Será o primeiro brasileiro a ocupar a diretoria do departamento de ciências nucleares e aplicações em 56 anos de existência da AIEA.
Pela primeira vez, o Brasil assumirá a diretoria do departamento de Ciências Nucleares e Aplicações da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), da Organização das Nações Unidas (ONU). O escolhido é Aldo Malavasi, presidente da Biofábrica Moscamed Brasil (BMB) e atual secretário geral da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) que assumirá o posto em 1º de agosto, em substituição a Daud Mohamad, da Malásia.
Malavasi será o segundo brasileiro a ocupar o posto em 56 anos de existência da AIEA. O primeiro brasileiro foi Hélio Bittencourt, no final da década de 70. Variavelmente, a diretoria do departamento (DDG) de Ciências Nucleares e Aplicações é representada por países em desenvolvimento ou pelas economias desenvolvidas. Tradicionalmente, a AIEA conta com seis DDGs, cargos revezados a cada triênio, além da diretoria geral, hoje nas mãos do japonês Yukya Amano.
Na AIEA, o departamento de Ciências Nucleares e Aplicações desenvolve, por exemplo, tecnologias principalmente para agricultura e medicina para países pobres e em desenvolvimento. Dessa forma, um dos desafios de Malavasi na equipe do japonês Amano, em Viena, é criar novos laboratórios de aplicação de energia nuclear em medicina e agricultura, nos próximos três anos.
A intenção de Amano, segundo adiantou Malavasi, é modernizar os equipamentos dos laboratórios de tal departamento, situados em Seibersdorf, na Áustria, hoje considerados cinquentenários. “Um dos grandes desafios do novo DDG é construir os novos laboratórios em substituição aos (antigos)”, explicou Malavasi.
Para fazer frente a esses desafios, Malavasi afirmou que contará com sua expertise na captação de recursos, principalmente, de países ricos. Ele disse ser “um bom fundraiser”.
Malavasi fez questão de informar que a Moscamed, situada no Vale de São Francisco (BA/PE), é uma das empresas beneficiárias das tecnologias desenvolvidas pela AIEA. “A linhagem da Moscamed foi desenvolvida pela AIEA que é usada no mundo inteiro. Eu era um beneficiário e agora vou ser gestor (de um dos departamentos da Agência Internacional)”.
Sem querer caracterizar o mérito de assumir uma das diretorias da AIEA pela primeira vez em mais de 30 anos, Aldo afirmou que sua escolha reflete o esforço da qualidade que a ciência brasileira vem desempenhando internamente. “É um esforço de todos”. Nesse caso, Malavasi fez questão de frisar o apoio dos ministros Luiz Alberto Figueiredo (Ministério de Relações Exteriores), de Marco Antonio Raupp (do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação), do embaixador brasileiro Laércio Antonio Vinhas, além da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
Antes de ingressar na equipe do japonês Amano, Malavasi foi membro do Standing Advisory Group for Nuclear Applications (Sagna) da AIEA e há anos é consultor da AIEA. Graduado em Ciências Biológicas (Biologia Genética) na Universidade de São Paulo (1972), Malavasi fez mestrado e doutorado em Genética também pela USP e Pós-doc na Universidade de Texas e fellow na Universidade de Massachussetts.
Malavasi foi também coordenador regional do Projeto de Erradicação da Mosca-da-carambola, no Suriname, em 1997. É professor titular aposentado do departamento de Genética da USP, dentre outras atribuições. Na SBPC ocupou vários cargos na diretoria.
Transição na SBPC e Moscamed
O processo de sucessão na Moscamed vem sendo preparado há dias. A presidência da empresa será assumida pelo atual diretor-executivo, Jair Virgínio. Na SBPC, Malavasi informou que será uma transição tranquila.
O especialista ficará na SBPC até o último dia da Reunião Anual da instituição, no Acre na semana de 22 a 27 de julho na Universidade Federal do Acre (UFAC), em Rio Branco. Malavasi embarcará para Viena em 30 de julho e assumirá o posto no dia primeiro do mês seguinte.
Malavasi foi designado ao cargo na AIEA no dia 03 deste mês. A intenção da direção geral da AIEA era que ele assumisse o posto em abril. Ou seja, o mais rápido possível. A ida de Malavasi, porém, foi adiada em razão da Reunião Anual da SBPC. Antes de ir para Viena, definitivamente, Aldo passará pelo processo de transição na Agência, a partir deste mês.
(Viviane Monteiro/ Jornal da Ciência)