A América Latina, com sua riqueza natural e sonhos de lideranças históricas como Simón Bolívar, José Martí e Darcy Ribeiro, almejava uma integração baseada na educação para construir um continente unido e soberano. No entanto, a realidade se apresenta desigual, marcada por disparidades nos sistemas educacionais, barreiras linguísticas e políticas, além da dependência de agências econômicas internacionais. Isso é o que discute reportagem da nova edição da Ciência & Cultura, que tem como tema “América Latina: Integração e Democracia”.
Diante das complexidades do mundo atual, marcado pela quarta revolução industrial, financeirização e emergências climáticas, os caminhos para a integração parecem conhecidos, mas ainda permanecem tímidos e isolados como políticas públicas continentais. Uma das raízes dos desafios enfrentados pela América Latina reside na herança colonial, que moldou modelos de ensino diferenciados em cada país. A diversidade desses sistemas dificulta a mobilidade e acreditação das formações, perpetuando a fragmentação do continente. Além disso, a visão de que o que vem do Norte global é superior continua a orientar a educação, mantendo o foco afastado dos países vizinhos. “Carregamos da nossa história colonial a visão de que o que vem do Norte global e países desenvolvidos é melhor. Nossas universidades acabam contribuindo e colaborando com instituições lá longe e nem sequer conversam com uma universidade instalada na sua mesma cidade, quanto menos com universidades da América Latina”, explica Marcelo Knobel, professor do Instituto de Física “Gleb Wataghin” e ex-reitor da Unicamp.
No entanto, existem iniciativas bem-sucedidas, como o doutorado latino-americano em educação, que promove a formação de professores interessados na integração entre países da região. A Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) também se destaca como um projeto de integração, embora ainda seja uma iniciativa incipiente e carente de apoio financeiro externo. Para alcançar uma integração efetiva na educação, é necessário modernizar o sistema de acreditação e validação de créditos, permitindo a equivalência automática e abrangendo áreas estratégicas para a América Latina.
Além disso, críticas contundentes aos modelos atuais e investimentos substanciais são fundamentais. Uma pressão coletiva sobre agências fomentadoras e organismos internacionais, somada a um compromisso comum entre as sociedades científicas e associações docentes, é necessária para superar as deficiências na educação. A construção de uma identidade comum e o estudo da história da América Latina desde a escola primária até a universidade desempenham um papel crucial na integração. “Nas últimas décadas tem crescido no seio das pessoas um espírito de integração e de compromisso comum que permite construir aquele ethos continental, que supera as ações dos blocos econômicos de integração. A construção dessa identidade comum tem um capítulo importante na educação, um espaço que deve permitir-nos conhecer e reconhecer-nos como parte de um território e destino comum. Portanto, a urgência de retomar os estudos de história da nossa América rebelde desde a escola primária até universidade, onde o sujeito da mudança se manifesta em todas as suas múltiplas expressões e nos permite construir um horizonte comum”, conclui Luis Bonilla, professor visitante do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
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