A atividade mineradora tem grande capacidade de aporte ao desenvolvimento dos países que guardam recursos minerais em seus territórios, desde que siga boas práticas para minorar os impactos sociais e ambientais. Essa avaliação era comum entre os participantes do painel “Mineração” promovido na tarde de quinta-feira (24/6) pela Associação Interciência, organização internacional que reúne entidades de todo o continente Americano.
Com moderação do presidente da entidade, o engenheiro Augusto Sanchez Valle, da Asociación Boliviana para el Avance de la Ciencia y Tecnología, o evento virtual contou com a participação de Ileana Boschini López, da Dirección de Geología Y Minas Costa Rica, Noel Mariño, da Academia Nacional de la Ingeniería y el Hábitat, da Venezuela, e Luis Fernández, do Centro de Innovación Científica Amazónica (CINCIA), dos EUA e Perú. A apresentação foi de Ana Teresa Vasconcelos, vice-presidente da Interciência e diretora recém-eleita da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Os especialistas debateram questões técnicas como o uso mercúrio e cianeto na exploração, e socioeconômicas, como ilegalidade e falta de apoio do Estado.
“O desenvolvimento mineiro é muito desigual entre os países”, afirmou Ileana Boschini López. Para ela, a mineração tem sido injustamente “satanizada”, especialmente pelo seu impacto ambiental. Na visão dela, é preciso considerar o potencial de aporte ao desenvolvimento da região, o que não significa necessariamente aceitar os danos ao meio ambiente.
“Há impactos ambientais, mas se pode minimizar e compensar”, afirmou. Boschini López acrescentou que a mineração exerce um papel essencial na transição energética para fontes alternativas. “Sem a mineração, essa transição não será possível”, concluiu.
“Estou de acordo que não se deve satanizar a mineração e os mineiros”, afirmou Luís Fernández, que tem os efeitos ambientais como alvo de suas pesquisas. O pesquisador do CINCIA peruano lembrou que aqueles que praticam a atividade em pequena escala são, por várias razões, pessoas que buscam uma renda para sustentar sua família. “Muitas vezes não é o garimpeiro, mas a sociedade em que estão trabalhando que incentiva atividades danosas, não só para o meio ambiente, mas para a saúde deles. E, se fazem uso do mercúrio, (comprometem) o futuro de seus filhos”.
Para Fernández, fatores complexos como pobreza, falta de recursos e crédito, capacitação técnica e apoio do Estado não deixam muitas opções para esses garimpeiros, especialmente quando não fazem parte de um sistema organizado. “É um problema de tecnologia, de governança, de sistemas econômicos que deem apoio a seus setores de baixa renda e também falta de consciência do valor do meio ambiente, em combinação com a vida humana.”
Segundo Noel Mariño, no caso da Venezuela a produção é dominada por pequenos garimpeiros, já que as grandes mineradoras deixaram o país devido à nacionalização. O nível de vida destes mineradores, porém, é muito baixo, ganham pouco, utilizam práticas ultrapassadas e poluentes de exploração e alguns criaram grupos armados organizados para se defender. Para ele, deixar a satanização da mineração requer ordenação, uma empresa de prospecção e exploração sobre as bases de boas práticas mineiras. “Só assim entramos em uma mineração responsável.”
O painel “Mineração” é o terceiro e último de uma série de discussões sobre como o meio ambiente pode ser protegido, permitindo, ao mesmo tempo, o desenvolvimento econômico, proporcionando uma melhor qualidade de vida para toda a população, sem exclusões ou favoritismos. O primeiro debate, que abordou as mudanças climáticas, intitulado “Proteção ambiental e desenvolvimento da região americana”, foi realizado no dia 29 de abril. O segundo painel, realizado no dia 27 de maio, abordou o desmatamento.
Assista ao painel “Mineração” na íntegra, pelo canal da SBPC no Youtube.
Jornal da Ciência