As estatísticas são incontestáveis. Dois anos depois da eclosão da pandemia do coronavírus, um novo bilionário surgiu a cada 26 horas e os dez homens mais ricos do mundo dobraram suas fortunas, enquanto mais de 160 milhões de pessoas foram empurradas para a pobreza, informa a ONG Oxfam.
A concentração de renda já era elevada antes da covid-19, mas havia uma tendência de redução da pobreza extrema no mundo, segundo um estudo do Banco Mundial divulgado em outubro. A crise sanitária interrompeu esse curso. Em 2021 a renda média das pessoas que se situam entre os 40% que menos ganham ficou 6,7% menor do que as projeções pré-pandemia, enquanto a das pessoas situadas entre os 40% que mais ganham, caiu 2,8%.
A razão para essa diferença é que os 40% mais pobres nem começaram a recuperar suas perdas de renda, enquanto os 40% mais ricos já recuperaram mais de 45% de suas perdas iniciais de renda. Entre 2019 e 2021, a renda média dos 40% mais pobres caiu 2,2%, enquanto a renda média dos 40% mais ricos caiu 0,5%. Hoje, diz a Oxfam, há cerca de 97 milhões de pessoas a mais vivendo com menos de US$ 1,90 por dia por causa da pandemia, aumentando a taxa de pobreza global de 7,8% para 9,1%.
Esta edição do Jornal da Ciência traz reportagens especiais enfocando este que é um dos mais graves problemas da humanidade na atualidade. Nas próximas páginas, pesquisadores das ciências econômicas e sociais expressam sua visão do problema da desigualdade, ajudam a entender os processos que levam a ela e opinam como se pode sair dessa situação.
Adiantamos que não há saídas fáceis.
A China, por exemplo, conseguiu tirar 850 milhões de pessoas da miséria, feito considerado notável pela comunidade internacional. Porém, demorou 40 anos em um contexto político-social e econômico muito particular. A cientista política Elisa Reis analisa o papel das elites nos índices vergonhosos de desigualdade ostentados pelo Brasil. Estes indicadores se acentuaram nos últimos dois anos, não apenas pela covid19, mas por uma conjunção de fatores políticos: uma política econômica que beneficia os mais ricos e uma legislação que impede o pouco que se pode fazer em políticas públicas para aliviar a falta de renda e sua má distribuição.
A Ciência, Tecnologia & Inovação seria um instrumento poderoso para interromper a marcha da desigualdade no Brasil, sustenta a economista Esther Dweck, ex-secretária de Orçamento (SOF) do Ministério do Planejamento no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Em entrevista exclusiva, Dweck fala da impossibilidade criada pela emenda do Teto de Gastos (EC-95) e da necessidade de criar um “piso” mínimo orçamentário para a CT&I, hoje completamente desprotegida e a caminho da destruição.
O Jornal da Ciência Especial traz ainda um artigo da professora Claudia Costin sobre o futuro da educação no País tendo em vista todo o estrago causado pela covid-19. Este JC Especial, assim, desenha rumos que o Brasil pode e deve trilhar, a fim de ser um país justo e próspero para todos, o que é um dos papéis essenciais da ciência, da cultura e da educação.
E para não ficar só nas más notícias, uma reportagem sobre a terceira edição do Prêmio Carolina Bori Ciência & Mulher, que este ano agraciou três cientistas inspiradoras: a astrônoma Beatriz Leonor Silveira Barbuy, a sanitarista Gulnar Azevedo e Silva, e a educadora Nilma Lino Gomes.
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Renato Janine Ribeiro | Presidente da SBPC
Fernanda Sobral | Vice-presidente da SBPC