Em sua última entrevista para a TV, em maio de 1996, o astrônomo e divulgador científico americano Carl Sagan (1934-1996) afirmou que a ciência era “mais do que um conjunto de conhecimentos”. “É uma forma de pensar, de interrogar o universo ceticamente com um conhecimento profundo das falhas humanas”, disse.
Segundo ele, as pessoas estariam vulneráveis à ação de “charlatões políticos ou religiosos” se não fossem capazes de “fazer perguntas céticas”, de serem “céticas em relação às autoridades” e de “interrogar aqueles que nos dizem que algo é verdade”. Foi na década de 1980 que Sagan cunhou o termo “ceticismo científico” usado em suas obras.
Em termos gerais, o ceticismo significa descrença, incredulidade e uma capacidade de duvidar de tudo. Mas para Sagan, não bastava apenas questionar a validade de teorias e ideias. Era preciso também estar aberto a novas evidências, mesmo que elas contrariem nossas crenças. A partir disso, pode-se mudar o próprio ponto de vista.
“A ciência funciona, segundo Carl Sagan, exatamente por causa do equilíbrio adequado entre esses dois componentes: ceticismo e mente aberta”, escreveu o professor José Alexandre Felizola Diniz Filho, do Instituto de Ciências Biológicas da UFG (Universidade Federal de Goiás), em artigo divulgado em seu site.
Em outro artigo de 2003, publicado em um jornal da Unicamp, o professor de física Marcelo Knobel, atual reitor da universidade, disse que não só os cientistas como as pessoas em geral deveriam ser céticas no sentido proposto por Sagan, “de sempre manter a mente aberta”.
“O importante é que as teorias sejam comprovadas seguindo critérios rígidos, metodologias adequadas e publicadas em periódicos de circulação internacional, para que outros pesquisadores possam tentar repetir os experimentos e modelos. Se algo novo é proposto ou descoberto, o primeiro passo do cientista é tender ao ceticismo, repetir o experimento, verificar possíveis falhas, buscar explicações alternativas. Ter um espírito crítico aguçado, mas sempre com algumas janelas abertas para enfrentar algo completamente novo e desconhecido, ainda inexplicado, mas não necessariamente inexplicável”, escreve Knobel.
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