O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) encontra-se diante de uma troca de ministros, num momento delicado, visto que são os últimos meses do atual governo. Essa substituição deve se dar por alguém com pleno conhecimento da área, disposição para defender a ciência, a tecnologia e a inovação frente a um quadro político e financeiro desfavorável, e com o compromisso de aplicar os recursos nas áreas afins, com transparência, chamadas públicas e participação relevante das comunidades científica e empresarial nas decisões. Pois são estas as responsáveis pelas ideias, pesquisas e inovações que alimentam o desenvolvimento nacional e o protagonismo internacional do país.
O Brasil precisa urgentemente de uma guinada para o futuro, que reoriente a presente trajetória de cortes de recursos para ciência e inovação e dependência crescente de tecnologias de alto impacto econômico, desenvolvidas em outros países. Esse rumo deve ser baseado numa agenda estratégica que promova a redução das desigualdades, proteja o meio ambiente e seja motor de um desenvolvimento econômico sustentável. Considerando o poder de compra, o Brasil é a oitava economia do mundo, mas ocupa a 57a posição no índice global de inovação e a 71a posição no índice de competitividade global. Tem apenas cerca de 900 pesquisadores por milhão de habitantes, versus 4.000 na média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), número excedido por nações como Israel e Coréia do Sul, que têm cerca de 8.000 pesquisadores por milhão de habitantes.
O investimento em pesquisa no país tem decrescido nos últimos anos. Atualmente, alcança cerca de 1% do PIB, enquanto países da OCDE investem 2% ou mais. Tecnologias que prometem mudar o cotidiano da humanidade são desenvolvidas de forma acelerada, como a biotecnologia, a inteligência artificial, a engenharia genética, incluindo as novas terapias gênicas, a telecomunicação 6G, as células de hidrogênio para veículos automotores, os computadores quânticos etc. Enquanto isso, a atual agenda econômica aumenta o atraso do Brasil em relação a outros países, desenvolvidos ou em desenvolvimento. Apesar da consciência de que, no século XXI, serão dominantes as nações que possuam capacidade de produção e controle nessas áreas.
A ciência nacional tem dado importantes contribuições para a economia brasileira e para o bem-estar da população. Quantas mais mortes teríamos por covid-19 se não tivessem sido fundados o Instituto Oswaldo Cruz, em 1900, e o Instituto Butantan em 1901? Ao longo de décadas, os desenvolvimentos científicos e tecnológicos permitiram o aparecimento de empresas como a Embrapa, a Embraer, a Petrobras e muitas outras com protagonismo internacional em compressores, equipamentos elétricos e químicos, cosméticos, baterias, além de startups de base tecnológica que, frequentemente, têm sua origem nas universidades e demais instituições de ciência e tecnologia do país.
Esse cabedal de realizações e conhecimento é um tesouro a ser acalentado e desenvolvido. Esperamos que o MCTI, ao qual cabe papel central na coordenação da ciência e da inovação e a responsabilidade de conduzir a estratégia de desenvolvimento nessas áreas, seja ocupado por alguém à altura dos múltiplos desafios a serem enfrentados. O mundo avança em descobertas científicas fundamentais e inovações disruptivas. O Brasil não pode ficar para trás. Não basta correr, é preciso correr mais que os outros. Reunimos competência para isso.
Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC);
Marcus Vinícius David, presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes);
Odir Dellagostin, presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap);
Fernando Peregrino, presidente do Conselho Nacional das Fundações de Apoio às Instituições de Ensino Superior e de Pesquisa Científica e Tecnológica (Confies);
Sônia Regina de Souza Fernandes, presidente do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif);
Patrícia Eller, presidente do Conselho Nacional de Secretários Estaduais para Assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação (Consecti);
André Gomyde, presidente do Instituto Brasileiro de Cidades Humanas, Inteligentes, Criativas e Sustentáveis (Ibrachics);
Fábio Guedes Gomes, secretário-executivo da Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento (ICTP.Br);
Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)