Marinha do Brasil e a CT&I em sua estratégia de defesa

O almirante-de-esquadra Marcos Sampaio Olsen abordou os avanços e desafios da área de CT&I da Marinha do Brasil em sua conferência para a 72ª Reunião Anual da SBPC. A atividade foi apresentada pelo vice-presidente da SBPC, Aldo Malavasi

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A capacidade de defesa está fundamentalmente pautada em ciência e tecnologia. E não é possível obtê-la sem uma integração estreita entre a produção do conhecimento, produzida na academia e nos institutos de ciência e tecnologia, e a base industrial. A afirmação é do almirante-de-esquadra Marcos Sampaio Olsen em sua conferência “Ciência, tecnologia e inovação na Marinha do Brasil”, durante a 72ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A atividade, realizada nessa quinta-feira, 8 de outubro, foi apresentada pelo vice-presidente da SBPC, Aldo Malavasi.

Em sua palestra, ele abordou a importante parceria da Marinha com algumas universidades e instituições para o desenvolvimento de pesquisa e tecnologia, dentre elas, o convênio entre a Marinha do Brasil e a Universidade de São Paulo (USP), que resultou na criação do primeiro curso de Engenharia Naval no Brasil desde 1956. Ele também falou sobre o histórico do desenvolvimento da área de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) da Marinha, além de suas estratégias e atividades desenvolvidas.

Logo no começo ele comentou o importante papel do Almirante Álvaro Alberto, que foi pioneiro nas pesquisas brasileiras sobre energia nuclear e um dos autores do projeto de criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “O almirante Álvaro Alberto é um ícone da contribuição a Marinha do Brasil no desenvolvimento científico e tecnológico nacional”, ressalta.

Ao abordar o programa nuclear brasileiro, criado em 1979, Olsen citou alguns desafios, dentre eles, o orçamentário e o de desenvolver novas tecnologias. “Os países que dominam essa tecnologia não têm interesse que ela se expanda por receio de extravios de material, seja no aspecto comercial ou de defesa”, comenta. Mesmo assim, o almirante explica que dentro do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB), a Marinha está desenvolvendo a capacidade de projetar e construir pequenos reatores nucleares que poderão ser utilizados tanto na propulsão de submarinos, quanto em centrais nucleares para a produção de energia elétrica.

Na área médica, Olsen citou algumas pesquisas desenvolvidas no Hospital Naval Marcílio Dias (HNMD) e no Instituto de Pesquisas Biomédicas, criados em 1988, dedicados a medicina regenerativa voltada ao tratamento de lesões cutâneas, a prospecção química de produtos naturais e estudos moleculares de viroses emergentes centre o HNMD e a Faculdade de Medicina de Petrópolis estamos buscando desenvolver um curativo biológico a partir de membrana amniótica humana, que possui propriedade cicatrizantes e anti-inflamatória.”

Quanto à missão de defesa da Marinha, Olsen citou que recentemente foi divulgado o “Plano Estratégico da Marinha – 2040”, que aborda o assunto e mostra as principais ameaças no mar e em águas interiores, que poderão comprometer a sobrevivência e a prosperidade do Brasil, segundo ele. “Por muito tempo se sustentou que o Brasil é um país pacífico, isento de ameaças, com fronteiras estabelecidas. Mas hoje a gente vê que isso não é real, porque há diversas ameaças no ambiente marítimo, seja na área ambiental, da pirataria, da pesca predatória, tanto que recentemente tivemos o derramamento de óleo”, cita. Diante do cenário, Olsen afirma que a Marinha trabalha para preservar o espaço conhecido como Amazônia Azul, uma zona econômica marítima exclusiva do Brasil, espalhada por cerca de 5,7 milhões de quilômetros quadrados de oceano. “Essa área contém uma enorme quantidade de recursos importantes para a economia brasileira e para o planeta. É dali que é extraído 85% do petróleo brasileiro e 75% do gás. É por esse mar que passa ainda 95% do comércio exterior brasileiro”, comenta.

“Hoje a governança dos oceanos é uma cooperativa por excelência, mas precisamos de uma capacidade ativa que envolva um sistema que beneficia vários setores, como por exemplo, meio ambiente, minas e energia, CT&I e infraestrutura. O mar é muito caro e por isso, precisa de atenção”, finaliza.

Assista à conferência na íntegra pelo canal da SBPC no YouTube.

Vivian Costa – Jornal da Ciência