A discussão sobre o futuro da Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) brasileira tem que ser levada para as ruas, afirma o físico Paulo Artaxo, considerado um dos pesquisadores brasileiros mais influentes no mundo. “As preocupações sobre que Brasil queremos precisam ser discutidas com toda a sociedade, com todos que quiserem participar e estiverem preocupados com o futuro desse país”, defendeu Artaxo, em entrevista ao Jornal da Ciência. Ele apresentou nesta segunda-feira (22/4) a Aula Magna “O Papel da Ciência e da Universidade no Desenvolvimento Brasileiro”, promovida pela Associação de Pós-Graduandos (APG), no campus Butantã da Universidade de São Paulo (USP).
Professor titular do Instituto de Física da USP, integrante permanente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC na sigla em inglês), Artaxo garantiu sua presença na mobilização #cienciaocupabrasilia, no próximo dia 8 de maio. Articulado pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) com uma rede nacional de entidades científicas e acadêmicas, o movimento reunirá instituições de pesquisa, universidades, cientistas, professores, pesquisadores e estudantes de todo o Brasil para chamar a atenção do governo e toda a sociedade para a grave situação do setor e as sérias consequências para o desenvolvimento social e econômico do País.
Durante sua apresentação, Artaxo apontou dados sobre os avanços e os desafios para o financiamento da pesquisa no País. Diante da queda do orçamento para investimentos do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), de quase R$ 4,6 bilhões no ano passado, para algo em torno de R$ 2,9 bilhões este ano, com o contingenciamento de 42% anunciado no fim de março, a situação se agrava ainda mais. “Com esse contingenciamento, ficamos abaixo da situação de penúria”, afirmou. Para ele, a falta de dinheiro é o sintoma mais crítico de uma carência imensa do setor: “o reconhecimento da sua importância para o desenvolvimento do País como um todo”.
Artaxo disse que a gestão do ministro Marcos Pontes à frente do MCTIC não pode ser vista isoladamente, mas no contexto da falta de planos para a gestão Bolsonaro em geral, seja nos transportes, ciência, tecnologia ou na educação. Para o físico, o governo está “totalmente perdido, sem direção, sem estratégia”. “Cada um dá tiros em uma direção e em outra, e o Brasil vai perdendo com isso”.
Ele afirmou ainda que a comunidade científica deve apostar na popularização da ciência e seguir investindo em estudos e iniciativas, como os que já estão sendo feitos por entidades como a SBPC e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) para embasar debates com a sociedade e com o governo.
Janes Rocha – Jornal da Ciência