O Jornal da Ciência Especial celebra nesta edição o centenário de nascimento de Carolina Martuscelli Bori. Uma pioneira da ciência e da política científica, que introduziu no Brasil a Análise Experimental do Comportamento, em uma época em que a psicologia era ainda um campo de estudo novo e pouco explorado no País, e que foi também a primeira mulher a presidir a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Eleita em 1987 por maioria dos votos dos sócios ativos da entidade, furou uma bolha em um espaço que por décadas fora dominado por homens. Foi preciso coragem, determinação e muita habilidade diplomática para se destacar nesses meios, mas essas eram características inatas dessa grande cientista.
Carolina falava com fervor sobre a importância da ciência se aproximar do público, do poder e de se espalhar por todos os setores da nossa sociedade – de ampliar o conhecimento científico e seu alcance.
Sua atuação política foi desde a defesa da regulamentação da profissão de psicólogo e o estabelecimento do primeiro currículo mínimo para a formação de psicólogos no País, até a mobilização da comunidade científica para a elaboração de propostas para a nova Constituição Federal de 1988. Foi ela quem entregou a proposta oficial da comunidade à Assembleia Constituinte em abril de 1987. Passou por diretorias de diversas sociedades científicas, como a Associação Brasileira de Psicologia, a Sociedade de Psicologia de São Paulo, a Associação de Modificação de Comportamento e a Sociedade Brasileira de Psicologia, além, claro, da SBPC.
Carolina Bori orientou mais de uma centena de teses e dissertações e seu legado científico atravessa gerações de pesquisadores. Por suas contribuições, recebeu muitos títulos e homenagens de universidades brasileiras e instituições internacionais – foi, inclusive, a primeira mulher a receber um título de doutor honoris causa da UnB. Ela também teve um filho, Mario Eppler Bori, com o jornalista italiano Giovanni Bori.
Seguiu dedicando-se às suas paixões mesmo após aposentar-se. Colaborou com a Comissão de Especialistas de Ensino de Psicologia do Ministério da Educação e continuou desenvolvendo atividades no Núcleo de Pesquisa sobre Ensino Superior na USP até falecer, aos 80 anos, em 4 de outubro de 2004, na mesma cidade em que nasceu.
Em sua homenagem, a SBPC lançou recentemente o “Memorial Carolina Bori”, um portal virtual que reúne depoimentos memoráveis da cientista e de pessoas que compartilharam experiências com ela, uma ampla bibliografia, uma rica coleção de fotografias, além de um gráfico de sua árvore genealógica acadêmica.
A SBPC também criou, em 2019, o Prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher”, dedicado a jovens e promissoras estudantes e, também, às cientistas de notório talento e impacto no País. A premiação chegou à sua 5ª edição em 2024 com uma cerimônia ainda mais especial, que celebrou a vida e o legado de Carolina Bori com um dia inteiro de atividades, na sede da entidade, em São Paulo, no dia 6 de fevereiro.
Esse é só o começo, outros eventos ao longo de 2024 marcarão o centenário dessa mulher especial que muito honrou a SBPC com sua liderança e luta. Por enquanto, deixamos nas próximas páginas um pouco da biografia e da importância de Bori para a educação, a ciência e a psicologia.
A nova edição do Jornal da Ciência está disponível para download gratuito neste link.
Boa Leitura!
Renato Janine Ribeiro, presidente da SBPC e professor titular da USP
Fernanda Sobral, diretora da SBPC e professora emérita da UnB