A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) lamenta profundamente o falecimento da socióloga Maria David de Azevedo Brandão, aos 92 anos, no último domingo (21/09). Professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Brandão dedicou sua carreira acadêmica para olhar o impacto das transformações urbanas e sociais em Salvador e pelo Brasil.
Filha do médico e antropólogo Thales Olímpio Góes de Azevedo e de Mariá David de Azevedo, nasceu no dia 18 de maio de 1933, na capital baiana. Em 1956, graduou-se em Ciências Sociais pela UFBA, entidade onde viria a integrar o departamento de Sociologia anos mais tarde.
Como pesquisadora, a relação entre reestruturação urbana e desigualdade social lhe chamou a atenção, principalmente em uma Salvador que mudava rapidamente sob os efeitos da exploração de petróleo.
A pesquisadora também fez uma série de especializações em diversos centros de pesquisa como o Museu Nacional, a Columbia University, a London School of Economics, a University of Pennsylvania e a Université de Paris – Sorbonne Nouvelle.
“Não falta ao Brasil uma disposição a urbanizar-se. Tudo se urbaniza, não importando se essa urbanização desnutre, desampara, desabriga. Por meio século, o país marcha sob uma urbanização impenitente”, escreveu em 1994, em texto disponível na coletânea “Mundo e lugar: a urbanidade do pensamento de Maria Brandão”, publicada pela UFBA.
Na SBPC, foi sócia ativa desde 1970. Entre 1979 e 1981, também atuou como Secretária Regional na Bahia. Crítica da coerção que cientistas viveram na ditadura militar, e também questionadora sobre o papel da entidade neste período, Brandão foi uma das personalidade que abriu a 33ª Reunião Anual da SBPC, que aconteceu de 8 a 15 de julho de 1981 na UFBA, e usou sua fala para defender a democracia:
“Este país que aí está crescendo, tão pouco democrático em termos culturais, tão pouco afeito à prática de uma tolerância de variedades de comportamentos e valores, precisa ser diverso para sobreviver.”
Diretora da SBPC, a professora Marilene Corrêa teve a oportunidade de conviver com Brandão e afirma a morte de Brandão é uma perda de um olhar humanizado às relações urbanas.
“A comunidade científica da Antropologia, das Ciências Sociais, do Brasil e da Universidade Federal da Bahia perde Maria David Azevedo Brandão, muito importante aos estudos brasileiros e na abordagem da problemática social e econômica da desigualdade. Nesse momento, a SBPC lhe presta uma homenagem pelos serviços que ela prestou ao Brasil, aos processos de formação na UFBA e à disseminação da cultura brasileira, a partir do momento que ela também é escritora, coordenadora de obras, com vários livros publicados, e isso nos deixa um legado importante para a compreensão do desenvolvimento científico do nosso País.”
Professor da Universidade Federal da Bahia, Nelson Pretto conheceu Brandão durante os preparativos da 33ª Reunião Anual da SBPC e lembra quando, na época, como a UFBA não possuía grandes espaços para receber a programação do evento, foi criada uma grande tenda de circo, onde se reuniram grandes nomes, como Milton Santos, Maria Conceição Tavares, Waldir Pires, Josaphat Marinho, Pérsio Arruda e José Goldemberg.
“Maria Brandão, como era conhecida entre nós na academia, era uma figura forte e de presença marcante. Eu era ainda um jovem professor da UFBA, e desde aluno de graduação já era sócio da SBPC. Quando a 33ª Reunião Anual aconteceria aqui em Salvador, a procurei para me colocar à disposição para ajudar a organização. Foi um tempo que a conheci bem de perto e passei a admirá-la.”
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Perfil de Maria Brandão – Sociedade Brasileira de Sociologia
Rafael Revadam – Jornal da Ciência, com apoio do Centro de Memória Amélia Império Hamburger (CMAIH)



