Determinação, otimismo, amigo e dedicação ao trabalho marcam a atuação de Darcy na Ciência.
Uma perda irreparável para a Ciência. Essa é a avaliação de cientistas sobre a morte de Darcy Fontoura Almeida (83 anos), geneticista, biofísico, e um dos fundadores da revista Ciência Hoje e do Jornal da Ciência.
Filho de imigrantes portugueses, era professor aposentado do Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde se graduou no curso de medicina e posteriormente passou a atuar como pesquisador visitante.
Embora nunca tenha sido presidente da SBPC, seu mérito na ciência lhe rendeu o título de presidente de honra da instituição. Além de um cientista renomado, Darcy era um defensor de políticas para o desenvolvimento da pesquisa e da divulgação científica no Brasil, relatou o jornalista José Monserrat Filho, que em 1995 participou do desenvolvimento do Jornal da Ciência , juntamente com Darcy e outros cientistas como o físico Ennio Candotti, vice-presidente da SBPC e Alberto Passos Guimarães, pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF).
“O que Darcy entendia de Ciência, entendia de política”, resumiu Monserrat. “Darcy é um modelo a ser seguido: determinado, otimista, afável, amigo e dedicadíssimo ao trabalho.”
Emocionado, o físico Ennio Candotti preferiu não se estender sobre a perda de Darcy. Limitou-se a chamá-lo de “grande amigo e fundamental para a criação da revista Ciência Hoje.”
A mesma reação teve o físico do CBPF, Alberto Guimarães que trabalhou com Darcy no desenvolvimento da Ciência Hoje. “Foi uma convivência rica. Era uma pessoa agradável, de humor fino, com capacidade de trabalhar em equipe e que deu uma grande contribuição para a SBPC e a Ciência Hoje.”
Em outra frente, o antropólogo Otávio Velho, que trabalhou com Darcy principalmente por intermédio das atividades da SBPC e da revista Ciência Hoje, destacou o status de Darcy como presidente de honra da SBPC, apesar de nunca exercer de fato a presidência da instituição, o que reflete a atuação significativa de Darcy na Ciência do Brasil.
“Ele foi discípulo, amigo e colaborador do professor Carlos Chagas Filho (filho de Carlos Justiniano Ribeiro Chagas, que descobriu o protozoário Trypanosoma cruzi) na biofísica”, disse o antropólogo. Dentre outras atribuições, Darcy foi também pioneiro na área de bioinformática no Brasil e ajudou a desenvolver algumas áreas do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), no Rio de Janeiro.
Marcas no jornalismo
No caso do Jornal da Ciência, a presença de Darcy era marcada pela edição. “Era ele que pegava ´os gatos´ (jargão jornalístico da época para corrigir os erros tipográficos)”, lembra Monserrat.
A editora da revista Ciência Hoje, Alicia Ivanissevich, recorda que quase todos os dias, no fim da tarde, Darcy saía do Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro e aparecia na redação da revista “para corrigir as provas” do Informe (Jornal da Ciência) ou da revista antes de entrarem em gráfica. Segundo Alicia, Darcy conseguia como ninguém descobrir os erros tipográficos que, como dizia Monteiro Lobato, se escondem e se fazem positivamente invisíveis, mas, uma vez impressos, “se tornam visibilíssimos, verdadeiros sacis a nos botar a língua em todas as páginas”.
Alicia acrescenta que Darcy e Ennio se revezavam para escrever os editoriais do Informe, sempre combativos em defesa do desenvolvimento da pesquisa no Brasil. Eram tempos de formação das primeiras fundações estaduais de amparo à pesquisa.
Famosos caderninhos
Monserrat fez questão de lembrar “dos famosos caderninhos de Darcy”, uma espécie de diário, usados para anotações com lápis, especificamente, de todos os acontecimentos científicos, como propostas, ideias, pautas e etc. Ou seja, uma relíquia. “É bom resgatar isso.”
Ele deixa sua esposa, a jornalista Suely Spiguel, de seu segundo casamento.
O velório de Darcy será realizado na manhã deste sábado (08/03), no cemitério São Francisco Xavier, no Rio de Janeiro, de acordo com informações da Academia Brasileira de Ciências (ABC).
(Jornal da Ciência)