Trabalhando na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) desde 1974, a secretária executiva Eunice Personini, mais conhecida como Nicinha, revisitou sua história na instituição e ressaltou as mulheres que tiveram papeis importantes em sua vida, dentre elas, as três presidentes mulheres da SBPC – psicóloga Carolina Bori, bioquímica Glaci Zancan e a biomédica Helena Nader. Nicinha foi participante da mesa de abertura da Jornada da SBPC no Dia Internacional das Mulheres, realizada nesta terça-feira (08), de forma online (ver mais aqui.)
A história registrada em fotos na Mesa de abertura “8 Mulheres e a SBPC” – Nicinha e 7 Diretoras – está disponível no canal da SBPC no YouTube.
Nicinha lembra que quando começou a trabalhar na SBPC era a primeira vez que a entidade contava com duas mulheres na Diretoria – Carolina Bori e Eliane Elisa de Souza e Azevedo, ambas como secretárias. Antes, Olga Baeta Henriques tinha sido secretária entre os anos de 1961 e 1963.
Ao falar de Carolina Bori, Nicinha lembra que a pesquisadora foi membro da Diretoria por 18 anos, sendo dois mandatos como secretária (1973-75/1975-77), dois como secretária-geral (1977-79 e 1979-81) e um como vice-presidente (1981-83/1983-85). Em 1987, Bori foi a primeira mulher eleita para presidente. “No entanto, ela já ocupava a posição como presidente interina desde 1986, quando o presidente Crodowaldo Pavan foi chamado a ocupar a presidência do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Lembro que nestes 18 anos na Diretoria, sua presença na sede era quase diária. Sua dedicação ao trabalho era inacreditável. Ela saia da USP (Universidade de São Paulo) e ia para a sede da SBPC, que na época ficava na rua Pedroso de Morais, de ônibus e lá ficava até altas horas respondendo a mão todas as cartas recebidas”, comenta.
Nicinha lembra ainda que o período que Bori esteve na Diretoria o País passava por uma Ditadura. “Foram momentos turbulentos. Muitos professores, cientistas e estudantes eram perseguidos, torturados e exilados. Mesmo assim, ela teve um papel fundamental em 1977 quando o governo militar tentou proibir a realização da Reunião Anual. Foi ela (Bori), junto com o então presidente da SBPC Oscar Sala, e o secretário-geral Luiz Edmundo de Magalhães que negociou e conseguiu que o evento fosse realizado na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)”, afirma.
Segundo Nicinha, Bori foi uma grande incentivadora das Secretarias Regionais, criando diversas delas. “Quando ela saiu da diretoria, em 1989, integrou o conselho efetivo da Sociedade e recebeu o título de presidente de honra. Ela sempre foi uma referência para a SBPC e quando era consultada em momentos difíceis, nunca se furtou a ajudar. Até hoje, nos momentos complicados e de dúvidas, me pego pensando o que diria a doutora Carolina”, comenta.
Ao falar da segunda mulher a assumir a presidência da SBPC, Glaci Zancan, Nicinha afirma que a cientista foi conselheira de 1991 a 1995 e esteve na Diretoria por 8 anos, sendo dois mandatos como vice-presidente e dois como presidente (1999-2003). “Figura frágil, com 1,53 metros de altura que se tornava gigante por sua competência, vigor e determinação. Morava em Curitiba, mas era muito presente na SBPC e falava conosco diariamente. Ela teve um papel fundamental na aproximação das sociedades científicas com a SBPC, chamando-as para discussões e democratizando o debate de questões sobre educação, ciência e tecnologia. Se empenhou arduamente para resolver os problemas financeiros que a SBPC enfrentava na época, especialmente com a edição da revista Ciência Hoje. Glaci era destemida e perseverante na defesa da ciência, tecnologia e inovação com posições firmes e independentes”, afirma.
A terceira mulher presidente da SBPC foi a biomédica Helena Bonciani Nader. “Foi da Diretoria por 10 anos, sendo quatro como vice-presidente (2007-2011), mas em fevereiro de 2011 assumiu interinamente a presidência quando o então presidente Marco Antonio Raupp foi chamado à assumir a presidência da Agência Espacial Brasileira, e foi eleita presidente por três mandatos (2011-2017)”, comenta.
Quanto ao papel de Nader à frente da SBPC, Nicinha ressalta sua luta pela democracia, seu empenho e garra pela recomposição do orçamento de ciência e tecnologia que em sua gestão sofreu vários cortes, provocando quedas no sistema educacional e científico do País. “Ela buscava fontes, tinha um conhecimento apurado de todos os números e assim argumentava fortemente. Para fortalecer as ações e manifestações de ciência, inovação e tecnologia estabeleceu várias parcerias com entidades, além das sociedades afiliadas da SBPC”, lembra.
Nicinha lembra que Nader estreitou a parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC), além de estabelecer contatos com sociedades científicas estrangeiras como a American Association for the Advancement of Science (AAAS), Associação Europeia para a Promoção da Ciência e da Tecnologia (EuroScience), e a Associação Chinesa de Ciência e Tecnologia (CAST).
“Foram muitas as batalhas que a professora Helena enfrentou bravamente, mas vale destacar a criação do Marco Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação, aprovado em 2015. Ela participou de inúmeras reuniões na construção do texto, conversando com entidades. Ressalto também sua luta pela inclusão do termo ciência básica no texto. Ela não deixava e não deixa passar nada. É uma pessoa alerta e cuidadosa, que briga incansavelmente pelas boas causas”, observa.
“Eu não seria capaz de fazer justiça das ações dessas mulheres. Tenho muito orgulho e gratidão por ter convivido com elas e de trabalhar nessa sociedade que luta pela não segregação e que luta por um mundo mais justo e igualitário e que está sempre atenta a diluição da discriminação de gênero”, finaliza.
Veja as atividades da parte da manhã da Jornada no canal da SBPC no YouTube.
Jornal da Ciência