O debate sobre a formação de professores e avaliação do ensino superior, realizado na sexta-feira, 5 de maio, durante a programação da Reunião Regional da SBPC no Cariri, foi um dos mais disputados pelo público – mais de 250 pessoas participaram da discussão. O interesse tem um bom motivo: com 17 cursos de licenciatura, a Universidade Regional do Cariri (URCA), no Ceará, é uma referência para a educação da região. Debateram o assunto Marcelo Câmara dos Santos, diretor de Formação de Professores da Educação Básica da Capes, Luiz Roberto Liza Curi, presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE), e José Fernandes de Lima, professor da Universidade Federal do Sergipe, e ex-presidente do CNE.
“A maioria dessa plateia está ligada aos cursos de formação de professores, de licenciatura”, ressaltou Lima. De acordo com ele, a questão da formação dos professores é um assunto recente, mas é um ponto crucial na cadeia de produção de conhecimento. “Sem investimento na formação, sem valorização dos professores, não vamos chegar a lugar nenhum”, afirmou.
Santos defendeu a utilização do método de pesquisa como instrumento de aprendizagem, para a produção do que ele chama “conhecimento descontextualizado”. “O objetivo é que o sujeito saia da escola com o conhecimento descontextualizado, capaz de mobilizar o conhecimento adquirido na escola para poder resolver os problemas diversos que surgem em seu dia-a-dia”, disse.
Concordando com Santos, Lima defende a adoção da pesquisa como princípio pedagógico e acrescentou que o professor pesquisador é capaz de criar métodos na interação com os alunos. A formação continuada, nesse sentido, segundo ressaltou, é fundamental, uma vez que o professor, continuadamente, e cada vez mais, se depara com novas tecnologias e novas realidades, que precisam ser incorporadas a suas atividades. “É preciso aprender como se faz ciência. As pessoas confundem muito o processo científico com o produto”, observou.
Curi, por sua vez, também defendeu a necessidade de se diversificar a prática do ensino, e, especialmente, os currículos nas diferentes instituições. O presidente do CNE discorreu sobre o papel da avaliação na expansão do ensino superior pelo País e sua importância na definição de políticas públicas. Segundo ele, é fundamental que exista um diálogo amplo entre quem faz as políticas públicas e os atores na ponta dessas políticas – professores, gestores de universidades. Esse diálogo contribuiria para avaliar de que maneira os currículos definidos contribuem para a permanência dos estudantes nos cursos – hoje, segundo demonstrou, dos 8 milhões de estudantes que se matriculam no ensino superior no País, apenas 1, 2 milhões concluem os cursos.
“Não há participação ativa dos atores na construção desses currículos. Os currículos são feitos por diretrizes, mas são todos iguais. E, daí, ninguém reconhece uma universidade por seu currículo”, observou, criticando que os currículos não são avaliados: “As avaliações são baseadas em fatores quantitativos, não se avalia a construção do conhecimento, nem mesmo a qualidade dos egressos”, afirmou Curi.
Daniela Klebis – Jornal da Ciência