Um encontro virtual (4/3) marcou o lançamento do Observatório Desastres da Mineração – Redução de Riscos e Direitos Humanos, iniciativa que pretende reunir e acompanhar os projetos de pesquisa, extensão e demais intervenções desenvolvidas, no âmbito da saúde, em áreas atingidas ou sob risco iminente de rompimentos de barragem em território brasileiro. O observatório também vai fornecer análises integradas e propostas para políticas públicas e ações para a redução de risco de desastres e estratégias de gestão relacionadas, tendo como princípio e base a garantia dos direitos humanos. Inicialmente, o observatório vai destinar esforços adicionais às bacias do Rio Doce e do Paraopeba, por concentrarem os maiores desastres da atualidade.
O observatório vem sendo desenvolvido de forma coletiva, com a participação de diferentes instituições, além de movimentos sociais e da sociedade civil organizada, sob coordenação da Fiocruz Minas; da Pró-Reitoria de Extensão (Proex) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); da Secretaria Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC-MG); e do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes) da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). Durante o lançamento, a diretora da Fiocruz Minas, Zélia Profeta, falou sobre a idealização do empreendimento.
“A partir de conversas e de reuniões com gestores (da Secretaria de Estado de Saúde e das secretarias municipais de saúde de municípios atingidos), vimos que diversos projetos vinham sendo desenvolvidos no território e, muitas vezes, eles não conversavam um com o outro. Então, surgiu a proposta de tentar articular o conhecimento gerado, de forma a pensar políticas públicas”, explicou.
A pró-reitora de Extensão da UFMG, Claudia Mayorga, citou alguns exemplos de iniciativas da universidade que têm contribuído para a tomada de decisões em relação aos dois desastres e destacou a importância do trabalho em rede. “Problemas dessa complexidade não podem ser enfrentados a partir de uma única perspectiva disciplinar. Além disso, precisamos ampliar diálogos entre a ciência e a sociedade para que a população sinta que a ciência pode e deve ser usada na vida cotidiana”, afirmou.
O coordenador do Cepedes, Carlos Machado, reforçou a importância do trabalho em rede e destacou que isso significa trabalhar com diferentes vozes, principalmente a dos atingidos e dos afetados por desastres. Machado também lembrou que os riscos e agravos gerados para essas populações são muitos e se agravam ao longo do tempo e, dessa forma, a busca por evidência científica não deve servir de escusa para adiar a reparação dos danos. “É preciso trabalhar seguindo os princípios científicos, mas considerando também a perspectiva da exposição aos riscos e também dos direitos humanos, buscando garantir os direitos principalmente daqueles que já se encontram afetados pelos desastres”, salientou.
O secretário-regional da SBPC, Luciano Mendes, ressaltou a importância de um olhar múltiplo para a questão dos desastres e destacou que a SBPC tem procurado mobilizar coletivos e pesquisadores de diferentes instituições para participar desse esforço. A representante da SBPC nacional, Luciana Barbosa, enfatizou a importância de atuar junto aos legisladores, de forma a garantir que os direitos dos atingidos e afetados por rompimento de barragens sejam respeitados.
Com a criação do observatório, pretende-se contribuir para ampliar a compreensão da realidade dos territórios impactos pelos desastres e seus riscos. Isso será feito com o envolvimento dos diferentes atores que atuam nas regiões vulneráveis aos desastres causados por barragens. “Estamos começando a tecer essa teia de informações. Com isso, será possível identificar as lacunas potenciais para gerar respostas importantes para esses territórios”, finalizou a diretora da Fiocruz Minas, lembrando que, em breve, novos encontros serão marcados, visando dar andamento no desenvolvimento do observatório.