O presidente da Capes, Anderson Ribeiro Correia, falou nessa segunda-feira, 22 de julho, na 71ª Reunião Anual da SBPC sobre as perspectivas para a pós-graduação no Brasil. Em um momento de apreensão e incertezas, Correia assegurou que não é intenção do órgão promover nenhuma mudança drástica no sistema, especialmente na avaliação dos cursos.
“Ninguém vai dar cavalo de pau. Não vamos fazer nenhuma mudança radical. Serão mudanças paulatinas, com diálogo. Estamos olhando para metas de longo prazo”, garantiu.
Os objetivos da Capes, para os próximos anos, é, segundo ressaltou Correia, elevar o impacto e a relevância das pesquisas desenvolvidas no País e promover maior aproximação com a indústria. A estratégia, para tanto, passa por ampliar o número de pesquisadores em nível de doutorado, aumentar o valor das bolsas para tornar a atividade mais atrativa aos jovens e elevar o rigor das avaliações. Há seis anos o valor das bolsas de estudos se mantém no mesmo patamar, sem reajustes, o que impacta no interesse de estudantes em seguirem a carreira científica.“Queremos dar o apoio necessário para chegarmos nesse patamar de impacto que desejamos”.
Atualmente, a Capes oferece ao ano cerca de 100 mil bolsas de pós-graduação no País – dessas, 43 mil são para doutorandos e 7 mil para pós-doutores. Ainda oferece cerca de 5 a 10 mil bolsas de pesquisas no exterior todos os anos, mesmo em tempos de contingenciamento.
Segundo Correia, a agência pretende fazer uma revisão da concessão de bolsas de PG em todo o Brasil. Essa reforma baseia-se em quatro variáveis: nota, área, nível e localização geográfica. Os quatro pontos ajudarão o órgão as definir as prioridades para investimento.
Nesse cenário, os cursos mais antigos com notas 3 e 4 nas avaliações são os primeiros na mira da agência quando o assunto é cortar o número de bolsas ofertadas. “Os novos (cursos), nós ainda conseguimos poupar”, disse. “Trabalhamos também com ações para reduzir as assimetrias regionais. Não podemos dar ao Norte e ao Sudeste o mesmo tratamento, por exemplo. Cada região tem sua particularidade”, afirmou. Segundo ele, esforços vêm sendo feitos no sentido de poupar ao máximo as regiões mais vulneráveis dos cortes.
“Trabalharemos para evitar que grandes programas, em cidades ricas, não tenham notas 3 ou 4. A solução para esses programas que não atingem a média mínima será ou fazer fusão, ou encerrar, ou trabalhar com investimentos pesados para que eles alcancem níveis melhores”, disse Correia. Apesar de garantir a sobrevivência dos cursos com nota 3 e 4 em regiões mais vulneráveis, o presidente da Capes disse que os cursos que não ultrapassarem a média de 2 pontos serão fechados.
Paralelamente, a agência planeja repensar todo o modelo de avaliação da pós-graduação. A internacionalização e a interação com setores não-acadêmicos – aproximação com indústria -, deverão entrar nos critérios, bem como o planejamento estratégico das instituições e o aprimoramento do Qualis, o sistema de avaliação de periódicos da Capes.
“Temos sido muito benevolentes com o Qualis. Temos que avançar no impacto da produção científica e priorizar as revistas com melhor avaliação”, defendeu Correia.
Presente ao debate, a presidente da ANPG (Associação Nacional de Pós Graduandos), Flávia Calé, concordou com a necessidade fortalecer o doutorado, porém ponderou que o mestrado não pode perder a importância nesse processo. “O fortalecimento do doutorado não pode acontecer em detrimento do mestrado”, declarou. Calé reforçou a necessidade de reajuste no valor das bolsas. Segundo o presidente da Capes, a questão já foi levada ao ministro e “ele se mostrou simpático à ideia”.
Daniela Klebis – Jornal da Ciência