O presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Marco Americo Lucchesi, foi o conferencista convidado dessa quinta-feira, 5 de novembro, da 72ª Reunião Anual da SBPC. Professor titular de Literatura Comparada na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), poeta e ensaísta, ele falou sobre a relação da matemática com a poesia na conferência intitulada “Literatura e ciência”. A atividade foi apresentada pelo presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira.
Com a proposta de rechaçar a ideia de dois mundos incomunicáveis e auto-excludentes, Luchesi dedicou a apresentação a dois matemáticos, o romeno Solomon Marcus e o brasileiro Ubiratan D’Ambrosio, fundador da etnomatemática.
Segundo o presidente da ABL, quando se fala da poesia, salta aos olhos a arte pura, as formas artísticas, o conceito de forma poética que, no entanto, pertence não apenas à arte, mas também abrange a matemática. “Isso se dá de múltiplas formas e começa com os pitagóricos. A estética e a poética da matemática deveriam ser levadas cada vez mais em consideração. Justamente depois da experiência dos fractais, da geometria do caos, das múltiplas geometrias não-euclidianas.”
Luchesi discorreu sobre o trabalho de outro matemático romeno, Dan Barbilian, que adotou o pseudônimo Ion Barbu para distinguir o poeta do cientista, e declamou, em romeno e em português, trechos de poemas de Barbu publicados em 1930, na obra “Jogo segundo”. “A poesia de Ion Barbu é uma espécie de galáxia coagulada na mais relevante essencialidade. Um cosmos onde gravitam as diversas forças de interação e objetos astronômicos: objetos da língua, bem entendido, no céu intangível da poesia. Planetas errantes, e muitos sóis, meteoritos velozes, na matéria escura do sentido, em aglomerados que brilham, em satélites desgarrados de significantes fatais. Assim, esse magnifico inventor de língua fundou um universo paralelo, lançando mão do romeno antigo e literário, sem abandonar a palavra de seu tempo, aderente, vigilante e, todavia, atemporal”, afirma.
Na opinião de Lucchesi, Barbu adiantou-se a filósofos e matemáticos, de Simone Weil a Iuri Manin, que entendem a matemática em sua raiz metafórica, na operação de padrões simbólicos. Segundo ele, o matemático romeno faz parte de uma grande família espiritual, na qual também fazem parte Joaquim Cardozo, conhecido como poeta dos cálculos, e Leonardo Sinisgalli, poeta e crítico de arte italiano.
“Barbu, enquanto poeta, não abandona a geometria não euclidiana. E, enquanto matemático, a poesia é perceptível em camadas profundas. Ele deixou uma herança generosa e inesgotável na matemática e na poesia, na condição híbrida onde ele buscou uma ressignificação fundamental”, concluiu o presidente da ABL.
Assista aqui à conferência na íntegra.
Vivian Costa – Jornal da Ciência