principalmente públicos”, atestam Concepta McManus, professora da UnB, Abílio Afonso Baeta Neves, professor da PUCRS e ex-presidente da Capes, Andrea Maranhão, professora da UnB, e José Alexandre Diniz Filho, professor da UFG, em artigo que traz um panorama da ciência produzida no Brasil.
Publicado hoje, pelo Jornal da Ciência, o artigo “Ciência no Brasil: alguns dados” mostra que, mesmo com crise, a pesquisa produzida nas instituições brasileiras, nas mais diversas áreas, continua tendo impacto e proeminência mundial. A análise dá como exemplo o aumento verificado no Índice de Citação Ponderada de Campo (FWCI), de 0,78, em 2000, para 0,90, em 2018. O maior FWCI foi registrado há três anos, em 2016: 0,95 – valor pouco abaixo da média mundial. “Importante lembrar que, nos últimos quatro anos, a comunidade científica enfrentou severas restrições financeiras e, para ser altamente citado, é necessário publicar muitas vezes em periódicos de acesso aberto e de alto impacto, o que é uma limitação nas atuais restrições orçamentárias”, destacam os autores.
Entre 2010 e 2018, o Brasil teve um aumento de 52% no número de cursos de pós-graduação ofertados, a grande parte dessa expansão se deu no Norte, Nordeste e no Centro-Oeste. Chegamos hoje uma média de 60 mil mestres e 21 mil doutores que se formam todos os anos no País. “Não se pode esperar que essas intuições, recém-integradas ao sistema de pós-graduação, produzam a mesma ciência de qualidade que as universidades e instituições de pesquisa mais antigas e estabelecidas em outras regiões do país”, ponderam os autores.
Mesmo assim, conforme demonstram no artigo, dados do InCites® indicam melhorias contínuas na quantidade e na qualidade da pesquisa que as instituições públicas do ensino superior nessas regiões têm desenvolvido nos últimos 10 anos. Duas universidades federais do nordeste, da Paraíba (UFPB) e Rio Grande do Norte (UFRN) figuram entre as dez principais instituições brasileiras no Índice Nature.
O artigo também aponta as diferenças de impactos entre as áreas de conhecimento: o impacto das Ciências Humanas e das Ciências Sociais pode ser menos óbvio do que em outras áreas da pesquisa, pois essas áreas estão envolvidas na preservação crítica, análise e forma do patrimônio cultural e na maneira como ele é usado. Alguns desses impactos são evidentes em estudos no Brasil, como os de identidade social e coesão, onde a pesquisa analisa áreas como indígenas, comunidades ou setores específicos da sociedade e entende o que afeta a maneira como eles funcionam. As redes sociais, assim como o apoio às indústrias criativas e culturais, também são evidentes, além de melhorar o debate público que afeta a cultura, a sociedade e as políticas. A interação com o governo, bem como com a mídia pública (jornais, revistas, blogs, TV etc.) em todos os níveis também informa sobre desempenho, prática profissional e políticas públicas, impactando a economia e o governo.
“As universidades, em geral, estão educando a próxima geração de cientistas, engenheiros, especialistas em políticas e profissionais de saúde. Essas são as pessoas que um dia resolverão os maiores desafios de energia limpa e sustentabilidade global, saúde e bem-estar humano, segurança nacional e oportunidade econômica”, ressaltam.
Jornal da Ciência