Memória e reconstruções sociais

Artigo da nova edição da Ciência & Cultura discute memória social e Comissões da Verdade nas Universidades Públicas no Ceará

Qual seria a relação entre memória social e a constituição da verdade? Para tentar responder essa questão, o artigo da nova edição da Ciência & Cultura se amparou nos depoimentos de ex-estudantes ou ex-professores classificados como militantes políticos, que sofreram violações dos direitos humanos por parte dos órgãos de repressão do regime militar implantado no Brasil em 1964, nas universidades públicas do Ceará. Este número da revista traz como tema “América Latina: Integração e Democracia”.

A Comissão da Verdade das Universidades Públicas do Ceará foi estabelecida em 2013 visando examinar as graves violações de direitos humanos ocorridas durante a ditadura militar no Brasil, especificamente nas universidades públicas. Esta Comissão forneceu informações cruciais para a Comissão Nacional da Verdade, identificando casos de professores, estudantes e funcionários que foram presos, torturados, desapareceram ou foram mortos durante aquele período. “Com implantação do AI-5, em 13 de dezembro de 1968, foi configurado um novo momento no plano da repressão, instaurando-se um clima de terror nas universidades, ocorrendo várias prisões e expulsões de estudantes, forçando a que uma boa parcela deles entrasse na clandestinidade”, explica César Barreira, professor do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Para o pesquisador, os depoimentos das vítimas desempenharam um papel central na reconstrução da memória e da verdade sobre essa época. Eles ressaltaram a ilegalidade das prisões, as expulsões arbitrárias e a violência física e psicológica sofrida. Além disso, destacaram a atuação de colaboradores infiltrados nas universidades e o papel importante do movimento estudantil na resistência.

Esses depoimentos também evidenciaram as perdas políticas e de cidadania sofridas ao longo do tempo, resultando em uma geração de líderes cerceada em seu desenvolvimento político. O estudo da memória social é fundamental para compreender a importância dessas narrativas na reconstrução da história e da verdade. A memória social transcende disciplinas e revela as complexas interações entre a memória individual e coletiva, proporcionando uma visão mais completa dos eventos históricos. “As práticas ditatoriais no Estado castraram e alijaram, em boa parte da vida política brasileira, toda uma geração que estava sendo formada e gestada na prática política estudantil; uma liderança que vivenciava práticas democráticas, em um clima político de compartilhamento”, ressalta César Barreira.

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