Dois pesquisadores de áreas distintas defenderam, na tarde desta quinta-feira, 17 de maio, durante a Reunião Regional (RR) da SBPC em Rio Verde (GO) mudanças nas políticas de CT&I para que o País possa explorar o grande potencial da biodiversidade brasileira. A mesa foi composta pelo engenheiro agrônomo e professor da Universidade Católica de Brasília, Ruy de Araújo Caldas e por Eguimar Felício Chaveiro, professor da (Universidade Federal de Goiás (UFG) e pesquisador do Instituto de Estudos Socioambientais (Iesa). Reginaldo Nassar Ferreira, também da UFG, coordenou os trabalhos.
“Qual instituto de pesquisas no Brasil acompanha um trabalho por 30 anos?”, indagou o professor Caldas no início de sua apresentação. “Nenhum, e é por isso que não podemos encarar o desafio da biodiversidade”, respondeu retoricamente.
Ao que Chaveiro concordou e reiterou posteriormente em sua fala: “Nós devíamos mudar radicalmente a política de CT&I neste país, acrescentando continuidade e agilidade e, sem dúvida, como bem observou o professor Caldas, investimento em pesquisas de longo prazo”.
Em uma mesa composta por um pesquisador oriundo da geografia e outro da bioquímica, em comum o diagnóstico de que a biodiversidade e, mais amplamente, a sociobiodiversidade, é um dilema a ser resolvido pelo Brasil.
Chaveiro, que estuda a sociobiodiversidade do Cerrado, tratou de elucidar a questão: “Sociobiodiversidade é um campo de defesa das populações tradicionais, dos quilombolas, das mais de 200 comunidades indígenas, extrativistas, pescadores, agricultores familiares, entre outras, que são responsáveis pela produção, proteção e fortalecimento dos nossos biomas.”
Evocando o tema da RR, que é “Cerrado: Ciência, Inovação, Crescimento Econômico, Desenvolvimento Sustentável e Sociedade”, Caldas disse que o Brasil precisa superar um provincianismo que impera em muitos pesquisadores, linhas de pesquisa e institutos país afora. “Nós precisamos ter a capacidade de pensar soluções para o nosso país, não esperar as coisas virem de fora, temos um potencial enorme enquanto nação e um desafio a superar para o uso efetivo da nossa biodiversidade a nosso favor”, avaliou.
Para Chaveiro, é preciso uma mudança de direção e de modelo. Segundo o pesquisador do Iesa, o atual modelo guiado pelo lucro financeiro chegou ao teto. “Respeitando o tema da nossa reunião e da nossa mesa, eu devo dizer que o modelo atual é insustentável. Nós estamos em uma cidade que é um exemplo: Rio Verde é um município do Cerrado em que sobrou apenas sete por cento do Bioma em seu território”, exemplifica.
“E por quê?”, pergunta o geógrafo. “É só olhar para o slogan da cidade, que é a ‘capital do agronegócio’”, continua. “Nós sabemos o que a sanha do agronegócio representa em nosso país, nós estamos acompanhando as discussões sobre os agrotóxicos e uma vitória deles representaria ainda mais retrocessos e menos avanços nas questões socioambientais, de sociobiodiversidade, que é o tema do nosso encontro”.
Há também, segundo o professor Caldas, que representava o Ministério do Meio Ambiente na mesa, algumas restrições legais que inibem o avanço científico. De acordo com o pesquisador, os marcos regulatórios atuais invertem seus vetores e ao invés de inibir deveriam estimular o desenvolvimento técnico científico e a produção dos bens advindos da biodiversidade. “Ao invés de aplicar multas aos pesquisadores, por que não construir um bom programa para premiar quem trabalha com potencial da biodiversidade?”, questiona.
Várias etapas subsequentes são fundamentais para viabilizar o uso efetivo do potencial da biodiversidade e, para o professor Caldas, entre elas está a utilização da química fina, atividade de obtenção de compostos químicos que se caracteriza pela síntese e produção industrial de produtos químicos de altíssimo valor agregado em pequena quantidade para produção in vitro dos princípios ativos. “O problema é que o desconhecido por aqui tem valor socioeconômico igual a zero”, avalia o pesquisador.
Marcelo Rodrigues, estagiário da SBPC, para o Jornal da Ciência