O surgimento das ideias quânticas no Brasil

Entre matérias na mídia, conferências, atuação de engenheiros inovadores e visitas de cientistas ilustres, o país começou a tomar conhecimento dos conceitos que transformariam a física moderna. Confira em artigo da nova edição da Ciência & Cultura

whatsapp-image-2025-07-08-at-09-05-53No Brasil, as primeiras menções à teoria quântica surgiram no início do século XX, quando engenheiros e matemáticos, fascinados pelas novas descobertas da física moderna, começaram a difundir essas ideias em palestras e artigos de divulgação. Como ainda não existiam cursos formais de física ou química no país, o debate sobre os quanta e a estrutura da matéria se dava em ambientes pouco institucionalizados, como revistas científicas e jornais. A chegada de cientistas estrangeiros ao Brasil, como Henri Abraham, Albert Einstein, Marie Curie e Enrico Fermi, foi fundamental para ampliar o conhecimento local sobre a física quântica e outras teorias emergentes, permitindo o contato direto com algumas das figuras mais importantes da ciência mundial. Cursos pioneiros, como os ministrados por Theodoro Ramos e Gleb Wataghin na década de 1930, consolidariam, mais tarde, a formação acadêmica em física quântica no país. Isso é o que aborda artigo da nova edição da revista Ciência & Cultura, que celebra o Ano Internacional da Ciência e Tecnologias Quânticas.

A circulação dessas ideias pode ser rastreada nas páginas de periódicos da época, conforme revelam pesquisas na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. A teoria quântica ainda era pouco mencionada nos jornais e revistas, ofuscada pelo maior interesse público pela teoria da relatividade. “A primeira menção que encontramos em periódicos nacionais, e que se refere aos quanta, foi publicada na Revista Marítima Brasileira em 1913”, conta Ildeu de Castro Moreira, professor do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente de honra da SBPC. Durante a Primeira Guerra Mundial, o interesse por esses temas declinou, mas na década de 1920 houve um novo impulso, com nomes como Manoel Amoroso Costa e Theodoro Ramos contribuindo com artigos e pesquisas teóricas nacionais sobre a estrutura atômica e as implicações da mecânica quântica e da relatividade.

A década de 1920 foi marcada também pela realização de conferências e cursos públicos que introduziram formalmente o público brasileiro às novas teorias da física. Destacam-se o curso sobre teoria quântica ministrado por Henri Abraham na Escola Politécnica do Rio de Janeiro em 1923, e a histórica comunicação de Albert Einstein, em 1925, na Academia Brasileira de Ciências, onde discutiu a natureza da luz e o debate sobre o fóton. Marie Curie, em 1926, ofereceu um curso detalhado sobre radioatividade e estrutura atômica, trazendo exemplos práticos e conceitos avançados para um público formado principalmente por estudantes e professores de engenharia e medicina. Em 1931, Theodoro Ramos consolidou esse movimento ao ministrar o primeiro curso completo sobre mecânica quântica no Brasil, abordando desde a teoria ondulatória de Schrödinger até a mecânica matricial de Heisenberg.

Esse processo de disseminação das novas ideias científicas continuou nos anos seguintes, com destaque para a atuação de figuras como Álvaro Alberto e Enrico Fermi. Em 1935, Álvaro Alberto, ao assumir a presidência da Academia Brasileira de Ciências, refletiu sobre o impacto da teoria quântica nos conceitos de determinismo e causalidade. No ano anterior, Enrico Fermi realizou palestras em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde apresentou resultados experimentais recentes e sua nova teoria da desintegração beta. “Mas aqui começa outra história, a de como se formariam no Brasil os primeiros cientistas com conhecimento básico sobre a física moderna e o que pesquisariam sobre ela”, explica Ildeu Moreira. Foi nesse ambiente que jovens cientistas brasileiros, como Mario Schenberg, tiveram seu primeiro contato com conceitos que moldariam suas futuras contribuições à física.

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