Ministro quer aumentar interação da ciência com a sociedade. Presidente da SBPC diz ser necessário romper barreiras para aumentar o conhecimento.
A maioria dos brasileiros (61%) tem interesse em temas da área de ciência e tecnologia, embora o acesso à informação seja restrito principalmente na população de baixa escolaridade. A constatação é da edição de 2015 da pesquisa sobre percepção pública da C&T, realizado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
O estudo foi divulgado nesta segunda-feira, 13/7, pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo, em coletiva à imprensa na 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), principal evento científico da America Latina que neste ano se realiza na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), interior paulista.
Foram consultadas quase duas mil pessoas com 16 anos ou mais, de todas as regiões brasileiras, no período de 22 de dezembro de 2004 a 16 de março deste ano.
Embora seja elevado o interesse dos brasileiros (61%) pela ciência e tecnologia, o interesse diminuiu se comparado aos 65% registrados na última pesquisa, de 2006. Mesmo assim, o percentual supera o da União Europeia, onde os interessados pela ciência e tecnologia representam 53% da amostragem. Países desenvolvidos como Estados Unidos e alguns da Europa são pioneiros nesse tipo de pesquisa, conforme o CGEE.
O objetivo da pesquisa, segundo o ministro Aldo Rebelo, é orientar as ações, as iniciativas e as políticas públicas na área de ciência e tecnologia. A intenção é também aperfeiçoar formas de popularizar e ensinar ciências, além entender os motivos que levam os jovens a escolher ou não carreiras científicas.
O ministro chamou a atenção para a importância da divulgação científica e citou o fato de a pesquisa sinalizar uma interação modesta da ciência com a sociedade. A pesquisa apontou que apenas seis pessoas em cada grupo de 100 lembram o nome de algum cientista brasileiro, enquanto que somente 12% lembram-se de alguma instituição que faça pesquisa no País.
Para o ministro, é necessário que o governo, as universidades e instituições como a SBPC e a Academia Brasileira de Ciências reforcem as ações de divulgação da ciência no País.
Desinteresse da mídia
A presidente da SBPC, Helena Nader, que também participou da entrevista coletiva, vê necessidade de se aumentar o espaço da ciência no que ela chama de grande mídia. A intenção é atingir um público maior e aumentar o conhecimento da população sobre os benefícios da ciência, além de despertar mais o interesse de jovens pela área científica.
Nesse caso, a presidente da SBPC fez uma alusão ao futebol que, segundo avalia, é divulgado com intensidade pela mídia, despertando o interesse de crianças em se tornar jogador profissional de futebol quando adulto. “Precisamos romper com essa barreira”, recomendou.
Também presente ao evento, o presidente do CGEE, Mariano Laplane, concorda que o curto espaço que a ciência tem na mídia interfere no desconhecimento da população sobre os benefícios da área científica.
“É preciso que haja esforço do governo, de instituições de pesquisa e ensino e da mídia para que a sociedade realmente reconheça e se aproprie da ciência e tecnologia como um recurso estratégico para o desenvolvimento sustentável do País”, conclamou.
Já o presidente da ABC, Jacob Pallis, também presente ao evento, vê necessidade de o Brasil investir em mais “heróis da ciência”. Citou o exemplo do jovem matemático Artur Ávila Cordeiro de Melo, nascido no Rio de Janeiro, que é o primeiro latino-americano e lusófono a receber a Medalha Fields. Trata-se de uma premiação oferecida a matemáticos equivalente ao Prêmio Nobel. Para Palis, Artur Ávila é um modelo a ser seguido por outros jovens brasileiros.
De olho nos benefícios da ciência
O presidente do CGEE disse que a percepção do brasileiro é positiva sobre os benefícios que a ciência e tecnologia produzem para a sociedade. A pesquisa apontou que 73% dos entrevistados acreditam que a ciência e a tecnologia trazem mais benefícios do que malefícios para a humanidade.
O estudo constatou, ainda, que a população é capaz de entender o conhecimento científico e deve ser ouvida nas grandes decisões sobre ciência e tecnologia. Revela, também, que a maioria dos entrevistados (78,1%) considera importante os investimentos em ciência e tecnologia, sobretudo nas áreas de medicina e saúde, energias alternativas, mudanças climáticas, agricultura e em recursos da Amazônia.
O vice-presidente da SBPC, o físico Ildeu de Castro Moreira, especialista em divulgação científica, disse ser necessário aumentar também a difusão da ciência em sala de aula e as visitas a museus de ciência. Para ele, o interesse da população pela ciência está relacionado também às condições econômicas. Nesse caso, acredita que a redução do interesse dos brasileiros pela ciência e tecnologia entre 2006 e 2015 – de 65% para 61%, conforme apontou a pesquisa – deve ser reflexo da piora da conjuntura econômica.
(Viviane Monteiro/ Jornal da Ciência)