A educação como ferramenta de transformação social, como forma de reconhecer e reivindicar direitos, como prática de liberdade – ou seja, como um ato político. Essas eram ideias defendidas por Paulo Freire, um dos educadores e pensadores brasileiros mais respeitados mundialmente. E em um momento marcado pela irracionalidade e pelo negacionismo, nunca a voz de Paulo Freire se fez tão importante para a preservação da democracia e do estado de direito na sociedade brasileira, afirmou o historiador José Eustáquio Romão.
Romão foi convidado da conferência “A obra de Paulo Freire”, realizada nesta terça-feira (20) na 73ª Reunião Anual (RA) da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Romão acompanhou de perto o educador brasileiro durante 11 anos e trabalhou com Freire quando este foi secretário de Educação da Prefeitura de São Paulo (de 1989 a 1992). Diretor-fundador do Instituto Paulo Freire, Romão busca divulgar e efetivar a obra do educador no Brasil e no mundo. O evento foi apresentado por Maria do Carmo Figueiredo Soares, professora Associada da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e secretária regional da SBPC-PE.
“Paulo Freire não foi só um dos maiores educadores do século 20, mas também um dos maiores filósofos de seu tempo. Digo isso com base em pesquisas que foram realizadas em outros países que comprovaram que a sua obra é uma das mais demandadas, traduzidas, e lidas no planeta. Freire não é apenas um educador, um alfabetizador, um criador de um método, mas um pensador, e sua obra tem que ser lida nesse sentido”, frisou Romão.
A conferência também celebra o centenário de Paulo Freire, um dos educadores e pensadores brasileiros mais respeitados mundialmente. Nascido no Recife (PE), em 19 de setembro de 1921, Freire é o brasileiro que mais recebeu títulos honoris causa pelo mundo, tendo sido homenageado em pelo menos 35 universidades brasileiras e estrangeiras. Publicou 14 livros como autor único e mais dez em parceria com outros educadores. Sua obra mais conhecida, “Pedagogia do Oprimido”, já foi traduzido em 17 idiomas. Diversos centros de estudo ao redor do globo se dedicam a estudar sua obra. A edição especial do “Jornal da Ciência” também celebra o centenário de nascimento do educador e pode ser lida neste link.
“A melhor maneira de homenagear qualquer pensador é não deixá-lo morrer, é não deixar sua memória desaparecer; ao contrário, é considerá-lo importante nos dias de hoje e que suas categorias de análise e suas propostas ainda seriam válidas para resolver problemas da humanidade”, aponta Romão. Segundo o historiador, a obra Freire continua atual em um momento em que o País assiste ao questionamento dos valores democráticos, ao aprofundamento das desigualdades sociais, até mesmo a ataques e perseguições a instituições de pesquisa e ensino.
“Na pedagogia do oprimido, Freire diz: ‘somente o oprimido em se libertando, liberta também o seu opressor’. Quando o oprimido descobre que não deve imitar o opressor, que não deve ocupar seu lugar, mas sim mudar as relações de opressão, neste momento o oprimido se liberta e avança, e faz a humanidade inteira avançar”, afirma Romão.
Assista à conferência na íntegra, no canal da SBPC no YouTube.
Christiane Bueno – Jornal da Ciência