Em cerimônia virtual no dia 8 de março, encerrando a Jornada no Dia Internacional das Mulheres, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) lançou o Grupo de Trabalho Mulheres Cientistas (GTMC). Coordenado pela premiada cientista Vanderlan Bolzani, o GTMC tem por objetivo discutir questões relacionadas às mulheres e seu papel na ciência brasileira e mundial.
O grupo é composto por sete cientistas destacadas, líderes em suas áreas, de diferentes faixas de idade e áreas de atuação, representando todas as regiões do país. Além de Bolzani, estão no grupo a médica e bióloga Selma Maria Bezerra Jerônimo; a ecóloga Maria Teresa Fernandez Piedade; as químicas Márcia Foster Mesko e Marilia Valli; a historiadora Joana Maria Pedro e a bióloga Germana Fernandes Barata.
Para Vanderlan Bolzani, o papel de liderança das mulheres que compõem o GTMC é importante principalmente nesse momento de pós-pandemia. “Com tantos problemas sociais, econômicos (…) a ciência, a tecnologia e inovação são as armas mais preciosas para incluir uma sociedade como a nossa”, afirmou a coordenadora do grupo, que também é conselheira da SBPC. E completou: “Temos um potencial enorme e não podemos perdê-lo. Quanto mais mulheres e homens trabalhando juntos, por um país melhor, mais incluído e educado, melhor”.
Diretora do Instituto de Medicina Tropical da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (IMT/UFRN) e professora titular do departamento de Bioquímica da instituição, Selma Jerônimo comentou: “Não queremos fazer diferença entre qualquer gênero, precisamos é de boa ciência e incluir todos”.
Pesquisadora titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Maria Teresa Fernandez Piedade disse que dos mais de 150 alunos que orientou, no mínimo 70% são mulheres, mas que a maioria delas termina em posições inferiores às possibilitadas pela formação que tiveram. “As mulheres com capacidade de liderança certamente são de alguma forma impedidas de exercer seu potencial maior, talvez por questões de maternidade que não são consideradas como deviam”, afirmou.
Márcia Foster Mesko, professora do programa de pós-graduação em Química da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), reiterou que, por sua diversidade, o GTMC poderá ser um instrumento na luta contra as desigualdades, que se acentuaram com a pandemia. “O GT pode pensar estratégias, obter apoios políticos, unir forças e conquistar espaços”, disse.
Para a bióloga e divulgadora científica da Universidade de Campinas (Unicamp), Germana Fernandes Barata, o GTMC deve atuar para ampliar a voz das mulheres na divulgação da ciência, contribuindo assim para avançar no conhecimento. “As mulheres cientistas são menos procuradas pelos jornalistas para dar entrevistas, uma das explicações é que o jornalista procura o líder do grupo, o diretor de um departamento ou de um laboratório que são as áreas onde as mulheres vão ‘desaparecendo’ devido ao ‘teto de vidro’ que nos impede de avançar”, ponderou.
Mais jovem entre as componentes do GTMC, Marilia Valli acredita que uma das principais ações do GTMC seja promover discussões sobre os grandes obstáculos ao avanço das mulheres cientistas. Pesquisadora e orientadora de pesquisas de pós-doutorado no Laboratório de Química Medicinal e Computacional (LQMC) da Universidade de São Paulo (USP), Valli destacou a valorização de conquistas já obtidas em questões como a licença maternidade de pesquisadoras. “Não podemos perder as conquistas que já tivemos porque elas não são eternas”, alertou.
A historiadora Joana Maria Pedro, que é professora do programa de pós-graduação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), não pode comparecer ao evento de lançamento. Em breve, garantiu Bolzani, será marcada a primeira reunião de discussão do grupo.
Jornal da Ciência