Por que a SBPC?

Artigo de Fernanda Sobral, professora emérita da UnB, vice-presidente da SBPC e candidata à reeleição

Minha história na SBPC vem de longa data. Inicialmente, participei, enquanto estudante de mestrado em Sociologia, da Reunião Anual, realizada na UnB, em Brasília, no ano de 1976, período da abertura política e da entrada das humanidades na SBPC.  Fiquei maravilhada com a mobilização e a circulação de conhecimento! Essa época, como também outras, é muito bem descrita por Ana Maria Fernandes no seu livro A Construção da Ciência no Brasil e a SBPC, que também me possibilitou conhecer melhor a SBPC e a sua luta pela ciência no Brasil.

Depois participei, no período da Constituinte, de um projeto de pesquisa com Maria Lucia Maciel e Ana Maria Fernandes, entre outros, e na qual pudemos acompanhar de perto a participação da SBPC nesse processo. Cabe ressaltar que o momento da Assembleia Nacional Constituinte foi marcado pelo espírito de uma época, a democracia. Aconteceu na chamada Nova República, com uma intensa participação da sociedade civil, cheia de esperança de mudanças, depois de 21 anos de ditadura. Essa participação intensa e democrática de várias entidades civis, além das governamentais durante essa Assembleia, teve na SBPC um papel fundamental. Foi criada uma comissão, coordenada pelo seu então vice-presidente Albertino Rodrigues, para elaborar uma proposta que tratou de temas como educação e ensino, saúde, espaço territorial e meio ambiente, populações indígenas e C&T (questões que até hoje nos preocupam e são objetos de nossa luta). A proposta foi entregue ao deputado Ulisses Guimarães.

Também pude acompanhar a atuação de três colegas na SBPC: Vilma Figueiredo (que também foi minha orientadora no doutorado), Ana Maria Fernandes, ambas foram vice-presidentes, e Maria Lucia Maciel, que foi secretária. O conhecimento e a atuação dessas mulheres e cientistas sociais sempre me inspiraram muito, fazendo com que nos tornássemos parceiras na luta pela SBPC e na SBPC.

Ademais, me tornei conselheira da SBPC (por indicação inicial de Maria Stela Grossi Porto, conselheira naquela ocasião), na gestão de Helena Nader e na primeira gestão de Ildeu Moreira, e, finalmente, fui eleita vice-presidente desta atual gestão. Ou seja, as relações entre a universidade, a ciência e tecnologia e a sociedade que sempre foram meu objeto de estudo se transformaram em objeto de luta pela educação, ciência e tecnologia, como faz a SBPC nos seus 72 anos de existência. A participação no Conselho e na Diretoria da SBPC tem representado uma oportunidade nesse sentido, sobretudo no momento atual de “democracia rasurada”, no qual pude observar que questões abordadas há muito tempo como educação, ciência, tecnologia, meio ambiente, direitos humanos e saúde continuam na nossa pauta diante de tantos negacionismos por parte do governo.

Gostaria, então, de ainda contribuir para esta luta e também para pensar um Brasil num futuro de mais justiça social, com recomposição da democracia, novas dimensões para a educação, ciência, tecnologia e inovação, como também com maior participação das mulheres na ciência, considerando que muitas delas foram a minha fonte de inspiração. A SBPC significa, para mim, amizades construídas, conhecimento adquirido e lutas travadas. Também a construção de um futuro melhor para todos.