Aos 23 anos, Alessandra Stefanello, estudante do curso de Letras da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), é uma das vencedoras do 4º Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher, edição “Meninas na Ciência”, na área de Humanidades, nível Graduação, pelo trabalho “Um outro olhar para a língua: a posse da terra e o direito à propriedade”. Realizado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), neste ano a entidade premia a categoria “Meninas na Ciência”, cujas pesquisas de iniciação científica demonstraram criatividade, boa aplicação do método científico e potencial de contribuição com a ciência no futuro.
Stefanello começou a participar do mundo científico no segundo ano do Ensino Médio quando uma professora de Língua Portuguesa inscreveu sua turma na Jornada Acadêmica Integrada Jovem da UFSM, voltada às pesquisas de escolas do ensino médio da região. “No evento, apresentei o pouco que entendia como pesquisa, visto que apenas tinha elaborado um questionário sobre redes sociais e exposição. Como uma das melhores apresentações na área das linguagens, ganhei uma bolsa de pesquisa na Universidade, em que tive contato com uma professora das Letras e pude entender como é fazer pesquisa nas humanidades, ainda no ensino médio. Meu objeto de pesquisa, já naquela época, foi a questão da terra, mais especificamente, o discurso sobre o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) na mídia. Foi essa experiência que me fez escolher Letras e seguir na pesquisa”, comenta.
Nos primeiros dois anos de graduação, o discurso sobre o MST e sobre o agronegócio na mídia foram os temas de sua pesquisa. “A partir desses recortes, passei a me interessar pela história dos movimentos sociais da terra até chegar às leis sobre a terra. Analisei a nomeação de ‘beneficiários’ na Constituição Federal de 1988, acerca do sujeito sem terra. Nesse sentido, a possibilidade de produzir gestos de análise a partir da materialidade discurso-jurídica, levou-me à pesquisa atual, que envolve o tema do meu trabalho de conclusão de curso ‘A Lei de Terras de 1850, a primeira lei sobre a propriedade privada de terra, e o conflito de nomeações/designações (ocupar versus apossar) sobre a posse da terra’. Essa pesquisa possibilitou dar ‘outro olhar para a língua’, como intitulado no projeto, que discute a posse da terra e o direito à propriedade”, salienta.
Para Stefanello, pesquisar sobre o tema é, para além de uma escolha acadêmica, um recorte de sua realidade. “A história da terra me atravessa e me constitui, enquanto filha de agricultores familiares. Ganhar uma premiação de tamanho prestígio me motiva a seguir na carreira acadêmica, a continuar na área das Humanidades, mais especificamente, das Letras, e a marcar o lugar social da luta pela terra”.
A estudante tem como plano seguir na pesquisa e acabou de passar no mestrado no Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Meu principal objetivo é seguir na pesquisa científica. Ainda que seja desafiador, é onde me reconheço como sujeito político e social”, afirma.
A graduanda acredita que os prêmios são incentivos para querer seguir na área, mesmo diante de desigualdades e do pouco incentivo à pesquisa no Brasil. “Receber um prêmio como esse é motivador. Assim como o prêmio que recebi no Ensino Médio foi determinante para seguir o caminho da pesquisa científica, o Prêmio Carolina Bori é determinante para continuar nele. Tenho certeza que incentivará meninas e mulheres a começarem e a seguirem na ciência”.
A premiação
Nesta edição, a SBPC recebeu indicações de 446 candidatas de 223 instituições de todas as regiões do País. Foram 126 indicadas para a categoria Ensino Médio e 320 para a Graduação, categoria subdivida entre três grandes áreas do conhecimento: Biológicas e Saúde (126), Engenharias, Exatas e Ciências da Terra (103) e Humanidades (91).
Uma comissão julgadora escolheu nove vencedoras, sendo três do Ensino Médio e seis da Graduação. Também foram concedidas nove menções honrosas, sendo três do Ensino Médio e seis da Graduação. Na área de Humanidades, além de Alessandra Stefanello, também foi premiada a estudante Denise Barrozo de Paula, graduanda em Psicologia na Universidade Municipal de São Caetano do Sul, pelo projeto “Representações, sentidos e valores da menina negra na literatura infantojuvenil: um estudo a partir do livro ‘A Cor da Ternura’, de Geni Guimarães”.
A cerimônia de premiação, que contará com a participação das vencedoras, será realizada no dia 10 de fevereiro, no Auditório do CEUMA (Rua Maria Antônia, 294 – 3º andar – São Paulo/SP). A data do evento foi escolhida em celebração ao Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, instituído pela Unesco. O evento será aberto a todos e contará com transmissão pelo canal da SBPC no YouTube, a partir das 15h.
Vivian Costa – Jornal da Ciência