O Rio de Janeiro recebe nesta semana lideranças científicas de mais de 70 países para a 17ª Conferência Geral da Academia Mundial de Ciências (TWAS). Realizado em parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC), o evento reúne, de 29 de setembro a 2 de outubro, autoridades, pesquisadores e representantes de organizações do Sul Global para debater o papel da ciência na construção de um futuro sustentável. A presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Francilene Garcia, foi uma das convidadas a discursar na cerimônia de abertura.
Em sua fala, Garcia destacou a urgência de ampliar a cooperação entre os países da região e repensar como essas nações podem se organizar para enfrentar desafios como as mudanças climáticas e as transformações digitais e sociais que afetam o mundo inteiro.
“O Brasil acredita firmemente na cooperação Sul-Sul, queremos parcerias justas e iguais com a América Latina, África, Ásia e Caribe – compartilhando infraestrutura, valorizando o conhecimento local e construindo tecnologias que funcionem para nossos povos. Isso é fundamental para um sistema científico global mais justo, mais equilibrado”, declarou.
Garcia ressaltou o país passa por um momento de retomada do vigor científico, expresso na elaboração de uma nova estratégia para o sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação, fruto da 5ª Conferência Nacional de CT&I, em 2024. Segundo ela, a meta é consolidar uma política de Estado que coloque a ciência no centro do desenvolvimento sustentável e inclusivo, o que inclui também a colaboração internacional entre suas prioridades.
“Nossa comunidade científica é vibrante e criativa. O Brasil é um dos maiores produtores de conhecimento científico do Sul Global e contribui em diversas áreas: no monitoramento da Amazônia e dos oceanos, no desenvolvimento de vacinas e soluções para a saúde, no avanço de energias renováveis e tecnologias digitais, e na exploração da inteligência artificial para o bem social”, acrescentou.
A presidente da SBPC também reforçou o papel histórico da entidade na defesa da ciência e da democracia, promovendo a aproximação de cientistas e colaborando para criar pontes entre pesquisa, educação, inovação e políticas públicas. Propósitos que se conectam à missão da TWAS, de conectar a comunidade científica da região e criar oportunidades de cooperação. “Que esta conferência nos ajude a trabalhar ainda mais perto, a produzir ciência de excelência e ética, e garantir que esta cooperação sirva à paz, à sustentabilidade e à dignidade de todos.”
Garcia ressaltou a importância da diversidade para uma ciência mais inclusiva e cooperativa, destacando a presença inédita de mulheres na liderança de instituições científicas – Helena Nader, na Academia Brasileira de Ciências (ABC), e Quarraisha Abdool Karim, presidente da TWAS, ao lado da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos. Ao encerrar, convocou os participantes a refletirem sobre quais ‘pontes de conhecimento e amizade’ podem ser construídas para transformar o futuro de forma concreta.
Leia o discurso na íntegra abaixo:
Bom dia a todos.
Saúdo as autoridades, cientistas e convidados, com gratidão pela dedicação à ciência e à cooperação global.
Em nome dos presidentes da TWAS e da Academia Brasileira de Ciências (ABC), cumprimento calorosamente todos os distintos membros deste painel, agradecendo a cada um por sua liderança e compromisso com a ciência e a cooperação global.
É uma verdadeira honra falar em nome da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência — SBPC neste momento tão importante.
Reunimo-nos hoje em um mundo que passa por mudanças rápidas e profundas. Enfrentamos crises climáticas que ameaçam a natureza e as pessoas, emergências de saúde que retornam repetidamente, desigualdades crescentes e transformações tecnológicas aceleradas que moldam nossas economias e a vida cotidiana. Essas mudanças também nos impulsionam a repensar como o mundo se organiza e como os países colaboram entre si.
O Brasil chega a este momento com energia renovada. Depois de anos desafiadores, estamos retomando o forte investimento público em ciência, tecnologia e inovação. Guiados pelo trabalho da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, estamos preparando uma nova Estratégia Nacional (ENCTI 2026–2035) e um Plano Decenal para colocar o conhecimento e a inovação no centro do desenvolvimento sustentável e inclusivo.
Nossa comunidade científica é vibrante e criativa. O Brasil é um dos maiores produtores de conhecimento científico do Sul Global e contribui em diversas áreas: no monitoramento da Amazônia e dos oceanos, no desenvolvimento de vacinas e soluções para a saúde, no avanço de energias renováveis e tecnologias digitais, e na exploração da inteligência artificial para o bem social.
A SBPC, que tenho o privilégio de presidir, há muito defende a ciência e a democracia, aproxima cientistas e sociedade, e ajuda a construir pontes entre pesquisa, educação, inovação e políticas públicas.
É inspirador ver aqui hoje três mulheres presidentes da TWAS, da Academia Brasileira de Ciências e da SBPC, junto à nossa Ministra da Ciência e Tecnologia. Isso mostra uma mudança em direção a uma ciência mais diversa, inclusiva e cooperativa.
O Brasil acredita firmemente na cooperação Sul–Sul, queremos parcerias justas e iguais com a América Latina, África, Ásia e Caribe — compartilhando infraestrutura, valorizando o conhecimento local e construindo tecnologias que funcionem para nossos povos. Isso é fundamental para um sistema científico global mais justo e equilibrado.
A TWAS é central nesse esforço, conectando cientistas de diferentes regiões e criando oportunidades. Quero enaltecer o professor Marcelo Knobel por sua liderança e por fortalecer o papel da TWAS no Sul Global.
Que esta conferência nos ajude a trabalhar ainda mais juntos, tornar a ciência excelente e ética, e garantir que a cooperação sirva à paz, à sustentabilidade e à dignidade de todos.
Ao avançarmos juntos, deixo uma pergunta: que novas pontes de conhecimento e amizade podemos construir a partir daqui para transformar nosso futuro compartilhado?
Muito obrigada.
Rio de Janeiro, 29 de setembro de 2025
Francilene Procópio Garcia
Daniela Klebis, Jornal da Ciência