Representantes de quatro regiões brasileiras recebem premiações em feira internacional de ciências

Oriundos da Febrace e da Mostratec, as duas mais importantes feiras de ciências do Brasil, delegação brasileira conquista 10 prêmios e 3 menções honrosas na Intel Isef 2018, nos EUA. Registro de patentes é novidade entre os brasileiros

Estudantes de quatro regiões e seis estados brasileiros diferentes foram premiados durante as cerimônias da Intel Isef (International Science and Engineering Fair), realizada em Pitsburgo, Pensilvânia, nos Estados Unidos, entre os dias 13 e 18 de maio. Os jovens cientistas brasileiros conquistaram 10 prêmios e 3 menções honrosas nas competições nomeadas ‘Special Awards Ceremony’ e ‘Grand Awards Ceremony’.

Mais importante premiação em termos internacionais, a Intel Isef atraiu mais de dois mil estudantes de 81 países, que foram incentivados a desenvolver projetos inovadores nas áreas das ciências, tecnologia, engenharia e matemática, e a explorar soluções que melhorem a qualidade de vida em suas localidades e em todo o mundo. Situação corriqueira na feira americana, as feiras brasileiras também registram novos pedidos de patentes dos estudantes de ensino médio.

Para atestar a importância e a qualidade da premiação, a professora da Poli-USP e organizadora-geral da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), Roseli de Deus Lopes, destaca o rigor da comissão de avaliação da Isef e o número de países e estudantes participantes.

“O corpo de avaliadores faz uma avaliação rigorosa, dão sugestões, verificam o trabalho e abrem oportunidades pra esses jovens”, diz. “É muito difícil ganhar algum tipo de premiação lá nos EUA porque a cada ano são mais países participando, todas as delegações fazem um trabalho melhor a cada ano, envolvendo cada vez mais estudantes de seus países, é por isso que a conquista desses estudantes é tão representativa”, comemora.

A delegação brasileira teve 18 projetos entre os finalistas e conquistou dez prêmios e três menções honrosas, sendo o país mais premiado da América Latina em número de prêmios e a 7ª delegação mais premiada do mundo, ficando atrás dos EUA, China, Rússia, Canadá, Índia e Arábia Saudita.

A nova geração de inovadores competiu por mais de cinco milhões de dólares em prêmios e foram julgados pela sua capacidade criativa e pensamento científico, rigor, competência e clareza mostrada em seus projetos.

A organizadora da Febrace atribui o sucesso dos brasileiros aos materiais produzidos nas feiras brasileiras, que são disponibilizados e divulgados online, atraindo atenção de um público cada vez maior. “As pessoas estão cada vez mais dizendo ‘olha, essa pessoa aqui é de escola pública; essa é de escola privada, e estão fazendo projetos incríveis, qual o segredo deles? Eles são pessoas muito diferentes?’”, exemplifica.

“Não”, continua Lopes, “são pessoas normais que estão atentas a problemas locais e acreditam que podem gerar conhecimento novo, seja para explicar algum fenômeno físico, natural ou social, seja para desenvolver uma tecnologia e, à medida que a cada ano nós fazemos a devida divulgação, as pessoas lá na ponta dizem ‘nossa, eu também posso’.”

Os jovens cientistas fazem parte da Delegação Brasileira, composta por 25 estudantes que apresentaram 18 projetos, sendo 14 estudantes representando nove projetos que foram selecionados na 16ª Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), realizada em São Paulo-SP, e 11 estudantes representando nove projetos que foram selecionados na Mostratec, realizada em Novo Hamburgo-RS.

A Febrace e a Mostratec são as duas principais feiras de ciências do País e capilarizam a divulgação e iniciação científica em escolas pelo Brasil inteiro. Assim, os premiados representam seis estados e quatro regiões brasileiras diferentes: Amapá, Bahia, Ceará, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo.

Segundo Lopes, tanto a Febrace quanto a Mostratec têm a preocupação de levar estudantes que se destacaram nas feiras, mas que representam as diferentes regiões do Brasil. “Em anos anteriores”, destaca Lopes, “nós levávamos jovens que dificilmente seriam premiados, mas levávamos porque eles voltam dessas feiras como ativistas, divulgando o trabalho dessas feiras em sua região. Nos anos seguintes, a probabilidade deles conseguirem conquistar uma premiação foi maior.”

