O futuro da genômica, área da ciência que estuda o genoma de um organismo, e da bioinformática, que surgiu da necessidade de se compreender as funções biológicas, é próspera e promissora. Mas, é necessário investir mais em capacitação de recursos humanos – com cursos de graduação e pós-graduação, fomento para pesquisas e valorização dos laboratórios, além de colaboração em rede. A conclusão do estudo realizado sobre a área foi apresentada por Ana Tereza Ribeiro de Vasconcelos, pesquisadora no Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), durante sua conferência “20 anos de genômica e bioinformática no Brasil. Ensinamentos de uma visão estratégica do passado e de desafios para o futuro”, no segundo dia deste último ciclo da 72ª Reunião Anual da SBPC, em 1º de dezembro.
A atividade teve apresentação do presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira.
Segundo Vasconcelos, o objetivo da pesquisa foi identificar o perfil da área no âmbito acadêmico e de empresas para a compreensão da absorção dos avanços tecnológicos para a gestão de implementação de políticas públicas e de incentivo ao desenvolvimento tecnológico no País. O estudo foi desenvolvido em parceria com Luisa Massarani, coordenadora do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INPT-CPCT), Mariana Rocha, do TU Dublin Computer Science/INCT-CPCT, e Sandro de Souza, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
A pesquisa, realizada de fevereiro a agosto deste ano pela internet, contou com a participação de 550 estudantes e pesquisadores das áreas de todas as regiões do País. “Observamos que a incidência desses profissionais é predominante no sudeste do Brasil, principalmente em São Paulo, mas que a área foi difundida em todo o País nestes 20 anos. Isso mostra que incentivos realizados lá atrás foram extremamente importantes para o desenvolvimento da área em várias regiões no País e em todos os estados”, comenta Vasconcelos, que é também professora do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Além de divulgar alguns resultados do estudo, Vasconcelos relembrou o desenvolvimento da genômica no Brasil e ressaltou a importância da área que tem como objetivo entender como os genes e as sequências não codificadoras envolvidas na regulação dos genes estão organizados e interagem para o funcionamento global do ser vivo. A área, que é multidisciplinar está relacionada ao desenvolvimento de tecnologias recentes, como a biologia molecular e ciência da computação.
Ela observa que a descoberta em 1953 da estrutura tridimensional da molécula de DNA foi fundamental para o desenvolvimento da biologia molecular nos anos seguintes. “Desde então, a área passou por uma série de desenvolvimentos de tecnologias e insumos que permitiram que a geração dos dados fosse cada vez mais rápida, o que permitiu que o custo dos estudos fosse reduzido”, explica. Por outro lado, observa, o desenvolvimento da ciência da computação “começou a caminhar junto dessa área devido à quantidade de dados gerados”. A bioinformática integra ferramentas computacionais analíticas e de alto rendimento, que permite armazenar e relacionar dados biológicos, com o auxílio de métodos computacionais e algoritmos matemáticos, além de permitir a interligação dos cientistas em todo o mundo por meio da internet.
Vasconcelos observa ainda que os estudos realizados na área genômica permitem aos cientistas compreender a estrutura e funcionamento de plantas, animais e microrganismos e utilizar este conhecimento para a seleção e a geração de novas variedades e linhagens pelo melhoramento genético. Os estudos de genômica levam também à identificação de marcadores moleculares, que funcionam como uma espécie de “impressão digital” molecular, aponta a cientista.
Mesmo a área sendo de extrema importância, Vasconcelos lamenta a falta de investimentos. “Assim como todas as áreas da ciência, as de genômica e bioinformática não têm recebido investimentos. Mesmo assim, temos conseguido responder rapidamente ações ocorridas nos últimos cinco anos, como, por exemplo, a zika”, explica. Ela observa ainda que cientistas brasileiros têm feito um trabalho de mapeamento do novo coronavírus para entender como o vírus tem se comportado no Brasil, mas que os dados gerados pelo País representam apenas 1% do que potencialmente existe. “A visão que estamos tendo do vírus que está dispersando no País é mínima. Não conseguimos ter uma visão clara porque a quantidade dados ainda é pequena”, lamenta.
Assista à conferência na íntegra no canal da SBPC no YouTube.
Vivian Costa – Jornal da Ciência