Para a presidente da SBPC o Brasil já avançou em C&T mas ainda tem gargalos. “Tecnologia, inovação e educação básica são os grandes desafios a enfrentar”.
“Estou cansada desse complexo de inferioridade no Brasil. Eu tenho orgulho da educação e da ciência em nosso país, e quero demonstrar hoje porque penso assim”. Com esta afirmação a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena B. Nader, iniciou a conferência de abertura da Reunião Regional da SBPC no Parque Tecnológico de São José dos Campos, na manhã da última 5ª. feira, 5 de junho. Dirigindo-se a uma audiência composta principalmente por centenas de estudantes de graduação e pós-graduação e professores de instituições de ensino superior da cidade, Nader lembrou alguns marcos da história da educação, ciência e tecnologia no País, e brincou: “Deveríamos ser gratos a Napoleão Bonaparte, pois se não fosse pela ameaça de invasão a Portugal, a família real portuguesa não teria se deslocado para o Brasil e com ela trazido todo o acervo que deu origem à Biblioteca Nacional. Também foram responsáveis pela criação da Escola de Cirurgia, em Salvador, que posteriormente, em 1832, tornou-se a primeira Faculdade de Medicina do Brasil, o Observatório Nacional, e pela implantação do Jardim Botânico no Rio de Janeiro,” disse Nader.
Além da criação de instituições como o CNPq e a Capes (1951), que deram início à institucionalização da ciência no País, a conferencista considerou como acertos importantes o sistema de financiamento da pesquisa científica e tecnológica, hoje implantado em todo o País, a ampliação permanente da pós-graduação e o sistema de avaliação que garante a produção qualificada. “Esses acertos são reconhecidos internacionalmente, tanto que a conceituada revista Science publicou, em dezembro de 2010, reportagem sobre a produção científica brasileira, onde destacou que entre 1997 e 2007 o número de trabalhos científicos indexados em publicações qualificadas no mínimo dobrou, passando a 19 mil por ano.”
A presidente da SBPC também salientou como acerto importante o movimento que propiciou a ampliação do número de universidades no País nos últimos anos, não só federais mas também estaduais. “Viajo muito pelo Brasil e tenho me surpreendido com o número crescente também de universidades estaduais, que têm levado o ensino superior para os estados mais carentes nas regiões Norte e Nordeste”. Porém, ela destaca que além de incrementar o acesso, será necessário investir mais na qualidade dessas universidades, e incentivar cada vez mais o ensino técnico. “O País também precisa de técnicos, não podemos esquecer disto”, afirma Nader.
“A base da pesquisa científica brasileira é fortemente orientada para agricultura, ecologia e doenças infecciosas. O Brasil é líder mundial em trabalhos relacionados a açúcar, café e laranja. A pecuária produz 33% dos embriões bovinos do mundo. A pesquisa nestas áreas é cada vez maior e coloca o Brasil em uma boa posição para abordar as preocupações globais com a segurança alimentar, mudanças climáticas e conservação ambiental,” disse Helena.
No campo da produção agrícola e industrial, a conferencista mencionou o sucesso alcançado nos setores aeroespacial, agricultura, produção animal, automação (bancos e eleições), biocombustíveis, celulose e indústria do papel, controle biológico de insetos, doenças tropicais e saúde pública, e exploração de petróleo em águas profundas.
Para Helena, os grandes desafios a serem enfrentados pelo Brasil estão no campo da tecnologia e inovação, onde a situação do País ainda é bastante desfavorável. No ranking dos 100 países mais inovadores do mundo, divulgado pelo The Global Innovation Index 2013, o Brasil amarga a 64ª. posição. Apesar de incentivos governamentais nos últimos anos, ainda existe uma relutância estrutural para que o País consiga avançar em tecnologia e inovação, devido a inúmeros entraves como o arcabouço legal, o baixo investimento do setor privado, entre outros.
Outro grande desafio a ser enfrentado são os baixos resultados no desempenho do ensino básico em todo o Brasil, especialmente no ensino médio, o que afeta diretamente a qualidade dos processos de aprendizagem nas universidades e, consequentemente, a produtividade científica. Sobre essa questão, Nader citou o educador Anísio Teixeira: “Só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a da escola pública”.
E ainda como desafio a superar, ainda que pouco considerado, está a falta de proficiência em inglês que faz a internacionalização uma tarefa difícil de realizar. Citou o exemplo da Colômbia, onde o governo decidiu que até 2020 o país será bilíngue, e estabeleceu parceria com o British Council para tornar essa meta uma realidade.
A presidente da SBPC finalizou a conferência dizendo que o século XXI apresenta grandes desafios para a ciência e a tecnologia, e o Brasil precisa estar preparado para enfrentar esses desafios.
(Fabíola de Oliveira/SBPC)