De acordo com Lopes, isso tem sido verificado na prática: “Ao longo dos anos, se formos pegar os números de premiações, está evidenciado que nós estamos conseguindo ter premiações com alunos de escolas públicas e privadas de localidades muito diferentes do Brasil.”

Realizada desde 1950, a Intel Isef é uma competição baseada no talento demonstrado e na qualidade dos projetos e pesquisas desenvolvidos por estudantes de todo o mundo que ainda não chegaram ao ensino superior. E já revelou milhares de talentos em Ciências e Engenharia.

Patentes

Durante a edição de 2018 da Febrace, a professora Roseli de Deus Lopes percebeu que alguns jovens do ensino médio estão dando entrada em pedidos de patente para levar seus projetos à feira. “Foi o primeiro ano que eu percebi isso”, destaca, “lá nos EUA, na Isef, isso já era uma coisa corriqueira. Estudantes de diversos países, quando iam apresentar alguma inovação tecnológica já chegavam com pelo menos a entrada da patente para garantir a proteção.”

Durante a Febrace, não foi apenas um estudante que fez isso. Segundo Lopes, foram pelo menos meia dúzia, e pode ser que esse número seja maior. Um dos casos é o de Gabriel Gelli Checchinato, de 18 anos, ex-estudante do Colégio Ser, de Jundiaí-SP.

Hoje estudante de mecatrônica na USP, o jovem do interior paulista desenvolveu um mecanismo para tornar produtos como purificadores de água ou dispensers de geladeira autônomos. Ou seja, basta colocar um recipiente, independente do tamanho, para que o conteúdo o encha automaticamente. Um copo ou uma jarra se enche como o usuário definir, uma vez que o mecanismo pode ser regulado. A ideia auxilia deficientes visuais e previne transbordamentos.

Como o colégio em que Gabriel estudava não possuía estrutura para a ciência, ele pouco utilizou os espaços escolares. Combinou com seu orientador que desenvolveria o projeto dentro de um laboratório forjado no porão de sua casa. “Cheguei a usar o laboratório da USP para usar uma ferramenta que eu não tinha, mas o projeto foi 99% desenvolvido em uma oficina no porão de casa.”

Roseli destaca o potencial que essas feiras têm de provocar o potencial dos alunos, que, às vezes, como no caso de Gabriel, superam barreiras para criar projetos inovadores. “Nós estamos conseguindo provocar estudantes de escolas regulares, que não têm infraestrutura tão avançada, às vezes não têm orientadores tão especializados, mas estão se apropriando das tecnologias que estão disponíveis, seja na casa, na escola, na biblioteca, em parceria com algum centro de pesquisa. Eles estão se mexendo e estão conseguindo realizar projetos de alto nível, que resolvem problemas de verdade porque, em competições como essa, o que tem valor não é o produto que o aluno fez. O que tem valor é o próprio aluno, o estudante, o potencial que ele demonstra naquilo que ele fez.”

Gabriel conta que após ter sido agraciado pela Febrace e agora também na feira americana, voltou à escola para conversar com alunos e professores. O jovem cientista acredita que contribuiu para mudar a percepção dos alunos e também da escola. “Eu imagino que a escola possa mudar. Eu os visitei e conversei bastante com outros alunos, então eu imagino que eles comecem a ter uma participação maior. Agora, pelo menos a divulgação acho que já está garantida”, comemora.

A primeira preocupação do estudante da USP é procurar empresas que se interessem pelo projeto. “Eu depositei a patente primeiro, pensando em proteger minha ideia, porque eu queria mostrar para as pessoas, não queria manter meu projeto em segredo. Agora eu vou entrar em contato com empresas para ver se elas se interessam. Para vender uma ideia, a patente é fundamental”, defende.

