Para quem se forma na área de Psicologia, o nome de Carolina Bori é algo comum. A luta da pesquisadora em defender a profissionalização da área faz com que sua trajetória esteja presente em cursos e ensinos. Mas quem é Carolina Bori para além dessas conquistas é um desafio que Gabriel Vieira Cândido buscou responder ao escrever sua biografia, “Carolina Bori – Psicologia, Educação e Política Científica”, que será lançada nesta terça-feira (11/12), pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
“A gente tem pouca coisa sobre Carolina Bori. Normalmente, materiais sobre ela são ricos em depoimentos, mas que falam quem era Bori em determinados contextos, nunca no todo. Ela também não tem muitas publicações, por conta de uma posição política e ideológica que tinha de não assinar artigos de alunos. Então, foi um desafio de montar por meio de história oral de quem conviveu com a Carolina Bori e por meio de documentos para traçar a sua história”, conta o biógrafo.
Psicólogo e com pós-graduação em História da Psicologia, Cândido já havia recolhido os depoimentos em seu doutorado, mas foi por meio de um convite de pós-doutorado que viu a chance de transformar tudo em obra. Por meio de uma pesquisa documental, também encontrou cerca de 70 trabalhos de autoria de Bori – entre resumos, artigos e demais materiais – que ajudam a decifrar o perfil da pesquisadora.
“Carolina Bori é o CRP [Cadastro Nacional de Profissionais de Psicologia] número 1, a primeira psicóloga registrada no Brasil. Então, é um nome de relevância histórica para nós psicólogos. Eu já a conhecia neste contexto, porque sua atuação foi fundamental para a institucionalização e regulamentação da Psicologia, área na qual sempre atuou. Mas ela teve também uma atuação super importante na esfera nacional, no sentido de difundir a Ciência como forma de desenvolver a cultura do País.”
Por ter sido a primeira mulher a presidir a SBPC, Carolina Bori logo uniria os caminhos da entidade com os do autor de sua biografia. Coordenadora do Centro de Memória Amélia Império Hamburger (CMAIH), o acervo histórico da SBPC, Áurea Gil procurou Gabriel Cândido para apoiar a concretização da biografia. Como primeiro resultado da parceria, todos os documentos utilizados pelo pesquisador foram digitalizados e estão disponíveis online no Memorial Carolina Bori.
Mas por que falar de Carolina Bori? Para Gabriel Cândido, conhecer a sua história é dar o devido reconhecimento a uma personalidade que lutou durante anos por direitos igualitários e pela popularização da Ciência.
“Na ocasião do centenário de Carolina Bori, no ano passado, eu fiz uma postagem nas redes sociais dizendo: ‘Essa mulher marcou a sua vida e talvez você não saiba’. Porque a nossa própria Constituição Federal, de 1988, tem influência direta dela. Ela debateu vários pontos, junto a outros cientistas, e entregou alguns capítulos que foram aprovados quase que na íntegra na Constituição, como os sobre causas indígenas, meio ambiente e questões da mulher. Ela é uma mulher que marcou a vida de todos nós e a gente não sabe disso porque ela era também uma mulher silenciosa. Ela não era uma pessoa de falar, mas sempre esteve em posições de tomada de decisão, e marcou a formação de uma geração de pessoas”, conclui.
O lançamento da biografia de Carolina Bori ocorrerá na cerimônia de entrega do 6º Prêmio “Carolina Bori Ciência & Mulher”, que nesta edição é dedicada às “Meninas na Ciência”. O evento será realizado nesta terça-feira (12/02), a partir das 14h, em celebração ao Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, com transmissão ao vivo pelo canal da SBPC no YouTube. A cerimônia acontecerá no Salão Nobre do Centro MariAntonia da USP (Rua Maria Antonia, 294 – 3º andar – São Paulo/SP) e será encerrada com uma apresentação da cantora hondurenha radicada no Brasil, Indiana Nomma.
Rafael Revadam – Jornal da Ciência