O sucateamento da ciência brasileira por consequência dos sucessivos cortes orçamentários do governo chegou a um ponto tão escandaloso que virou tema da coluna humorística do ator e escritor Gregório Duvivier no canal HBO, o programa #GregNews. “Se você quisesse contratar uma consultoria para destruir o Brasil, eles passariam a política atual para Ciência e Tecnologia”, resumiu.
O programa, disponível no YouTube, já teve mais de 200 mil visualizações desde que foi publicado, na sexta-feira, 11 de agosto. O ator destaca que o Brasil tem tudo para ser o protagonista na chamada “Era da Biologia”, mas está perdendo todas as oportunidades com a desastrosa política de cortes para a ciência e tecnologia. “Precisamos buscar conhecimento, e até um E.T. sabe disso”, comentou.
Em 19 minutos, e sem poupar ironias para o absurdo da situação, Duvivier falou sobre a precária situação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que ainda não sabe se terá dinheiro a partir de setembro para cobrir as despesas com bolsas de estudos e pesquisas. Ele ressaltou que desde 2015, o orçamento para CT&I vem sofrendo cortes e neste ano, o governo congelou 44% do orçamento, deixando o País com a pior verba desde 2012.
Ele também criticou o baixo número de cientistas que o Brasil forma, 700 para cada um milhão de habitantes, muito abaixo da média dos países desenvolvidos. Um motivo seria o salário pouco atrativo: em média, conta ele, um cientista ganha R$3,6 mil. “Não são apenas os cientistas que estão quebrados, os institutos federais de ciência não têm dinheiro para pagar despesas básica”, destacou, dando como o exemplo o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).
O ator também falou da ameaça aos projetos de logo prazo, como o Sirius, acelerador de partículas que produz luz síncrotron, previsto para ser inaugurado em 2018, em Campinas, e que demandaria cerca de R$1,5 bilhões para ser concluído – quase o que custou o a reforma do Estádio Mané Garrincha, em Brasília, para a Copa do Mundo. “Ele até parece um acelerador de partículas, só que sem a parte toda de acelerar partículas e salvar vidas, talvez. A gente torra uma grana louca em equipamentos que não trazem nenhum retorno para o País”.
Segundo comenta, a ciência no Brasil é “café-com-leite”. “É fácil tirar dinheiro da ciência. Afinal, qual é o impacto imediato na sociedade? Quem vai reclamar?”, diz.
A estratégia dos países desenvolvidos em momentos de crise é investir em ciência, mas no Brasil, o governo opta pelo contrário – o País para de investir justamente naquilo que não deveria: ciência. “O que define a riqueza de uma nação é o volume informação que somos capazes de incorporar em nossos produtos. Sem conhecimento, o cobalto é só uma pedra no meio do nosso caminho, e não a matéria-prima do celular”, provoca.
O programa completo pode ser visto neste link.
Jornal da Ciência