O comportamento cooperativo sob uma ótica evolucionista

O tema foi abordado pela psicóloga e professora emérita da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Maria Emília Yamamoto, em conferência proferida nessa segunda-feira, na semana que encerra os quatro ciclos da versão virtual e estendida da 72ª Reunião Anual da SBPC

conferencia-das-18h-para-galeria

A compreensão dos efeitos de variáveis ambientais pode ajudar a promover a cooperação e a pró-socialidade. A afirmação é da psicóloga Maria Emília Yamamoto em sua conferência “Por que cooperamos? Uma perspectiva evolucionista”, na qual ela aborda o comportamento cooperativo sob uma ótica evolucionista. A atividade, apresentada pelo secretário-geral da SBPC, Paulo Hofmann, foi realizada no primeiro dia do último ciclo da 72ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, 30 de novembro.

Durante sua palestra, a cientista explicou que o ser humano é ambivalente por ser social e, ao mesmo tempo, egoísta. “Por isso, é importante a gente estudar para ver como esse comportamento desenvolve. E a primeira pergunta que nos vem à mente é se os homens têm predisposição para ajudar os indivíduos. A literatura diz que sim, e sugere que as crianças têm um senso moral rudimentar desde muito cedo e mostram empatia. Há um ponto de partida biológico (o aparato básico) de um sistema moral que é modulado pela socialização e a cultura em que a criança cresce”, afirma.

A especialista destacou, por exemplo, que aos oito meses os bebês já conseguem distinguir o certo do errado. Com um ano e meio (18 meses), eles cooperam espontaneamente com o adulto. Com dois anos, as crianças coordenam seu comportamento com o de outras crianças para um fim comum (que é a base da cooperação). Aos 3 anos, são capazes de identificar normas e suas violações e mostrar empatia em relação a pessoas que foram prejudicadas por violações desse tipo. Já aos cinco anos, elas começam a ter consciência da sua própria reputação. “Algumas crianças já se mostram mais generosas diante de uma audiência”, explica.

Mas, segundo Yamamoto , esse comportamento no início da vida é possível observar até cerca de seis e sete anos, mas depois começa a se diferenciar mais de acordo com a modulação social, ou seja, conforme a sociedade e cultura nas quais o indivíduo está inserido.

A pesquisadora, que é professora emérita da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), contou ainda que a universidade tem avaliado a cooperação com grupos de crianças e investigado a influência de variáveis, como tamanho de grupo, monitoramento (reputação), feedback positivo e negativo no comportamento pró-social para observar como as crianças ajustam seu comportamento ao do grupo. Esses estudos evidenciaram uma plasticidade do comportamento pró-social. “Podemos dizer que somos cooperadores egoístas, cooperamos quando temos benefícios e somos cooperadores seletivos (escolhemos com quem cooperar), ou condicionais (eu coopero em algumas circunstâncias)”, explicou.

Yamamoto ressaltou que é preciso educar as crianças para que elas percebam os benefícios da cooperação. “A compreensão do efeito de variáveis ambientais pode ajudar a promover a cooperação e a pró-socialidade. Talvez até mesmos nos casos mais improváveis”, concluiu.

Assista aqui à conferência na íntegra.

Vivian Costa – Jornal da Ciência