Reconstruir com planejamento, integridade e ciência

SBPC lança em seu Jornal da Ciência um “Observatório da Emergência Climática”, com manifestações, notícias e análises sobre as crises relacionadas às mudanças climáticas e à falta de políticas de mitigação e adaptação. Esta primeira publicação abrange a tragédia no RS e o necessário plano de reconstrução: “Esta é uma oportunidade para fazer-se bem o que antes se fez mal. Somente assim, o Rio Grande do Sul poderá se reerguer com força e servir de modelo para outras regiões, conforme proclama o hino estadual: ‘sirvam nossas façanhas de modelo a toda a Terra’”, escreve a Diretoria da SBPC em nota

whatsapp-image-2024-05-21-at-16-08-52Está na hora de reconstruir o Rio Grande do Sul, mas não se pode voltar ao que era antes, e que propiciou tanto as inundações quanto a falta de defesas ante elas. As recentes enchentes devastadoras não apenas inundaram o Estado, mas também expuseram uma falha profunda na gestão e na preparação para eventos climáticos extremos. A tragédia, que tirou dezenas de vidas e causou prejuízos incalculáveis, é um lembrete doloroso da necessidade urgente de um planejamento eficaz e baseado em ciência para a reconstrução.

Há muito tempo, cientistas alertam sobre os riscos crescentes de desastres naturais exacerbados pelas mudanças climáticas. No entanto, esses alertas foram ignorados pelos gestores estaduais e municipais, resultando em um estado de vulnerabilidade que amplificou os impactos das enchentes. Agora, mais do que nunca, é essencial que o Rio Grande do Sul aprenda com os erros e irresponsabilidades do passado e se reerga com sabedoria e resiliência.

A reconstrução do Estado não pode simplesmente restaurar o status quo anterior. É imperativo que se implemente um planejamento robusto, que contemple não apenas a recuperação imediata, mas também a prevenção de futuros desastres. As propostas apresentadas para a reconstrução devem seguir alguns princípios fundamentais:

1)     Todo auxílio deve ser condicionado – para além do atendimento emergencial aos que agora padecem os efeitos das cheias – a planos bem definidos;

 

2)     Tais planos devem priorizar:

a)     Os cuidados com o meio ambiente, para evitar, na medida do possível, a repetição do que sucedeu;

b)     Defesas físicas e humanas – criação e manutenção de infraestruturas de defesa, como diques, bem como a capacitação de equipes de socorro, essenciais para a proteção contra eventos extremos futuros;

c)     Revisão dos processos de urbanização e de ocupação do solo;

d)     Inclusão social, priorizando-se o atendimento aos mais pobres e vulneráveis;

 

3)     A participação da comunidade científica gaúcha, altamente qualificada, deve ser prioritária em todas as fases da reconstrução. O conhecimento científico deve guiar as decisões para garantir que as ações tomadas sejam eficazes e baseadas em evidências.

O Rio Grande do Sul tem diante de si a oportunidade de corrigir os erros do passado e construir um futuro mais seguro e sustentável. Entendemos que essas condições são indispensáveis e que constituem o mínimo para qualquer projeto se realizar, bem como para serem destinados recursos do País inteiro para a reconstrução do Estado.

Não podemos permitir que a negligência e a falta de planejamento voltem a colocar vidas e bens em risco. Este é o momento de agir com responsabilidade, integridade e, acima de tudo, com ciência. Finalmente, esta é uma oportunidade para fazer-se bem o que antes se fez mal. Somente assim, o Rio Grande do Sul poderá se reerguer com força e servir de modelo para outras regiões, conforme proclama o hino estadual: “sirvam nossas façanhas de modelo a toda a Terra.”

Diretoria da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC

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Veja as notas do Observatório da Emergência Climática: Enchentes no Rio Grande do Sul

Gaúcha ZH, 21/05/2024 – Reconstrução é oportunidade de melhorar RS; oportunismo não pode ser tolerado

Valor, 20/05/2024 – Contrato de Prefeitura com consultoria cria polêmica em Porto Alegre

Jornal GGN, 14/05/2024 – Como a Alvarez & Marsal, que vai gerir a crise em Porto Alegre, capitaliza com desordens e tragédias naturais

Sul 21, 18/05/2024 – O papel das universidades públicas frente à emergência climática

ASSUFRGS, 13/05/2024 – Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS divulga propostas para reconstrução do Rio Grande do Sul

Folha de S. Paulo, 20/05/2024 – Porto Alegre gastou apenas R$ 11,6 milhões com defesa civil entre 2021 e 2023

Matinal – Marchezan perdeu verba milionária destinada a sistema anti-enchente

Matinal – “Sistema anti-enchente falhou por falta de manutenção”, avaliam especialistas

Deutsche Welle Brasil, 16/05/2024 – Enchentes no Rio Grande do Sul: o que deu errado?

UOL, 15/05/2024 – Desmatamento e menos controle: como gestão Leite impactou cheias no RS

GZH, 29/09/2023 – Lei de gestão de desastres poderia ter reduzido impacto de enchentes no RS, dizem especialistas

Jornal GGN, 08/05/2024 – Não é Plano Marshall. Precisamos de um New Deal. E isso é incompatível com o arcabouço

Jornal da USP, 21/05/2024 – Desastre ambiental no RS prova que as mudanças climáticas são uma realidade que não se pode ignorar

Valor – A tragédia climática no Sul e a mão visível do Estado