Reunião Regional da SBPC no Espírito Santo abre com alerta para a crise climática

Com o tema “Clima e Oceano: a urgência de construir um futuro sustentável” cerimônia de abertura do evento foi realizada nessa quarta-feira (19/2) em Vitória, com presença de cientistas, autoridades locais e apresentação do projeto Serenata D’Favela
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Mesa de abertura: Fotos: Jardel Rodrigues/SBPC

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) deu início nesta quarta-feira (19/2), no campus Goiabeira da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), à Reunião Regional no Espírito Santo, evento que marca a volta da entidade ao estado três décadas depois da Reunião Anual de 1994.

“Temos uma missão importante e devemos garantir que a ciência continue sendo uma voz decisiva para a nossa sociedade”, declarou o presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, em sua mensagem de abertura, lida pela secretária geral da entidade, Claudia Linhares Sales – por problemas de saúde, o presidente da SBPC não pode participar presencialmente.

A mensagem de Janine Ribeiro estava relacionada com o tema do encontro – “Clima e Oceano: a urgência de construir um futuro sustentável” –, apontando para a realização no Brasil, em novembro próximo, da 30ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre o Clima (COP 30), em Belém do Pará. “O fato de realizarmos alguns meses antes, aqui na capital do Espírito Santo, uma reunião regional voltada à questão dos oceanos e do clima é uma preparação importante para a COP 30”, afirmou.

Ribeiro disse que a intenção da SBPC, com essa Reunião Regional, é difundir um documento, a “Carta de Vitória”, no qual a entidade expressará seu entendimento sobre a COP 30 e o que esse evento representa para o Brasil. “É um desafio, porque estamos vivendo de forma cada vez mais trágica e dolorosa o aquecimento global, que causa mortes, devastação e outras consequências graves”. O presidente da SBPC lembrou ainda que não se pode imaginar uma natureza preservada em uma sociedade injusta: “Para que a natureza seja respeitada, a sociedade também precisa ser respeitada. O Brasil tem uma dívida social muito grande.”

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Claudia Linhares Sales, secretária-geral da SBPC

A solenidade de abertura da Reunião Regional contou com a apresentação musical dos jovens do Serenata D’Favela, projeto surgido em 2009 na região do Morro do Quadro, na capital capixaba, que contribui com a formação artística e cultural de crianças e adolescentes.

O governador Renato Casagrande (PSB) falou dos programas de mitigação e adaptação de eventos climáticos implementados junto aos municípios, exaltou a ciência na administração pública e criticou o negacionismo: “Quem é gestor, como eu sou, precisa trabalhar com evidências científicas”, afirmou, completando: “Nós vivenciamos um momento nesse Brasil em que as evidências científicas foram negadas (…), o negacionismo científico e climático ainda estão presentes em segmentos da nossa sociedade e nós precisamos trabalhar forte para que a gente convença as pessoas da importância dos investimentos em pesquisa, em ciência e inovação”, disse Casagrande.

Além do governador, estavam no palco do Teatro da Ufes a vice-presidente da SBPC, Francilene Procópio Garcia; o reitor da Ufes, Eustáquio Vinícius Ribeiro de Castro; Tarcísio José Föeger, secretário municipal de Meio Ambiente do município; Bruno Lamas Silva, secretário estadual de Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação Profissional (Secti); Paulo Artaxo, vice-presidente da SBPC; Rodrigo Varejão Andreão, diretor-geral da Fundação estadual de Amparo à Pesquisa (Fapes); Luiz Davidovich, assessor da Presidência da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e Ildeu de Castro Moreira, presidente de honra da SBPC.

O reitor Eustáquio Vinicius Ribeiro de Castro mencionou o desastre ambiental de Mariana (MG), cuja devastação atingiu a costa do Espírito Santo, ressaltando que a “questão climática é um tema muito caro, não só para nós, mas para todo o Brasil”. Para ele, o ponto principal é como colocar a inteligência humana em favor da vida.

O vice-presidente da SBPC, Paulo Artaxo, reforçou que o foco da Regional é o impacto das mudanças climáticas nas atividades econômicas e sociais do país dos quais os eventos climáticos extremos, como as ondas de calor intenso deste verão, é uma das faces mais visíveis. “Mas existem muitas faces que a gente não consegue enxergar, tais como o impacto do clima na produtividade agrícola brasileira, que vai afetar a nossa economia de uma maneira muito forte”, ressaltou.

Artaxo lembrou que o Espírito Santo em particular tem outras vulnerabilidades às mudanças climáticas como o aumento do nível do mar que deve afetar as atividades portuárias, uma das mais importantes da economia do estado. “E não podemos esquecer também do nosso bom e velho café, que é um dos cultivares mais sensíveis às mudanças do clima que já está sofrendo hoje problemas de produtividade devido às mudanças climáticas”, completou.

Francilene Procópio Garcia acrescentou que o objetivo do encontro é movimentar e mobilizar os debates em torno de novas demandas da sociedade frente às crises climática, sanitária e as transformações da era digital nesse início de século 21, trazendo a necessidade de repensar atitudes, comportamentos e as políticas públicas.

“É importante colocar que a realização dessa reunião regional ocorre após o protagonismo do Brasil à frente do G20, que trouxe para o centro dos debates as questões sociais e ambientais”, declarou. Para ela, a discussão sobre questões climáticas tem que levar em conta a riqueza da biodiversidade brasileira. “É preciso que o Brasil coloque a partir da riqueza da sua biodiversidade não só a sua ciência, aquela que é desenvolvida no Brasil, orientada a biomas tão singulares, não apenas a questão da Amazônia, mas vários outros biomas, das costas e dos oceanos, dos biomas marinhos que são tão importantes”.

Garcia destacou ainda a popularização da ciência, um tema caro à SBPC que esatará presente na Regional por meio da iniciativa SBPC Vai à Escola. “Esse é um ponto fundamental e aí a conexão com o SBPC Vai à Escola, porque é preciso que a gente reconheça a importância da mobilização dos jovens desde muito cedo, iniciando na educação fundamental, passando pelo médio até chegar à universidade e talvez até numa pós-graduação”.

A programação da Reunião Regional segue até amanhã (21/2), inclui debates, mesas-redondas e uma versão especial do programa SBPC vai à Escola.

A solenidade de abertura da Reunião Regional da SBPC no Espírito Santo está disponível na íntegra no canal da SBPC no Youtube

Janes Rocha – Jornal da Ciência