
Apesar do Brasil voltar a ver, desde 2022, certa estabilidade nos recursos federais destinados à Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), o País ainda enfrenta desafios relacionados à implementação prática do conhecimento e seu consequente impacto na vida das pessoas. Para o professor Aldo Zarbin, novo vice-presidente eleito da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a expansão da CT&I e os próprios movimentos para desenvolvimento da nação passam por um caminho em comum: a Educação.
“Se a gente pensar em desenvolvimento social, em redução de desigualdades, melhor distribuição de renda, em aumentar as oportunidades para as pessoas, a gente está falando fundamentalmente de Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação, não tem como fugir disso. E quando a gente pensa mais ainda em economia, nessa visão um pouco ortodoxa de fazer a economia crescer, ela não crescerá se não for diretamente relacionada à CT&I e Educação. Porque você não tem como fazer um país crescer só vendendo commodities e só prestando serviços. Nós precisamos de qualidade, precisamos de uma economia baseada no conhecimento”, pondera o professor.
Zarbin explica que a economia pautada no conhecimento é aquela em que há o estímulo em grandes valores agregados, especificamente trabalhando a incorporação da tecnologia no mercado de trabalho. “Isso não se faz sem ter gente formada em alto nível e sem ter uma base de CT&I extremamente robusta no país. Então, são investimentos pensando em todas as áreas”, complementa.
Aldo José Gorgatti Zarbin é professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Químico, formado e pós-graduado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), desenvolve pesquisas relacionadas à preparação de diferentes materiais em escala nanométrica, campo em que é referência internacional. Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico, entregue pela Presidência da República em 2023, é também fellow da Royal Society of Chemistry (RSC) e sócio efetivo da Sociedade Brasileira de Química, onde foi presidente entre os anos de 2016 e 2018.
Zarbin é também membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), onde atuou como um dos coordenadores em 2024 da série de encontros mensais “Fórum do Ensino Superior”, realizada em parceria com a SBPC, e integrou o corpo de pesquisadores da obra “Um Olhar Sobre o Ensino Superior no Brasil”, disponível para download gratuito no site da ABC.
“As universidades públicas são grandes pilares de sustentação do País, mas se a gente só aumentar o número de vagas não vai conseguir mudar essa situação, que precisa também do envolvimento dos institutos federais, além de repensar o ensino médio e as licenciaturas, para formarmos pessoal com qualidade. Porque, hoje, a maioria dos graduandos infelizmente se encontra no ensino privado, com um grande número em EADs [Educação a Distância], em formações completamente desreguladas, sem controle e sem padrão, e precisamos nos preocupar com isso.”
O professor e pesquisador da UFPR assumirá a vice-presidência da SBPC no dia 17 de julho, durante a 77ª Reunião Anual da entidade, que acontecerá na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em Recife. Olhando para o biênio 2025-2027, tempo de seu mandato, Zarbin defende a Educação como um dos pilares de atuação da comunidade científica.
“Em primeiro lugar, precisamos da manutenção e renascimento das universidades e dos institutos de pesquisa, ou seja, a luta pela manutenção dos recursos para Ciência, Tecnologia e Inovação do nosso país. Também é necessária a valorização do cientista – e aqui, especificamente, do pós-graduando, que é quem faz quase toda a Ciência do Brasil. E, ainda, uma luta pela valorização da carreira do professor e por melhores condições para que esse profissional consiga oferecer uma educação digna no Brasil.”
Para Zarbin, o Brasil possui uma carência na formação de pessoas, principalmente olhando para o ensino superior. É uma realidade que afeta todas as áreas do conhecimento, mas principalmente na área de STEAM, que da sigla em inglês reúne as formações em Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática.
Assim como as demais representantes da nova Diretoria da SBPC – a presidente eleita Francilene Garcia e a vice-presidente Soraya Smaili –, Zarbin concorda que os desafios da SBPC também perpassam o futuro contexto político do País.
“Apesar da necessidade de mudanças em CT&I e na Educação, nada funcionará sem que tenhamos uma estrutura democrática ao redor. Então, nós estamos falando aqui num ano em que teremos eleições, teremos novamente embates ideológicos importantes, e aí a SPPC tem um papel fundamental – nunca partidário, porque a SBPC não é uma entidade partidária –, mas é uma luta importantíssima para que os valores que sustentam a SBPC e que sustentam a ideia de democracia, a ideia de futuro e de soberania nacional sejam evidenciados e protegidos”, conclui.
Rafael Revadam – Jornal da Ciência