Presidente da instituição não vê contradição entre ser um país industrializado e os investimentos em serviços
O dilema entre trabalhar para se tornar um país industrializado e caminhar para ser um país de serviços parece ser falso. A afirmação é de João Fernando Gomes de Oliveira, presidente da Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Ele comandou a conferência “O dilema entre manufatura e serviços. Economia circular e novos modelos de negócios”, que aconteceu na manhã do dia 14 de julho, na 67ª Reunião Anual da SBPC, que acontece em São Carlos (SP), até 18 de julho.
Para Oliveira, há uma tendência clara, em todo o mundo, de que a combinação de indústria e serviços é o caminho para ofertar maior qualidade à população em todo o mundo. Segundo ele, vivemos na era do PSS (Product Servive System), um novo conceito de negócio que combina desempenho e sustentabilidade. Ele citou o Uber, aplicativo que oferece um serviço semelhante ao táxi tradicional, como um dos exemplos mais recentes de PSS.
“A primeira ideia do PSS nasceu há 20 anos, em alguns setores de máquinas e equipamentos, sob a ótica que, ao invés de vender o produto você pode vender o custo do produto. Nossa retomada para a inovação poderia considerar isso, paralelamente com o conceito de economia circular, popularizado pela navegadora Ellen MacArthur para repensar práticas econômicas em função do reaproveitamento dos materiais e recursos. O conceito de PSS dá um freio nessa ideia de que inovação é oferecer um produto novo o tempo todo”, afirmou.
Foco da Embrapii
Em linha com as megatendências da indústria mundial, que inclui, além do PSS, estruturas leves, manufatura aditiva e processamento de biomassa, a Embrapii vem intermediando diversos projetos. Oliveira citou o acordo firmado entre o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e a Embraer para realizar pesquisas com foco no uso de fibra de carbono na indústria aeronáutica. O projeto está em curso no Laboratório de Estruturas Leves do IPT, em São José dos Campos (SP), para a produção de fuselagens com fibra de carbono.
“Estruturas leves são uma megatendência na indústria mundial. Produto mais leve gasta menos energia. O uso de fibra de carbono é uma alternativa para fugir dos metais e consumir menos energia”, pontuou.
Oliveira ressaltou que a Embrapii não privilegia projetos em função do porte da empresa. A meta da aproximação de um centro de conhecimento com o setor empresarial é permitir a absorção de conhecimentos em ambos os lados.
“Na estratégia da Embrapii, não há limitações para participação, o importante é o projeto e o que podemos aprender em conjunto. Estamos desenvolvendo um robô submarino para a British Gas para minimizar riscos de vazamentos na camada de pré-sal. Esse é um dos maiores projetos do Sistema Embapii e um bom exemplo porque pode trazer desenvolvimento para muitas outras empresas no Brasil”, destacou.
Engenheiro do futuro
Para finalizar a conferência, Oliveira fez uma provocação para a plateia, formada em grande parte por estudantes e pesquisadores da área de Engenharia. “Qual o desafio dos centros de conhecimento hoje em formar um profissional para atender as novas demandas da indústria e da economia? O que é formar uma pessoa? Na Engenharia, por exemplo, não há espaços para o engenheiro que é um mero recebedor de problemas. O engenheiro que a indústria quer e procura é um profissional que identifica o problema e busca a solução”, comentou Oliveira, destacando o trabalho inovador do Insper, instituição de ensino superior e de pesquisa, sem fins lucrativos, focada no ensino de Negócios, Direito e Engenharia.
Para Oliveira, as universidades precisam repensar o modelo de ensino, que acaba desestimulando o aluno, muitas vezes, a aguçar sua curiosidade e ousar em projetos de pesquisa. “Citei o modelo do Insper porque lá o aluno recebe um problema e corre atrás da solução. Depois ele conhece a teoria por trás do que produziu. O jovem gosta de desvendar mistérios. Temos que estar atentos a isso”, completou.
Na visão do presidente da Embrapii, a iniciação científica talvez seja a única forma para consertar o sistema. “Nas universidades, os maiores índices de qualidade estão nos alunos de iniciação científica, porque eles têm um método de aprendizado, que é mão na massa, tudo isso no automático, sem ter que negociar com ninguém. Acho que a iniciação científica cria um diferencial de motivação no aluno que nunca mais sai da cabeça dele”, completou.
(Suzana Liskauskas/Jornal da Ciência)