Memória, trauma e Ditadura no Brasil

Artigo da nova edição da Ciência & Cultura discute como a literatura testemunhal amplia a circulação social de experiências vividas individualmente, mas que ressoam coletivamente

As sociedades capitalistas modernas ocidentais foram, ao longo do século XX, sacudidas por eventos catastróficos e traumáticos, como o Holocausto em território europeu, e as Ditaduras Militares na América Latina. O testemunho desses acontecimentos é fundamental para evitar o seu esquecimento. E a literatura constitui um importante instrumento para a preservação dessa memória – assim como de luta contra a injustiça e a favor da reparação. Isso é o que discute artigo da nova edição da revista Ciência & Cultura, que tem como tema “América Latina: Integração e Democracia”.

Desde a Ditadura Militar, ao longo de seus 21 anos, e mesmo após – inclusive bem recentemente – parte considerável das elites políticas e econômicas, com o auxílio de setores da mídia e mesmo de intelectuais, empreenderam (e empreendem) um revisionismo histórico que trata um regime de exceção como revolução para o bem do país, produzindo silêncios e apagamentos, instituindo uma política da memória que pressupõe, igualmente, a fabricação de esquecimentos. “Tal política da memória, por conseguinte, mantém abertas feridas traumáticas e instala um luto insuperável, contribuindo para que o passado não passe, comprometendo o nosso futuro, mesmo quando essa política é invocada em nome da conciliação e da superação em prol da transição (supostamente) harmônica e saudável dos regimes autoritários para os democráticos”, destaca Enio Passiani, professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O pesquisador explica que, neste sentido, o romance testemunhal “Em câmara lenta”, do belenense Renato Tapajós, ocupa, posição destacada. Escrito durante a prisão do autor (entre 1969 e 1974), publicado pela primeira vez em 1977, censurado e republicado em 1979, o romance apresenta uma narrativa não linear, misturando presente e passado, oscilando entre primeira e terceira pessoas, com frases lacunares que revelam a dificuldade em verbalizar o evento traumático. “O romance testemunhal não deixa de representar uma espécie de trabalho coletivo de elaboração do passado traumático, uma vez que permite e amplia a circulação social de um conjunto de experiência dolorosas vividas individualmente, mas produto de condições sociais e históricas que ressoam coletivamente”, afirma.

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