Milhares de pessoas participam no País inteiro da Marcha Virtual pela Ciência

Debates virtuais sobre a pandemia e a ciência foram realizados em todo o Brasil. Aplicativo francês que levou avatares de manifestantes ao Congresso Nacional conquistou o dobro de presença em relação ao original francês; site da SBPC bateu recorde de acessos

A Marcha Virtual pela Ciência superou todas as expectativas da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que organizou o evento nesta quinta-feira (7/5) junto a suas Secretarias Regionais e Sociedades Científicas Afiliadas, e dezenas de instituições científicas e acadêmicas de todo o País. “Foi um grande sucesso, debates no País inteiro e muitas visualizações e participações das pessoas. Tivemos atividades virtuais em todos os estados e houve boa repercussão na mídia”, comemorou o presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira.

A Marcha teve, na programação nacional, dois painéis de debates e duas convocações de “tuitaços”, além de outros cerca de 40 debates paralelos, realizados ao longo de todo o dia e organizados por sociedades científicas, universidades e outras instituições. No balanço da programação nacional, os dois painéis tiveram 57 mil visualizações nas páginas da SBPC no YouTube e Facebook, com um alcance de 195 mil usuários.

No Twitter, a Marcha foi um dos assuntos mais comentados durante todo o dia. Com o engajamento e participação de pesquisadores, professores, técnicos, estudantes, instituições, parlamentares, gestores, divulgadores científicos e amigos da ciência, duas hashtags entraram para os assuntos mais comentados da plataforma: #paCTopelavida (2º lugar) e #MarchaVirtualpelaCiência (4º lugar) com mais de 30.000 “tuítes” e alcance de mais 500 mil usuários da plataforma.

A busca por informações da Marcha Virtual pela Ciência, que constavam no portal da SBPC, foi tão intensa que resultou numa queda do portal pela alta demanda nos acessos por hora – cerca de 3.000. Somente no dia da Marcha, o portal teve mais de 28 mil visitas – número muito superior ao de acessos diários.

Avatares em Brasília

A Marcha – que está na sua sétima edição – teve todas as atividades realizadas de forma virtual, inclusive uma  manifestação digital através do aplicativo Maniff.app. Adaptado pela SBPC a partir de uma ferramenta criada na França, a página brasileira do Maniff registrava, na noite desta quinta-feira, 15.800 participantes logados, a grande maioria ocupando a frente do Congresso Nacional em Brasília por meio de avatares, portando “cartazes” com palavras de ordem.

O número foi 75% acima do registrado no pico de manifestações virtuais na França com o Maniff.app, que foi no Dia Mundial do Trabalho (1º de Maio), com 9 mil participantes. O dado é do próprio desenvolvedor do aplicativo, o webdesigner Antoine Schmitt, que por todo o dia ficou monitorando o desempenho do Maniff no Brasil, segundo relato da diretora da SBPC, Claudia Linhares.

Schmitt deu suporte quando, em alguns momentos, o site apresentou problemas pelo excesso de acessos. “Eu disse ao Antoine que seria algo grande, mas acho que ele não esperava tanto”, afirmou Linhares, que fez a tradução do site para o português. Para ela, o número de participantes pode ter ultrapassado os 20 mil, já que muitos não conseguiram entrar nos momentos de pico e podem ter desistido.

Engajamento

“Essa Marcha foi muito importante”, afirmou Ildeu Moreira. “Houve uma mobilização grande por todo o País e deu oportunidade aos cientistas, médicos  e pesquisadores, inclusive aqueles que estão na linha de frente do combate ao coronavírus, de apresentar o quadro real da pandemia no país e fazer uma avaliação das medidas adequadas e as maneiras de se enfrentar a covid-19; e isto, de forma aberta, onde todos os interessados puderam assistir”, avaliou.

Ficou claro, disse Moreira, que a ciência brasileira, seus pesquisadores, técnicos e estudantes, espalhados em instituições de ensino e pesquisa de todo o País, têm colaborado bastante no combate à covid-19 e podem ajudar muito mais, dependendo da adoção de políticas públicas adequadas.

Para o presidente da SBPC, o fato inédito de ter levado mais de 15 mil pessoas para uma manifestação em Brasília – ainda que de forma virtual – com o tema da Ciência e Tecnologia, já é uma prova de que as pessoas estão interessadas na mensagem do Pacto pela Vida, que norteou todo o evento.

O Pacto pela Vida e pelo Brasil foi um manifesto elaborado e assinado, no início de abril,  por diversas entidades nacionais: a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, a SBPC, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI). O documento, que foi divulgado amplamente, entregue ao STF e encaminhado a outras autoridades,  afirma a importância da união de toda a sociedade no enfrentamento da grave crise sanitária e econômica do País, prega que são essenciais neste momento a adoção das medidas sanitárias sugeridas pelos organismos de saúde e pela ciência, bem como atitudes de solidariedade, a disciplina e a conduta ética, por parte de todos; ele cobra também  transparência nas ações do governo.

Moreira destacou como muito importante a participação na Marcha do público em geral, mas também de parlamentares (deputados e senadores),  governadores, secretários de estado, gestores, reitores, além das 150 sociedades científicas afiliadas e organizações parceiras, como a Andifes, Conif, ABC, ANPG, Confap, Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) e diversos outras instituições, como museus de ciência e organizações da sociedade civil. Mais de 800 depoimentos em vídeo foram feitos por esses atores e suas instituições e todos estarão disponíveis no portal da SBPC.

A expectativa, diz o presidente da SBPC, é que a mobilização ajude a avançar no combate à pandemia e também em pautas de interesse da ciência e pensar políticas públicas para a inovação e o desenvolvimento que interessam não só à comunidade de cientistas, mas a todos os brasileiros. Ele espera também uma abertura maior para diálogo com o governo.

“É fundamental que nesse momento difícil haja recursos para ciência, tecnologia e inovação adequados, com pouca burocracia, voltados para o enfrentamento da pandemia, para o sistema de saúde, os profissionais de saúde, e também para atender as camadas mais pobres da população que estão duramente atingidas. E, na sequência, para a CT&I colaborar com a recuperação econômica”, disse Moreira.

Renovação

Para Claudia Linhares, o evento renovou as forças da comunidade para “o bom combate” que é mostrar relevância da ciência para tomada de decisões, tanto de ordem sanitária, quanto política e social. “A ciência é um pilar da sociedade”, afirmou Linhares, celebrando o fato de que a Marcha teve grande repercussão na mídia e foi “abraçada” por vários segmentos da sociedade. “É também um sinal da força da SBPC, pelos seus 72 anos de luta”, acrescentou a diretora.

Linhares destacou a importante atuação das Secretarias Regionais da SBPC, que conseguiram mobilizar ações em todas as regiões do Brasil onde atuam. No mapa da programação no País, publicado no site da SBPC, todos os estados tiveram atividades sinalizadas e isso se deve muito aos esforços dos secretários regionais da SBPC. “Isso é uma grande conquista da Marcha também. Espero que esse ambiente de colaboração conjunta perdure”, disse a cientista.

Segundo Ildeu Moreira, a Marcha disparou uma série grande de eventos virtuais organizados por grupos de estudantes e pesquisadores, sem conexão direta com a SBPC, impulsionados pela manifestação a nível nacional. Os próximos passos são a realização de comemorações virtuais no Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador (8/7) e uma série de conferências e debates virtuais que ocorrerão na semana de 12 a 18 de julho, no período em que seria realizada a 72ª Reunião Anual da SBPC, em Natal (RN), adiada devido à pandemia.

Janes Rocha e Carlos Henrique Santos – Jornal da Ciência