Os caminhos para a popularização da CT&I

Em mesa-redonda da 76ª Reunião Anual da SBPC, especialistas enfatizaram a importância dos municípios para a interiorização do conhecimento científico

O papel fundamental das cidades para a interiorização do ensino de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) foi tema da mesa-redonda “A Municipalização da Ciência e Tecnologia – Plantar CT&I nos Municípios”. Realizado na última sexta-feira (12/7), como parte da programação da 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o debate foi conduzido pela vice-presidente da SBPC, Francilene Procópio Garcia, e inspirada pelo físico Ennio Candotti, presidente de honra da SBPC que faleceu em dezembro de 2023 e apostava na interiorização em seu trabalho em prol da popularização da ciência.

A mesa teve como palestrantes dois acadêmicos que entraram para a política, o engenheiro Newton Lima Neto, duas vezes prefeito de São Carlos (SP), e o professor e advogado José Clodoveu de Arruda Coelho Neto, ex-prefeito de Sobral (CE). Também teve apresentação do físico Tito José Bonagamba, que atualmente coordena o Centro de Inovação da Universidade de São Paulo – InovaUSP, no complexo de São Carlos.

Newton Lima Neto, que também foi reitor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) entre 1992 e 1996 e deve se candidatar a prefeito da cidade novamente esse ano, destacou o papel dos Institutos Federais (IF) em cooperação com os municípios para o ensino e pesquisa de CT&I.

Criados em 2007, os IF deram importante contribuição ao processo de interiorização da ciência, na opinião de Lima Neto, somando-se a programas como Reune e a Rede Federal de Educação Profissional Científica e Tecnológica (Lei 11.892/2008).

“Esse era o tema do ano do Ennio Candotti”, comentou Lima Neto, lembrando que o físico defendia um programa de fixação dos pesquisadores para promover o desenvolvimento local, o que é particularmente uma questão na Amazônia, onde Candotti viveu as duas últimas décadas de vida.

De 2008 até agora, o País aumentou o número de IFs de 150 para 780 com a promessa do atual Governo Federal de chegar a 1000 até o fim do mandato. Em São Paulo, o número de IFs subiu de 3 para 41 no mesmo período. “Isso é fundamental para a gente fazer a descentralização, fazer exatamente aquilo que o nosso grande Ennio sempre pediu, que é levar a ciência, o conhecimento, a formação de profissionais de ensino técnico profissional e superior – porque os institutos federais tratam da formação das duas modalidades – para o interior do Brasil”, frisou Lima Neto.

José Clodoveu de Arruda Coelho Neto, mais conhecido como Veveu, falou sobre a exitosa experiência de Sobral na alfabetização de crianças e dos programas de divulgação e popularização científicos do município. No centro daqueles programas está o Museu do Eclipse, que Veveu definiu como resultado de uma visão da sociedade local da importância de acolher e investir em um evento científico mundialmente importante: o eclipse de 1919 que comprovou a teoria da relatividade de Albert Einstein.

“Não é educação, é gestão, ações interssetoriais que permitiram que a rede pública em Sobral percebesse a importância do que nós tínhamos (…) e que de alguma forma deveríamos aproveitar isso (o eclipse)”, comentou.

A cidade transformou o evento em um núcleo de promoção do conhecimento e popularização da ciência com o complexo que reúne o Museu do Eclipse, o Observatório Astronômico e o Planetário. Por sugestão de Candotti, o Museu foi transformado em interativo.

Veveu contou que, hoje, a Prefeitura está desenvolvendo um programa chamado “Cadeia Produtiva”, que consiste em um polo de conexão focado no fortalecimento de um ecossistema de ciência e inovação. A expectativa é contribuir para o fortalecimento da educação continuada, com foco na inovação, e reposicionar o município de Sobral no desenvolvimento de C&T do Estado.

Tito José Bonagamba disse que o grande desafio dos municípios é quebrar o que ele chamou de “feudalismo” da política pública de ensino de CT&I, em que cada área tem um plano. “Esse é um grande esforço – o de fazer com que o processo tenha escala e não dependa de nomes (…); a gente precisa de massa para poder escalar, e ter uma transformação, de fato, de ensino, ciência e inovação”, afirmou.

Bonagamba opinou que os municípios devem aprofundar o uso do conhecimento científico para desenvolver políticas públicas. Do lado da academia, é uma oportunidade de ampliar a interação com a comunidade. “Você tem que ter essa interação e promover a conversa continua entre gestores acadêmicos e todos os setores da sociedade, nós temos que conversar com a sociedade e entender os problemas dela conversando diretamente com seus representantes”, ressaltou.

Francilene Garcia disse que a mesa – que havia sido proposta por Ennio Candotti – traz um debate importante em ano de eleição municipal e de realização da 5ª Conferência Nacional de CT&I, que será realizada entre os dias 30 de julho e 1º de agosto, em Brasília.

 

Assista à mesa-redonda na íntegra pelo canal da SBPC no Youtube

Janes Rocha – Jornal da Ciência