A Amazônia, berço e museu da diversidade biológica, enfrentou uma crise sem precedentes em 2023, clamando por socorro diante das temperaturas extremas, seca histórica dos rios e devastadoras queimadas florestais. A região, outrora considerada uma fortaleza de biodiversidade e ecossistemas resilientes, testemunhou cenas angustiantes de animais mortos em águas escaldantes e comunidades sem acesso à água potável ou ar puro. O cenário deixou claro como a aceleração das mudanças climáticas pelas ações humanas afetam todas as formas de vida. Porém, alguns grupos são considerados mais vulneráveis, como os anfíbios e os répteis. Isso é o que discute artigo da nova edição da revista Ciência & Cultura, que tem como tema “Biomas do Brasil”.
Nos últimos dois séculos, o aumento médio global de 1 °C, impulsionado pelas emissões de gases de efeito estufa, tem transformado a paisagem e colocado em risco a vida vegetal e animal. O recente relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) alerta para a irreversibilidade desses efeitos sem ações imediatas. A Amazônia, lar de aproximadamente 50.000 plantas vasculares e uma megadiversidade única, enfrenta ameaças constantes. A degradação do habitat devido ao desmatamento, combinada com as mudanças climáticas, contribui para a atual crise de perda de biodiversidade. Estima-se que 25% das espécies estejam ameaçadas de extinção, evidenciando a urgência de estratégias de conservação. “Temperaturas mais quentes, eventos climáticos extremos mais frequentes e imprevisíveis (como calor e frio extremos, chuvas intensas, mudanças no nível dos oceanos e nos padrões de cheia, seca e vazante dos rios) colocam em risco os ecossistemas, as espécies da biodiversidade e a própria sobrevivência da humanidade”, afirmam os autores do artigo.
Os impactos diretos da crise climática na Amazônia são evidentes na mortalidade de mamíferos aquáticos, peixes e outros organismos. No entanto, os efeitos indiretos sobre a herpetofauna, como anfíbios e répteis, são igualmente preocupantes. Essas espécies, fundamentais para a biodiversidade, enfrentam desafios de adaptação às mudanças nas condições ambientais, como temperaturas extremas e perda de habitat. A herpetofauna amazônica, rica e diversificada, é particularmente vulnerável. Anfíbios e répteis, essenciais para a ecologia local, estão entre as espécies mais ameaçadas pelas mudanças climáticas. Estudos recentes, incluindo aqueles realizados pelo Laboratório de Ecologia e Evolução de Vertebrados do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (LEEVI), fornecem insights valiosos sobre os impactos e as respostas dessas espécies às mudanças climáticas. “Compreender as respostas das espécies às mudanças climáticas e à perda de habitats é extremamente importante para a conservação da biodiversidade a longo prazo”, pontuam os autores.
Os desafios enfrentados por lagartos, cujas populações podem ser impactadas negativa, positiva ou neutralmente, e por quelônios, com suas determinações sexuais sensíveis à temperatura, destacam a complexidade da situação. A necessidade de estudos regionais e locais é enfatizada, especialmente na Amazônia, uma região megadiversa. Embora haja avanços no entendimento dos impactos das mudanças climáticas na herpetofauna, o caminho à frente requer mais pesquisas integrativas e ações de conservação eficazes. Para os autores, “o controle do desmatamento é a alternativa mais viável para aumentar as chances de resgate evolutivo naturais das populações de lagartos amazônicos frente às mudanças climáticas.”
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Ciência & Cultura