PREMIADOS

Isabela, Gabriel, Maria Vitória, Andrea e Laura – Estudantes premiados na Grand Award Ceremony

1) Química – Terceiro Lugar e o prêmio de 1.000 dólares
Projeto: Detecção de drogas ansiolíticas em bebidas alcoólicas adulteradas

Isabela Dadda dos Reis

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – Campus Osório, Osório, RS, Brasil
Credenciada pela Febrace

2) Sistemas Embarcados – Terceiro lugar e o prêmio de 1.000 dólares

Projeto: Dispenser autônomo de líquidos para recipientes com tamanhos variados

Gabriel Gelli Checchinato

Colégio Ser!, Jundiaí, São Paulo, Brasil
Credenciado pela Febrace

3) Medicina Translacional – Terceiro lugar e o prêmio de 1.000 dólares
Projeto: Utilização de compostos bioativos microbianos no desenvolvimento de alternativa para combate de Cândida spp.

Maria Vitória Valoto

Colégio Interativa de Londrina, Paraná, Brasil
Credenciada pela Febrace

4) Microbiologia – Quarto lugar e o prêmio de 500 dólares
Projeto: Avaliação in vitro de citotoxicidade e genotoxicidade de um líquido iônico com atividade antifúngica

Andrea Auler e Laura Brizola

Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, Rio Grande do Sul, Brasil
Credenciadas pela Mostratec

Myllena, Isabela, Juliana, Caio e Gabriel Negrão – estudantes premiados na Special Award Ceremony

1) American Chemical Society
Segundo lugar e o prêmio de 3.000 dólares

Projeto: Detecção de drogas ansiolíticas em bebidas alcoólicas adulteradas

Isabela Dadda dos Reis

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – Campus Osório, Osório, RS, Brasil
Credenciada pela Febrace

2) Arizona State University
Prêmio Bolsa de Estudo

Projeto: Ciclo ambiental polimérico: produzindo materiais cristalinos para resolução de problemas ambientais

Myllena Cristyna Braz da Silva

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Limoeiro do Norte, CE, Brasil
Credenciada pela Febrace

3) University of Arizona
Prêmio Bolsa de Estudos

Projeto: Tratamento de efluentes têxteis através de resíduos agroindustriais provenientes do litoral norte gaúcho

Juliana Davoglio Estradioto

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – Campus Osório, Osório, RS, Brazil
Credenciada pela Mostratec

4) University of Arizona
Prêmio Bolsa de Estudos

Projeto: Ciclo ambiental polimérico: produzindo materiais cristalinos para resolução de problemas ambientais

Myllena Cristyna Braz da Silva

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Limoeiro do Norte, CE, Brasil
Credenciada pela Febrace

5) Qatar Foundation, Research & Development
Primeiro lugar e o prêmio de 1.000 dólares
Projeto: Estudo da Conversão Fotovoltaica através de um modelo de Dessalinizador para Geração de Energia Elétrica

Caio Vinícius Lima de Souza

Escola Estadual Gabriel de Almeida Café, Macapá, Amapá, Brasil
Credenciado pela Mostratec

6) Spectroscopy Society of Pittsburgh
Terceiro lugar e o prêmio de 750 dólares

Projeto: Estudo sobre a síntese orgânica assimétrica do álcool 1-feniletanol através de processos biocatalíticos utilizando-se casca de laranja (Citrus Sinensis).

Gabriel Negrão de Morais

Sesi Piatã, Escola Djalma Pessoa, Salvador, Bahia, Brasil
Credenciado pela Mostratec

CERTIFICADO DE MENÇÃO HONROSA

1) American Chemical Society

Certificado de Menção Honrosa
Projeto: Estudo sobre a síntese orgânica assimétrica do álcool 1-feniletanol através de processos biocatalíticos utilizando-se casca de laranja (Citrus Sinensis).

Gabriel Negrão de Morais

Sesi Piatã, Escola Djalma Pessoa, Salvador, Bahia, Brasil
Credenciado pela Mostratec

2) American Statistical Association
Certificado de Menção Honrosa

Projeto: Detecção de drogas ansiolíticas em bebidas alcoólicas adulteradas
Isabela Dadda dos Reis

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – Campus Osório, Osório, RS, Brasil
Credenciada pela Febrace

3) National Aeronautics and Space Administration (NASA)
Certificado de Menção Honrosa
Projeto: Sistema de mapeamento autônomo

Pedro Henrique Capp Kopper

Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, Novo Hamburgo, RS, Brasil
Credenciado pela Febrace

Marcelo Rodrigues, estagiário da SBPC